Capítulo 03

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Era uma quarta-feira a noite. Pedi folga no meu trabalho para fazer um jantar especial para os meus pais, principalmente para o meu pai. Minha mãe disse que ele queria conversar comigo, resolver tudo entre nós. Desde que larguei a faculdade de Direito, nosso relacionamento nunca mais foi o mesmo. Na verdade, acho que a faculdade era a gota d'água que faltava para arruinar o nosso relacionamento entre pai e filha; que nunca foi um dos melhores.

Minha mãe estava entre ele e eu ou seja: na linha de fogo. Ele não me olhava, não me dirigia uma palavra. Apenas mexia na comida como se estivesse a examinando. Quando não, estava resmungando alguma coisa.

- Então é isso que você quer? - perguntou ele, finalmente me olhando.

- É. - digo, bebendo um gole de vinho.

- Não entendo como você ver futuro nisso. - diz ele, minha mãe me olha como se quisesse me dizer "vê o que você vai falar!"

Mas por que ela queria que eu ficasse calada? Eu que estou sendo atacada. Meu pai vem até minha casa e diz o que quer comigo e eu devo ouvir tudo calada?

- Saiba que esse apartamento não é pago com o seu dinheiro. - digo. - Eu não peço nada a vocês, principalmente a você, pai. Eu só queria que você aceitasse a minha decisão.

- O Matthew nunca faria isso.

- Acho que é meio difícil dizer o que o Matthew faria ou não, já que ele está morto. - minha mãe arregala os olhos.

- Lau...

- E lamento todos os dias da minha vida, por meu filho está morto e você não. - dissera meu pai. Sim, aquele homem é meu pai e me dói ouvir ele dizer que me preferia morta, sua própria filha; sangue do seu sangue.

Matthew era meu irmão mais velho. Na época que as coisas aconteceram, eu tinha onze anos e ele dezessete. Era Halloween e estávamos por perto do nosso bairro, voltando para casa. Matthew sempre cuidou de mim, sempre foi o menino dos olhos do meu pai; dos meus pais. Quando chegamos em casa, eu queria mais doces, já que ainda era cedo, mas, o Matthew disse que não era uma boa ideia, porque já estava tarde e nesse horário só teriam bêbados. Meus pais falaram a mesma coisa e acrescentaram dizendo que eu já tinha mais doces do que eu conseguiria comer.

Eu poderia ter ouvido, ter ficado no meu quarto. Mas não, eu queria sair e pedir mais doces, então sai escondida. Eles realmente estavam certos, aquele horário no nosso bairro, na noite de Halloween não era nada amigável. Eu estava a duas quadras de distância quando tudo aconteceu: eu estava brincando com um grupo de crianças enquanto um grupo de homens se aproximou.

Todas as crianças saíram correndo, mas eu travei. Não sabia o que fazer, para onde correr. Mas o Matthew por ser o melhor irmão mais velho do mundo, veio em minha defesa. Ele provavelmente havia percebido que eu havia saído, e me seguiu. Ele acabou se envolvendo em uma briga nada justa de seis contra um, ele até que estava levando a melhor, mas eram seis.

Um deles lhe deu um soco, o fazendo se desequilibrar e ir parar na rua no exato momento em que carro ia passando. Matthew teve traumatismo craniano e morreu horas depois. Meus pais ficaram revoltados, indignados principalmente comigo porque eu fui a causa dele ter voltado para as ruas na aquele horário.

Eu tenho uma tatuagem em "sua" homenagem: II Forever! Mostrando que antes de mim, havia uma pessoa muito melhor, que merecia o mundo. Eu não estou dizendo que não sou a culpada pela morte do meu irmão, só que dói em saber que meu pai, o homem que tem o sangue correndo em minhas veias me preferia morta no lugar do meu irmão.

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