Doeu perder você.

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Eu me entreguei a você sem pensar, porque eu se eu tivesse pensado, talvez nada disso teria contecido. eu estava cansada de mim quando te conheci, meu único sonho de consumo era um leito de hospital cheio de sedativos, eu nem suspeitava que o único remédio era me permitir ser conduzida. E eu fui, você passeou pelo meu copo, pela minha alma, pelo meu coração, e eu fui te seguindo se me dar tempo de percber aonde eu estava pisando.
Você não me enganou, eu que adorei ser enganada por mim mesma. Eu deixei me levar por tudo o que não era eu, ou o que deveria ter sido eu à uns dois, três anos atrás. Coisas que eu achava brega, começaram a se tornar divertidas, acordar com pétalas de rosas pelo chão, era hilário. Tínhamos um gosto musical muito parecidos, mas ao mesmo tempo tão diferentes.
Você dizia que me adorava, que me amava, nossa como me amava... e eu também me amava quando estava com você, mas de repente esse amor que ambos sentiam por mim, sumiu.
você me dava toda felicidade do mundo, mas logo em seguida da sua partida, essa felicidade foi embora junto com você.
Eu te contei sobre as minhas tentativas de suicídio, te contei sobre meus amores passados, sobre os meus traumas mais obscuros e você tinha prometido que iria fazer isso tudo ficar no passado, você prometeu que iria ficar comigo, mas cadê você agora?
Já se passaram seis meses após a sua partida, e ainda me lembro exatamente de tudo. Me doeu perder você, e ainda dói.
É uma dor recorrente na minha vida, é um sofrimento tão clássico, como aqueles narrados em livros, em filmes e canções e por mais que eu não quisesse me lembrar, alguém acabaria lembrando por mim. É uma dor que se externa, é uma dor que se chora, se berra, que se reclama. Uma dor que tentamos compreender em voz alta, uma dor que levamos para os consultórios dos analistas, uma dor que carregamos para as mesas dos bares, e ela vem junto comigo para a solidão da nossa cama, para o escuro do nosso quarto, aonde permitimos que ela transborde sem domínio, sem verbo. A dor massacrante do abandono, da falta de ligações, a falta dos beijos, a falta de confidências. No entanto, perdem-se um homem, perdem-se uma mulher, mas o amor continua ali, mesmo sendo deflagrador do vazio. Por mais estranho que pareça, há uma sensação de pertencimento, algo que ainda está conosco. A saudade ainda é uma presença, só que ela é vivida em silêncio. O que acontece é que chega uma hora que ninguém mais aguenta ouvir a gente, entoar nossa sina, lamentar nossas más sortes, procurar explicações para o fim. É quando a gente se dá conta que já abusou demais da paciência dos amigos, dos familiares, e acaba se calando.
Sofrimento cansa. Não só cansa aquele que sofre, mas também aqueles que o assistem. Eu não conseguia me imaginar colocando outro alguém no teu lugar, formando um novo par comigo. Eu precisava entender como que se diz "eu te amo" para alguém com tanta transparência, com tanta integridade e  logo em seguida tranferir essa frase para outro destinatário, com a justificativa de que é apenas o curso natural dos acontecimentos.
Em que momento o amor se desfaz e se desaparece? Quando eu era criança, eu ouvia muito falar que o amor era para sempre, quando ia em cerimônias de casamentos e ouvia o padre falando "até que a morte os separe". Naquela época, nem se passava pela minha cabeça que era possível amar várias pessoas durante uma vida. Eu acreditava que o amor era único, indissolúvel. Inclusive achava muito transgressora aquela história de "até que a morte os separe". Não entendia como uma viúva, por exemplo, alguns anos após a sua perda, já estava casada com outra pessoa. Como? Então bastava ela deixar de ver o finado que o seu coração estava livre para amar outro alguém?
O amor termina apenas para aquele que morre, quem sobrevive se dedica a um breve luto e depois pode voltar pra vida. E voltar pra vida significa quase sempre significa voltar a amar. Sendo assim, aos poucos fui aprendendo que somos aptos a amar muitas vezes, de diversas formas. Amamos A, amamos B, Amamos C, e por alguns nem era amor, e sim entusiasmo, e se sabe lá de quanto entusiasmos somos capazes. O amor é o mais nobre dos sentimentos.

Eu irei te amar da mesma forma que Vincent Van Gogh amou a cor amarelo.Onde histórias criam vida. Descubra agora