Eu não gostava muito desse momento do dia, era indisponível, repetitivo e enjoativo.
Ensino médio.
Talvez a morte fosse menos dolorida e sofrida do que esses longos anos em que estou passando aqui. Mas olha só você que está lendo esse livro, tão desatualizado e perdido, perguntando-se: "sobre o que caralhos é esse livro?" mas vamos com calma, eu te explico resumidamente antes de partirmos para a real história.
Estamos exatamente nos anos 2224, o mundo onde estávamos estava a se esgotar, estávamos com superlotação em vários países, até que conseguimos a maior conquista do mundo: colonizar outro país em outra galáxia. Claro, não foi algo tão fácil como pensávamos inicialmente, a princípio existe uma "toxina" nesse mundo em que vivemos, chamada COD9IT. Ela desenvolveu um tipo diferente de DNA nos bebês que nasceram aqui, e foi justamente em 2190 que nasceu os superpoderes por aqui.
O mundo todo mudou. Nasceram curandeiros, nasceram pessoas de diferentes aparências, nasceram pessoas com poderes extremamente difíceis de controlar, e também pessoas como eu. Mas obviamente eu ainda não vou te contar quais poderes eu carrego comigo. Pessoas com superpoderes ainda não são bem aceitas no nosso mundo, e pessoas que não o possuem, lutam pelos seus direitos e acham que estamos roubando seus lugares em trabalhos, faculdades e escolas.
Tem pessoas como eu que não dizem à ninguém que possui superpoderes e vivem tranquilamente sem sofrer nenhum tipo de preconceito. No começo foi muito complicado, sofremos bastante, grande parte de nós morreram ou foram capturados pelo governo, mas logo depois de anos de pesquisa, eles perceberam que isso era comum. Agora que já te atualizei o suficiente, vamos voltar para o que realmente importa.
Fique tranquilo (a), você vai gostar muito de mim ainda, pode ter certeza. Sou uma pessoa muito legal, um dos melhores personagens, mas vamos voltar para o interessante. Você não está aqui para conversar comigo, e se estava gostando disso, peço carinhosamente para ir à um psicólogo, gostar de personagens fictícios é um caminho sem volta.
Chegando na escola percebi algo muito diferente, o clima estava diferente, as coisas estavam tão monótonas que os alunos estavam em completo silêncio. Vou andando até o meu armário quando vejo Mike, ele estava estranhamente animado e digo:
- Então, sabe me dizer o motivo de todo esse silêncio em uma segunda-feira? olho rapidamente em volta e pego em sua mão.
- Hmmmm, também não sei muito bem. Porém fiquei sabendo que ontem um grupo de pessoas do grupo de leitura acabou brigando, e um dos meninos estão internados, acho que o clima acabou invadindo com força.
(Peço carinhosamente para que você se acostume com essas aspas e falas marcadas, irei usar bastante para te explicar coisas das quais o escritor não achou necessário pôr na história. Como vocês já viram, esse é Mike. Um amigo que conheci há um bom tempo aqui na escola. Ele tem superpoderes, o poder dele é Teletransporte, mas obviamente ninguém da escola sabe disso. Mike desconfia que tenho superpoderes, até porque nunca me senti intimidado por ninguém, mas prefere não comentar sobre isso. Eu não sou um jovem sozinho com apenas um amigo, conheço todo mundo desse colégio, só não gosto de falar muito. Culpe o escritor por me fazer dessa maneira, voltando...)
- "Entendo". Disse tentando prestar atenção ao redor
- Temos aula juntos agora? Não me lembro muito bem dos horários do colégio. Aliás, eu estive na Grécia ontem, foi bem interessante, nunca tinha ido lá. Decidi dar um
"pulinho" se é que você me entende.
- Não, não temos aula juntos agora. E você foi à Grécia? Você é muito sem ter o que fazer, né? Até quando vai usar isso para benefício próprio e nunca para ajudar as pessoas? Você sabe que não temos muitas pessoas com esse poder por aqui. Disse colocando os livros dentro da mochila e andando lentamente conferindo o horário mais uma vez.
- "Tudo no seu devido tempo". Disse Mike colocando os fones no ouvido, e andando um pouco rápido, olhou para mim e disse mais uma vez:
- "Não melhorou das mãos ainda?" Olhando fixamente para elas como se quisesse tocar.
Sentia um leve desconforto em mentir para ele, não era muito legal, mas eu sabia que ele iria descobrir um dia ou outro que eu iria contar que tinha poderes, só esperava que ele não ficasse decepcionado comigo ou triste, pois ele confiou em mim.
- Ainda não melhorei. Disse em um tom um pouco seco e sem querer estender o assunto.
Mike olhou para mim como se estivesse esperando algo a mais, mas logo percebeu o que eu estava tentando fazer e disse tentando não parecer desanimado:
- "Te vejo na cantina".
Deu meia volta e saiu cantarolando até sua sala, onde a primeira coisa que fez foi tomar uma bronca por estar de fone.
