Capítulo 1

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 "Na segunda eu bebo em casa,

Na terça eu vou pra gandaia,

Na quarta vou pra fazenda

Levando meu chapéu de paia,

Na sexta eu volto e

Caço uns rabos de saia!"

(Anônimo)

LUCIO

Tum-dum.

Tum-dum.

Tum-dum.

O animal abaixo de mim se rebela, ainda no brete, faz várias tentativas de salto, meu corpo sacoleja batendo nas grades de contenção das laterais. Meu amigo, Maldonado, segura meu colete com firmeza, na tentativa das pancadas não me prejudicarem.

Quando o animal se acalma, fecho os olhos por alguns segundos, o momento de me conectar com aquele ponto específico, onde nada mais importa, paro de escutar a multidão ovacionar, a voz do locutor desaparece, a equipe de apoio em volta deixa de existir e meu foco se torna o movimento das minhas pernas na barriga do boi, sentindo sua respiração.

Tum-dum.

Tum-dum.

Tum-dum.

A partir daqui entro em um mundo paralelo, não existe dor, medo, expectativa, nada mais importa, o embate será entre mim e o touro, quem consegue vencer os oito segundos de disputa.

Eu, lutando para permanecer em cima, e ele fazendo tudo que pode para me derrubar no chão. Uma tonelada contra oitenta quilos, soa injusto, ao menos não sou eu que tenho uma corda apertando minha virilha.

Tum-dum.

Tum-dum.

Tum-dum.

Coloco o protetor bucal que me é ofertado, optei por não usar o capacete, quero uma final bonita, entrar na arena como um verdadeiro cowboy, uso meu chapéu creme, aliso a corda americana com a luva, sentindo a aderência aumentar, dou uma volta em torno da alça, encaro o juiz acima de mim, pronto para soltar o cronômetro, e aceno.

Um pequeno filme passa em minha mente, sempre que faço o movimento para liberar a prova. O garoto montado em bezerros, fingindo domá-los e sonhando um dia ser o herói que enfrenta o touro feroz e temido. Todo peão tem um pouco do sonho de ser herói. O invencível, imbatível, o super-homem que enfrenta o perigo com um sorriso nos lábios.

Tum-dum.

Tum-dum.

Tum-dum.

Tudo a partir daqui sempre acontece em câmera lenta, a porteira é aberta, minha mão solta da grade, o aperto da luva é intensificado, o animal dá seu primeiro salto para o lado, nos colocando juntos dentro da arena.

A mão de equilíbrio esticada para cima, longe do contato com o boi ou comigo mesmo, mais um salto para o lado oposto, meu corpo retorce, mas consigo manter o embalo.

Meus dedos queimam dentro da luva, o braço que mantém o agarre está totalmente tensionado, rijo, a manga dobrada até o cotovelo deixa as veias sobressalentes à vista.

Tum-dum.

Tum-dum.

Tum-dum.

Outro salto alto joga meu corpo para frente, preciso lutar contra o impacto, forçando meu tronco a voltar ao eixo quando o bicho vira para o outro lado e muda completamente meu ponto de equilíbrio.

[Degustação] Na Pegada do Cowboy - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora