"Eu nunca vi mudo falar,
surdo escutar,
cego enxergar
Mas já vi muita mulher baixinha
fazer homem grande chorar"
— Marco Brasil
Babi
Não há nada mais prazeroso na vida do que entrar nas lojas exclusivas e comprar a nova coleção, antes mesmo de ser disponibilizado para o público. Isso é para poucos e eu faço parte do grupo seleto.
Cecília, uma amiga que cresceu comigo na fazenda, está me visitando na capital, aproveita as férias do curso que faz e fica comigo aqui.
— Você já não deveria ter terminado essas aulas? — Gesticulo para o ar, quando não lembro por qual profissão optou.
— Tô acabando já. Último ano.
— Sei. — Torço os lábios, pouco interessada.
Passo alguns cabides pendurados em uma arara à minha frente, peças tediosas, quase iguais as que já tenho em algum lugar do meu closet. Varro os olhos pela loja, na tentativa de encontrar algo que desperte meu bom humor, mas só encontro os sorrisos engessados das atendentes.
— Encontrou algo que lhe agrade?
— Só esta blusa, mas eu achei meio cara. — Cecília tem o bom senso de aproximar a boca próximo do meu ouvido, para sussurrar o disparate.
— Deixa eu ver isso. — Tomo a peça das suas mãos e encaro a etiqueta. — São só três dígitos, não é cara. Pode levar.
Deixo minha amiga com os olhos imensos e a boca aberta em choque, entrego a peça para a atendente mais próxima, junto com o meu cartão de crédito ilimitado.
— Ainda acho meio...
— Shiu! — A olho de soslaio — É presente.
A funcionária demora mais do que o habitual para solicitar a senha, tamborilo as unhas, bem-feitas, sobre o balcão e ergo uma sobrancelha, questionando a demora.
— Senhorita Araújo, a compra foi recusada. — Ela estende o cartão de volta para mim.
— Impossível, querida. É ilimitado. Tente outra vez.
— Já testei duas vezes, senhorita.
— Pois, teste mais uma vez — falo baixo, mas a voz sai impositiva.
— Senhorita, a política da empresa pede que...
— Que se dane sua política! — esbravejo.
— Calma, amiga. Não precisa levar a blusa, liga pra operadora do cartão e resolve isso. — Cecília toca meu braço.
Respiro fundo, reúno toda a paciência e educação que me foi dada, sorrio complacente, como se não houvesse elevado a voz há menos de um minuto.
— Obrigada. — Pego o cartão e jogo dentro da bolsa.
Ao sair da loja, marcho determinada com o celular em punho e disco o número que evito a todo custo precisar ligar.
— Pai.
— Filha, querida. Em que posso lhe ser útil?
— Meu cartão foi negado.
— Ah, sim. Precisamos conter gastos e, você sabe, os seus são totalmente desnecessários.
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[Degustação] Na Pegada do Cowboy - Livro 1
RomanceSinopse Uma decepção amorosa levou o peão de Palomino, Lucio, para caminhos gloriosos e bem distantes da cidade natal. Depois de cinco anos como peão de montaria profissional, dois títulos mundiais conquistados, Lucio retorna para o Brasil com a pro...