Quatro

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Foi um sonho. Agora ela sonhava com aquela garota.

E a caixa em seus braços? Ela não lembrava de ter dormido com ela. Ela nem lembrava de ter subido para o quarto sobre as próprias pernas.

Idiota. Claro. Ela adormeceu no sofá. Nos braços do pai.

- Pai - Gritou saindo do quarto e desceu as escadas. - Pai.

Ele estava na cozinha.

- Aurora, o que houve? - Ele parecia aflito.

- O senhor me levou para a cama? - Perguntou sentando-se em uma cadeira.

- Nossa, filha. Você quase me matou de susto. Pensei que a casa tivesse pegando fogo - Ele voltou para a pia onde lavava algumas louças. - Sim, querida. Você não acordava de jeito nenhum.

Certo. Agora a pergunta mais importante.

- O senhor também quem colocou a caixa da mamãe na minha cama?

Ele hesitou.

- Não, Aurora. Deve ter sido você em algum momento.

Será? Estranho. Ela não conseguia lembrar de ter acordado e ter pego aquela caixa.

A única explicação que sobrava era o seu sonho.

Ah, porfavor. Isso não fazia sentido.

Mas o sonho fora tão real.

- Você está bem, querida? - Otávio interrompeu seus pensamentos.

- Sim, pai. Eu vou me arrumar para ir para escola agora.

Talvez ela esteja ficando maluca. Essa sim seria uma explicação lógica. Se bem que, desastrada como ela era, fosse até normal esquecer de fazer uma ou duas coisas.

Depois de se vestir adequadamente para ir a escola, voltou para a cozinha.

Novamente ignorou o café, preferindo cereal e uma fruta. Seu pai reclamou, disse que ela deveria comer mais.

Mas esses são os pais, não é?

Sempre tão preocupados.

Pelo menos ele não ficou enchendo a paciência recitando um monólogo sobre a importância de uma boa alimentação.

Ele era um pai que dava espaço. E tudo o que Aurora queria era espaço para pensar.

Otávio ofereceu levá-la até a escola, mas para isso ele teria que primeiro fazer um caminho que não era o dele. E ela não ia deixar que ele se atrasasse por causa dela. Ela preferia perturbar outra pessoa.

- Tudo bem, pai. Annabella vem me buscar. - Tranquilizou enquanto ele saía de casa segurando uma folha de papel entre os lábios e procurava a chave do carro dentro da bolsa.

- Tem certeza? Posso... - Tentou falar com a folha na boca.

- Sim, pai. Pode ir.

Ele ainda estava entrando no carro quando ela pegou o celular e ligou para a amiga.

Annabella atendeu no primeiro toque.

- Você está bem? - Perguntou antes que Aurora tivesse a chance de falar.

- Claro que sim - Ela revirou os olhos mesmo sabendo que Annabella não podia ver. - Pode vir me buscar? Parece que estou atrasada.

- Claro - Aurora ouviu no fundo o som do carro sendo ligado - Chego em um segundo.

Um segundo seria impossível até para Annabella, que Aurora pensava poder fazer qualquer coisa. Mas em surpreendentes dois minutos a amiga buzinou na porta dela.

Os Diários Perdidos - AuroraOnde histórias criam vida. Descubra agora