Capítulo 3

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"A onça vira casaco,
A cana vira bagaço
O boi gordo vira vaca,
O boi magro vira laço
Moça pra virar mulher
É só cair nos meus braços."

— Rimas de Rodeio, Mocóca & Paraíso

Babi

— Já se conhecem? — Sou despertada pela curiosidade do meu pai entre nós dois.

— Sim. Ele é peão na fazenda do meu ex. — Torço os lábios no final, deixando claro o descontentamento.

— Do Queiroz? Que coincidência. — Cesar bate palmas, dissimulado.

Ele nunca se recuperou completamente do fato de a filha ter perdido, segundo ele, o quase noivo para uma caipira de Palomino. Mal sabe ele que o maior motivo do afastamento entre Gui e eu tenha sido o próprio, com a insistência de um casamento.

Meus olhos não desviam do desafio transparente na íris do peão. Sinto meus lábios repuxarem sutilmente para o lado, quase não contenho o semblante cínico que surge instantaneamente.

— Não trabalho mais na fazenda. Agora sou peão de montaria. — A entonação arrastada, do típico sotaque interiorano.

Sua voz sempre despertou algo incomum dentro de mim, como se o tom grave do seu timbre se conectasse com algo dentro do meu peito e fizesse meu coração bater compassado com seu discurso.

— É mesmo? Que interessante. E veio se aventurar no torneio de Águas Claras? — Puro e simples sarcasmo.

— Não, filha. Lucio é meu convidado a participar. Na verdade, ele é a estrela do torneio, pessoas virão de todos os lugares só para ver o bicampeão da PBR. — Cesar abre um sorriso genuíno, à medida que o meu morre nos lábios, conforme discursa.

— Esse homem é uma lenda, moça. — Um homem traiado, assim como Lucio, aparece ao seu lado, batendo uma mão sobre seu ombro. — Muito prazer, me chamo Maldonado. — Um riso amistoso e a mão estendida em minha direção.

Desvio do embate visual criado com o peão arrogante, encaro sua tentativa de cumprimento e subo os olhos para o sujeito. Cecília retorna e salva o homem de um momento muito constrangedor.

— Toma sua água. Boa noite, sou Cecília. — Ela me entrega o copo e cumprimenta o homem com a outra mão.

— Maldonado. — Ele sorri, contido.

— Então, o peão de Palomino chegou ao topo? — Encaro o homem arrogante à minha frente, com altivez.

— Ele chegou, sim, moça. Se tornou uma lenda no meio do rodeio — o amigo responde em seu lugar.

— Impressionante, para quem só sabia escovar cavalos. — Entorto o rosto para o lado.

— Ah, eu sei fazer bem mais que alisar uma crina, e a moça sabe disso.

Volto meus olhos repentinamente em sua direção, o sarcasmo enfeitando sua face, enquanto a minha só mostra a raiva recém-desperta.

— Filha, Lucio é um homem de muito valor e já adianto, vocês dois terão um papel fundamental juntos durante o torneio.

— Do que você está falando? — Jogo minha raiva para cima de Cesar.

— Amanhã conversaremos melhor sobre isso. Agora, aproveitem a festa e não esqueçam de tirar algumas fotos juntos, para os jornais locais.

Está mais do que claro que o peão e eu não nos damos bem, até Cesar percebeu e desconfio que usou a oportunidade para me torturar um pouco mais.

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⏰ Última atualização: May 20, 2021 ⏰

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