Sigo andando em direção à próxima esquina, já sabendo do lugar para o qual eu teria que ir: o lado escuro do meu país, o local que foi dominado por pessoas com poderes, e que vive em estado de pobreza, já que aquela parte foi completamente esquecida pelo governo. Pelo menos era o que eu tinha escutado das pessoas da cidade.
Eu não sabia quais eram os planos do Prey, mas eu tinha certeza de que ele precisaria de mim para realizar esses planos. Também sabia que eu teria que enfrentar o Mike, uma hora ou outra, e que precisava me preparar fisicamente e psicologicamente para isso.
Vou seguindo em direção ao norte da cidade, onde havia um portal clandestino que me levaria diretamente para a Terra Sem Fim. Esse foi o adorável nome que os rebeldes decidiram dar para aquele local. Lá ocorre a venda de todo tipo de coisas clandestinas que você possa imaginar: de armas, joias e objetos, até pessoas com habilidades; e, se você conhecer pessoas realmente ruins, você encontra até humanos normais sendo vendidos como escravos... É bem tenso. E, é claro, tem várias lutas clandestinas nas quais se reúnem centenas de pessoas por dia.
Terei que usá-las para treinar, porém sem usar minhas habilidades. Não quero revelá-la para observadores. Eu estou indo para lá justamente para me esconder e conseguir aprimorar, isolado, minhas habilidades físicas. Pela Terra Sem Fim ter pessoas com poderes e potencial absurdos, o governo evita ir até lá, já que isso poderia causar uma guerra com centenas, se não milhares, de mortos.
Após divagar por um tempo, perdido nos meus pensamentos, chego no local e já sinto uma aura mais séria; não tinha mais barulho. Era um beco de cerca de três metros de largura e parecia ser enorme de comprimento. A iluminação era bem baixa: acredito que para não ser convidativo. Tinham algumas pessoas deitadas e outras sentadas no chão, todas pareciam esperar algum tipo de milagre acontecer, ou uma pessoa desinformada aparecer, para ver se conseguiam o valor da passagem. Havia lixo no chão e, conforme eu me aproximava do local, sentia cada vez mais que estava sendo observado por todos.
Depois de andar uns oito metros, percebo duas pessoas saindo do escuro: uma era um rapaz de cabelo roxo - ele tinha olhos totalmente pretos (devia ser tatuagem), devia ter uns 1,79m, e tinha uma pele muito branca, como se não visse o sol a muito tempo. Ele usava roupas pretas e um brinco enorme em suas orelhas. A outra pessoa era uma mulher de vestido roxo e aparência inofensiva: ela tinha um rosto arredondado, características asiáticas e grandes lábios. Ela tinha por volta de 1,63m, e era realmente engraçado ter que olhar para baixo para poder fazer contato visual com ela.
"–O que um garoto como você está procurando por aqui, hein?" disse o rapaz, me olhando fixamente nos olhos e tomando a frente da garota. "Está perdido, por acaso?"
Retorno o olhar fixo, enquanto penso em uma resposta que não me fará ser expulso e que evite esse tipo de situação.
"–Acho que eu devo ter interesse o suficiente para ter vindo até a Terra Sem Fim sem hesitar", digo, e dou uma leve pausa para ele entender o que eu disse, já que ele não parecia ser muito inteligente. "E acredito que eu deva ter dinheiro também."
A garota dá um leve sorriso de canto e puxa o rapaz para trás.
"–Prazer. Meu nome é Lilith. Sou a guardiã dos portões da Terra Sem Fim", disse ela, me olhando de cima a baixo e voltando a olhar para meus olhos. "Devo informar que, como é a sua primeira vez aqui, sua entrada fica 6 mil." Ela dá um leve sorriso, e o rapaz a acompanha, rindo um pouco mais exageradamente.
Encaro a garota e penso em usar força física, mas ainda sinto que estou sendo observado por alguma coisa.
"–Aqui está o dinheiro."
Coloco a maleta apoiada em minha perna, abro e tiro a quantia pedida por ela; vejo o sorriso do rapaz saindo gradativamente.
"–Merda, Lilith. Se eu soubesse que ele era tão rico, teria feito você pedir mais", diz o homem, enfurecido, quase borbulhando de tanta raiva. "Você é bem rico, não é, seu merda?", ele rosna, se aproximando de mim com uma postura de como se estivesse disposto a me matar ali mesmo.
"–Max! Acho que você deveria ficar quieto e apenas deixar o rapaz passar. O que acha?", ela o interrompe, olhando para ele já com a certeza de que ele concordaria com ela. E assim foi feito: ele abaixou a cabeça e, em uma tentativa falha de se desculpar, tentou me desejar uma boa viagem. Ela continuou:
"–Acredito que tenhamos começado da forma errada. Espero que aproveite o seu tempo de estadia e não gaste muito. Para sair, também vão lhe cobrar muito caro, por você ter essa cara de criança", diz ela, segurando o riso.
"–Pode ficar tranquila, Sra Lilith. Eu não sairei da mesma forma que eu estou entrando", respondo, sério, lembrando de como seria a minha vida a partir daquele momento.
Ela olha para mim e, fazendo alguns movimentos com a sua mão, como se fosse algum tipo de dança, uma porta é criada na minha frente.
"–Boa viagem, senhor...?"
"–Senhor Hunter."
Dou um leve sorriso e passo pela porta. Assim que a fecho, já me vejo em um mundo completamente diferente de onde eu estava. Era tudo em um tom mais escuro: o sol quase não tinha luz suficiente para passar pela fumaça de poluição que beirava no local, as ruas eram cheias, não tinha asfalto em algumas partes.
Vi pessoas fritando comidas com suas habilidades de fogo, gelando bebidas com seus poderes e até criando armas e joias. A cada momento que eu olhava para o lado, via pessoas com características, expressões e comportamentos completamente diferentes de tudo o que já tinha visto. As casas tinham um design novo, mas estavam com janelas quebradas e planta para todo lado. Tinham corvos vagando por toda a cidade, com seu canto tornava tudo ainda mais sombrio. Estranhamente, mesmo assim, parecia que cada um que estava presente no local sabia exatamente o que queria e o que estava buscando.
Após perceber que eu estava chamando atenção por estar parado, coloco o capuz e sigo andando em direção à próxima rua, procurando algum tipo de abrigo ou hotel disponível. Vejo uma senhora que me parecia a pessoa menos provável de tentar me assassinar. Antes de me aproximar dela, ela já tinha me notado e estava me olhando faz tempo.
"–Olá. Saberia me informar onde eu encontro um local para ficar por alguns dias?"
"–Olá, meu jovem. Siga em linha reta que, daqui a uns cem metros, você vai encontrar uma placa azul; vire à esquerda, e chegará a um hotel onde poderá ficar tranquilamente", diz a senhora, com um sorriso em seu rosto.
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O sucumbir das mãos
Science FictionEu não gostava muito desse momento do dia, era indisponível, repetitivo e enjoativo. Ensino médio. Talvez a morte fosse menos dolorida e sofrida do que esses longos anos em que estou passando aqui. Mas olha só você que está lendo esse livro, tão...