Janeiro de 2019
Londres.
Anthony mal podia acreditar que seu sonho finalmente estava tomando forma. Ele iria morar sozinho em Londres.
Puta merda.
Ele cresceu em uma família do interior, com 7 irmãos. Estar sozinho naquela cidade, realizando um sonho, era surreal. Por um bom tempo, Anthony só conhecia os jogos de tabuleiro que jogava com os irmãos.
Até ganhar seu primeiro computador. Um computador velho e capenga, mas que lhe mostrou um novo mundo. Ninguém entendia sua paixão por computadores e jogos de videogames. Ninguém acreditou que aquilo daria em algo.
Nem ele mesmo, às vezes.
Quando desistiu de ir para faculdade para ajudar sua mãe a manter a casa, seu computador era só uma diversão nas horas extras.
Ele nunca imaginou que aquilo fosse virar dinheiro.
Bastante dinheiro.
Dinheiro suficiente para se manter em Londres, e ajudar sua família. O suficiente para as empresas quererem lhe pagar mesmo que ele não fosse graduado.
O jogo havia virado, finalmente.
Bem... sorte no jogo, azar no amor, já dizia o ditado.
Ele já morava há umas três semanas naquele prédio quando ela falou com ele. Eles já tinham se cruzado um par de vezes, sempre que ele saia pra correr de manhã ela estava voltando de algum lugar, normalmente com os saltos nas mãos. Naquele dia, os dois entraram no elevador juntos.
— Vizinho novo? - ela perguntou sorrindo e o examinando. Minuciosamente. Sem vergonha, indecentemente o experimentando com os olhos.
— Não tão novo assim. Tô aqui faz 3 semanas. - Ele deu os ombros, não conseguindo resistir a sorrir.
— Então não deu tempo de ouvir as fofocas sobre a vizinha indecorosa do 303? Que ótimo, talvez eu consiga um... amigo nesse prédio. - ela sorriu. A palavra "amigo" não soava realmente como amizade. Mas Anthony preferiu não acreditar que aquilo era um... flerte?
— Seria bom ter uma companhia pra correr.. - Ele deu os ombros e ouviu a risada melodiosa dela.
— Corrida? Não, amor... você nunca vai me ver acordada a essa hora da manhã para correr. - Ela fez uma careta.
— Não é uma pessoa diurna? - perguntou com ironia, se referindo a roupa de festa amarrotada que ela usava.
— Definitivamente não... - Ela inclinou a cabeça, querendo saber seu nome. A porta do elevador abriu e o diálogo que durou poucos minutos foi interrompido. Ele pôs a mão na porta, deixando que ela passasse na frente.
— Anthony. - respondeu. Os dois se encararam, esperando para saber qual deles seguiria a direção oposta em que seus apartamentos se encontravam.
— Foi um prazer, Anthony Diurno. - ela respondeu, dando um passo para trás, sem tirar os olhos dele.
— Não vai me dizer seu nome? - perguntou quando viu ela ir embora. A mulher riu.
— Eu acho que a curiosidade é mais interessante. Pergunta pra alguém! Eles com certeza sabem muito sobre mim. - ela riu e entrou em casa. Sem olhar pra trás.
Logo, ele ia descobrir que ela nunca olhava.
•••••
Na semana seguinte, as portas do elevador quase se fechavam novamente. Do lado de dentro, Anthony ouviu um pedido feminino para que esperasse. Ele segurou a porta novamente, e ela estava lá.
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Arcade
RomancePor quase dois anos, Anthony sufocou seus sentimentos por Kate. Desde o início ele soube onde aquilo daria, e ainda assim foi teimoso o suficiente para prosseguir. Tudo o que ele sabia era que amá-la era um jogo perdido.