Eu infelizmente tinha de usar luvas em ambas as mãos. Não sei se você sabe, mas não consigo controlar muito bem meus poderes, podemos dizer que eles são poderosos demais para minha mente, e para eu aprender, eu tenho que colocar meu nome em um cadastro do governo para receber auxílio de pessoas como eu que portem o mesmo poder. Mas eu evito ir até lá, secretamente a VIJP (voluntários independentes de jovens com poderes) possuem telepatas espalhados pela sala, e se tiver algum jovem do interesse deles, eles o capturam e ele nunca mais é visto. Claro, isso não passa de um rumor, mas eu prefiro continuar assim, fora da linha de busca.
Entro na sala e avisto a turma reunida, era bem comum antes das aulas todo mundo se reunir para mostrar suas evoluções, suas novas descobertas e se enturmar um pouco. Os adolescentes sem poderes não reagiam muito bem a nós, e isso geralmente causava uma briga e bullying muito forte. Bom, pelo menos a mudança era perceptível.
-" Oi, Hunter". Disse Kate em um tom tão calmo que acabou tranquilizando minha mente em segundos
(Sim, meu nome é Hunter. Tipo... O que caralhos tinha na cabeça da minha mãe, hein? Voltando...)
- "Olá, Kate. Como você está?" Disse enquanto sentava ao seu lado e fitava seus olhos cor de mel.
- "Você sabe que hoje é o dia de tirar sangue, né?" Disse ela cuidadosamente em um tom baixo para ninguém ouvir.
Nenhuma junção de palavras me causou um choque tão grande como essa, por um breve momento entrei em pânico, e senti meu coração ir à minha garganta. Significava que a VIJP estaria no colégio e eu claramente não poderia e nem deveria ir à escola.
(Aliás, Kate é telepata. Ela sabe que possuo superpoderes, mas prefere continuar fingido que não sabe disso.)
- "Você tem que ir embora, Hunter. Se eles tirarem o seu sangue, é o seu fim, e você sabe disso". Disse a mesma com um olhar de preocupação e medo.
-" Eu não posso mais faltar, Kate". Disse um pouco mais alto que o normal atraindo a atenção de alguns da sala.
- "Quanto tempo você acha que vou durar assim? Até eles perceberem que eu falto em toda revisão? Não posso escapar para sempre, talvez se eu conseguir ficar longe o suficiente dos telepatas, eles não consigam me identificar. Eu não estou cadastrado, eles não vão suspeitar de mim". Soltei palavras tão calmas e em um tom tão baixo e tranquilo que por um instante consegui me tranquilizar.
Olho para a Kate rapidamente e pego em sua mão sem encostar todos os 5 dedos e digo pensando:
"Você sabe o que eu tenho, você sabe que eles não têm ninguém assim nos registros. Me ajude, você sabe como me ajudar, eu sei, só você me dizer por telefone quem é o telepata que eu fico na distância padrão para ele não conseguir ler minha mente, eu consigo me distrair tempo suficiente para não pensar nos meus poderes e me passar por um jovem normal.
Nunca vi Kate daquela forma, ela simplesmente me olhou e acenou com a cabeça fazendo um sim, e seus olhos encheram de lágrimas e eu pensei:
"Não chore, eu ainda vou tocar você com todos os meus dedos, eu só preciso aprender como ".
Logo em seguida, a professora entrou na sala e eu automaticamente sentei em minha cadeira. Ela começou a explicar vários assuntos, e Kate passou praticamente a aula toda olhando para mim pensando em mil coisas diferentes. Claro, eu não tinha sua habilidade de ler mentes, mas eu sabia que ela estava mais preocupada comigo do que eu mesmo.
Não prestei atenção nenhuma na aula, fiquei pensando em como eu não iria pensar nos meus poderes, como eu iria ter essa capacidade e qual era o plano. Até que tive uma ideia. Olho para a Kate chamando a atenção dela com as mãos, e em seguida olho para frente, ela foca sua atenção em mim e eu penso:
"E se eu ficar no meio dos que não tem poderes? apenas controlando meus pensamentos, os telepatas não se esforçariam para ler a mente daqueles que não possuem dom, com tantos xingamentos que eles vão soltar para aqueles que fazem o exame durante o intervalo, o meu pensamento pode ficar abafado o suficiente, o que acha? "
Não sabia que ver Kate sorrir era tão satisfatório para mim, logo que vi sua aprovação, me animei mais um pouco. Voltei a elaborar mais um pouco esse plano para que ele esteja tão completo a ponto de que eu saia cem por cento ileso de hoje, só espero que dê certo.
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O sucumbir das mãos
Science FictionEu não gostava muito desse momento do dia, era indisponível, repetitivo e enjoativo. Ensino médio. Talvez a morte fosse menos dolorida e sofrida do que esses longos anos em que estou passando aqui. Mas olha só você que está lendo esse livro, tão...