Já havia passado um pouco das duas da manhã. Anthony deu um gole no energético que repousava em sua mesa bagunçada. Tirou os óculos de grau, esfregando os olhos em uma tentativa de despertar. Não do sono, mas da falta de atenção no projeto que estava desenvolvendo. Olhou a tela brilhante, e sua casa escura de luzes apagadas. Se sua mãe estivesse ali, o daria uma bronca. Com certeza esses comportamentos fodiam sua visão, mas quando tudo estava aceso, parecia que havia luz demais.
Talvez ele apenas tivesse que parar de trabalhar à noite. Por um tempo ele se iludiu com a desculpa de que gostava do silêncio da madrugada. Ou apenas pensou que sua criatividade fluía melhor naquele horário.
Era mentira.
Anthony sabia que fazia aquilo por causa dela.
Para tentar ouvir quando ela chegasse, afinal, ela não era nada silenciosa, principalmente quando estava bêbada.
Pior: na esperança que ela batesse em sua porta. O que, às vezes acontecia. De vez em quando por engano e muitas das vezes, intencional. Outras vezes, e essas eram as piores, ele a ouvia chegar acompanhada. Nessas vezes, Anthony se odiava, por ser um completo babaca.
Kate Sheffield fodia sua mente, e ele odiava não conseguir odiá-la. Odiava que não pudesse culpá-la. Odiava saber que ela pediu para que ele não a amasse e mesmo assim ele o fez.
Ele amava Kate e esse era o seu tormento há quase 2 anos. Porque amá-la era um jogo perdido.
Kate era uma pessoa sem amarras, e qualquer um que se envolvesse na teia dela iria pelo mesmo caminho. Seus exes a odiavam. Ela era malditamente encantadora, sexy e apaixonante. Ela sabia disso, e sabia muito bem. Kate tinha um grande histórico de corações partidos sob suas costas. Era charmosa como o diabo, e a maioria dos homens não resistiam a ela.
Nem ele.
E com ele, ela sequer se esforçou. Anthony caiu na teia dela por livre espontânea vontade. Quando sugeriu que eles ficassem, ela negou. Kate tentou explicar que não queria misturar as coisas com ele. Mas ela misturava as coisas com todo mundo. Anthony não sabia de amigos com quem ela não tinha ido pra cama.
Porque com ele era diferente?
De qualquer forma, não seguiu diferente por muito tempo. E ele não sabia dizer se aquilo era bom ou ruim.
2:47 da manhã.
A campainha dele tocou 3 vezes.
Anthony sabia quem era. Ele abriu a porta e Kate se esgueirou para dentro de seu apartamento, parando na sala e sorrindo.
— Você devia dormir, Anthony. Está tarde. - ela se aproximou devagar. O jeito que Kate dizia o nome dele o fazia estremecer. Era como um canto, as sílabas brincavam na língua dela.
— E ainda assim, você está aqui. - ele constatou.
— Estava voltando de uma festa e vi a luz do seu computador acesa. Isso faz mal pras vistas, sabia? - ela foi até a enorme janela da sua sala, e se sentou jogando as pernas para o lado de fora. Ela sempre fazia aquilo, por isso, Anthony não se assustou. Ele foi até ela.
— Tá preocupada com a minha visão agora, Katharine? - Ele parou atrás dela e ela apoiou-se no corpo dele também. Kate riu e jogou seus cabelos castanhos para o lado, encarando Anthony com os olhos escuros cheios de malícia. O movimento dos seus cabelos dispersou o inebriante cheiro de lírios e álcool que ele conhecia bem. O cheiro dela.
— Tô sempre preocupada com a sua visão, Anthony. Quero que você enxergue bem o que faz comigo. - Ela sorriu de lado e Anthony suspirou. Maldita. Será que ela sabia o efeito que tinha sobre ele?
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Arcade
RomancePor quase dois anos, Anthony sufocou seus sentimentos por Kate. Desde o início ele soube onde aquilo daria, e ainda assim foi teimoso o suficiente para prosseguir. Tudo o que ele sabia era que amá-la era um jogo perdido.