A Sala dos Corpos

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Segunda-feira. 20 de março de 1603. 9:00h

O local é uma antiga sala de música. E ao todo... nove cadáveres a ocupam. O cheiro de sangue, urina, vômito e fezes é nauseante e os corpos... a maneira como se encontram... é simplesmente absurda. Uma chacina sem sentido causada por um monstro. E o pior? Eu sei que todos eles eram músicos. ELES ERAM MÚSICOS! COMO EU! Ah, meu Deus...

Todos tiveram suas mãos e orelhas amputadas. Gargantas cortadas. Cada osso do corpo foi... estraçalhado. Cada um deles estava sobre uma poça de sangue. Seus corpos foram abertos e seus órgãos... estavam espalhados por toda a sala.

- Ah, Santo Deus... - empurro a rainha com brutalidade - O QUE VOCÊ FEZ?! O QUE FEZ?! - e vomito de novo - Todos esses músicos... Eu devia ter imaginado! Leandro e eu nunca devíamos ter aceito essa droga de convite! - e comecei a recuar - Eu vou embora. Vou chamar o Leandro e nós vamos embora! Contarei tudo a ele e não vai ser você que vai me impedir!

- Sr. Potter! - ela grita.

- NEM MAIS UMA PALAVRA! Escuta aqui: eu não me importo se você é rainha, tá legal?! Não me importo se sou só mais um músico que você planejava matar! Você NÃO TEM o menor controle sobre mim! Você NÃO TEM...

- EU NÃO OS MATEI! - ela estapeia meu rosto com força. Levo a mão á bochecha em um gesto quase involuntário.

- O quê...?

- Eu. Não. Os. Matei.

Estou ofegante. Com o corpo trêmulo.

- O que houve com eles?

- Meu rapaz... - ela suspira - Quando ascendi ao trono... um monstro começou a devastar a vida deste lugar.

Um o quê?! Não. Simplesmente... Não.

- Isso não é possível.

- Ah, é, caro menestrel. - ser chamado assim enquanto olho para esses músicos mortos, esses poetas, me faz sentir calafrios. Me faz sentir que eu sou o próximo a morrer - É sim. E todos esses músicos tentaram detê-lo.

- O monstro os matou?

- Não, meu rapaz. O que os matou... foi a arma que eles usaram para manter o monstro afastado.

- Arma...?

Ela apenas assente e avança pela sala, passando por cima dos corpos, até chegar num canto onde há um piano. E em cima do piano, ela pega uma flauta. É transversal. Linda. E aposto que meus olhos estão brilhando de admiração agora, porque... ela me lança um olhar de advertência.

- Isto os matou, Sr. Jyonfew.

- Uma... flauta?

- A "Flauta de Sangue". Foi assim que ficou conhecida. Muitos músicos... poetas... acreditaram que esta flauta podia... pode matar esse monstro. E esses músicos que jazem aos seus pés neste instante... todos eles tentaram testar a flauta antes de usá-la contra o monstro e... este foi o resultado.

- E porque está me contando isso?

- Porque eu confio ela a você.

- O QUÊ?! Agora sim eu sei que você quer me ver morto. Ótimo! Mande me enforcar quando quiser.

- Não. - ela tocou meu ombro e pôs a flauta em minhas mãos - Jyonfew, estou te entregando esta flauta porque eu sei que ela não vai te afetar. Eu sei que você vai conseguir matar aquela coisa.

- E como pode ter tanta certeza?

- Porque eu vejo em seus olhos. Dentro de você. Ouça: se um dia precisar tocá-la... não hesite. Toque, entendeu? Vidas serão perdidas, mas se o monstro morrer... este lugar... esta terra pode renascer. É melhor que morramos pela música... do que pelas garras de um monstro. - e me conduz para fora da sala - Agora vá. Encontre Leandro, ensaie... e descanse. A apresentação de vocês será daqui a quatro dias.


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