Capítulo 3

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ฅ^•ﻌ•^ฅ

Desde que eu me entendo por gente, sempre foi Mariana e Anthony ou Anthony e Mariana. Nunca foi só o Anthony ou só a Mariana. Nós dois éramos uma dupla inseparável e cúmplice. Anthony era tudo para mim.

Eu ainda me lembrava que na formatura do ensino médio, meu par havia me dado bolo e Anthony havia feito questão de dispensar o seu par para me acompanhar. Naquela noite nós dançamos, fizemos pegadinhas e brincamos um com os outros.

Na maioria dos momentos mais importantes da minha vida, Anthony estava presente. Me dando apoio e sendo um ombro para eu chorar caso fosse necessária.

Mas tudo isso acabou e tudo desmoronou na minha cabeça quando eu recebi uma ligação às sete e vinte da manhã de uma quinta feita. O policial do outro lado da linha informou que meu irmão e a esposa dele haviam sofrido um acidente grave, os dois haviam falecido no local.

Meu irmão estava morto.

Segundos após a notícia, eu já estava correndo para o banheiro e vomitei tudo o que eu tinha comido na noite anterior, depois eu chorei. Chorei como não chorava desde a morte dos meus pais. Posso arriscar a dizer que eu chorei até um pouco mais.

Meu peito queimava como fogo, minha cabeça doía e eu só conseguia chorar desesperada. Eu sentia que havia sido dilacerada sem dó ou piedade. Parecia que uma parte de mim havia sido arrancada, e de fato isso havia acontecido.

Um bêbado maldito arrancou do meu irmão.

Anthony e Elizabeth tinham ido comemorar seu aniversário de dez anos de casados. Na volta, uma picape ano 2016 se chocou de frente com o carro do meu irmão, a força foi tão forte do impacto que o carro ficou irreconhecível após o acidente. Os três morreram na mesma hora.

O enterro de Anthony Matthew Maciel aconteceu dois dias depois. Não houve muitos familiares no velório e sim muitos conhecidos. Eu nem pude me debruçar sobre o caixão e chorar a sua morte por seu corpo ter sido desfigurado e o caixão ter sido fechado.

Nesse mesmo dia eu chorei mais uma vez vendo o caixão do meu irmão sendo colocado na cova. E pela primeira vez, eu não tive um ombro amigo para poder chorar e deixar a dor tomar conta.

Fiquei inconsolável por exatas duas semanas até que me lembrei das palavras de Anthony dizendo: "se um dia eu morrer primeiro que você, não quero que fique chorando. Quero que você erga a cabeça e siga enfrente. Sinta a dor do luto porém não permita que ela te consuma novamente e seja forte. Eu te amo até o fim do universo." E assim eu diz, eu ergui a cabeça e me forcei a voltar a minha rotina de trabalho, mesmo sentindo vontade de me afundar na cama e nunca mais sair.

[...]

Seguro a foto onde Anthony me erguia sobre seu ombro. Ele estava usando sua jaqueta do time de futebol e eu usando minhas roupas despojadas que eu costumava usar. Nós tínhamos um sorriso no rosto e quando menos percebo, as lágrimas voltavam a escorrer por minha bochecha.

Eu estava me sentindo sozinha. Minhas amigas não apareceram para tentar me ajudar ou perguntar se eu tava bem. Luana havia me mandado mensagem me convidando para beber e quando eu disse que não estava no clima, ela apenas disse: "que pena, na próxima te chamo. Se precisar de algo, eu estou aqui" e desligou.

Agora eu estava deitada no chão do meu apartamento, com a foto em mãos e uma garrafa de refrigerante ao meu lado. Eu sabia que Anthony não iria gostar de saber que eu estava me embebedando e por esse motivo, optei por uma bomba de açúcar.

Não sei em qual momento eu chorei até dormir abraçando aquela foto mas ao acordar, me sinto pior que antes por ter dormido naquele chão duro e gelado.

Querido DavidOnde histórias criam vida. Descubra agora