Notas:
Ao final do capítulo as palavras com * estarão junto da tradução.Estava começando a retornar para dentro da casa quando um guincho estridente ecoou para fora da floresta, rapidamente a garota correu novamente até a shōji empurrando ela para o lado com tudo, seus olhos arregalados encaravam a floresta além do pátio, um arrepio correu por sua espinha, aquele barulho não era humano, nunca antes tinha ouvido algo que sequer fosse parecido com aquilo, ela estava preste a se afastar da porta quando notou, escondido entre as sombras das árvores um par de olhos dourados que a encaravam e então o aviso dado por Ryomen Sukuna ressoou em sua mente.
"te aconselho a não tentar fugir, os youkais na floresta vão te devorar assim que colocar os pés fora desse pátio."
Com essa recordação a jovem se perguntava como tinha conseguido correr até o topo da colina sem esbarrar com nenhum outro youkai em sua subida, se lembrou do ataque sofrido pela criatura verde e seu corpo todo se arrepiou, a sorte realmente estava a seu favor, e a julgar pelo jeito como as criaturas se mantinham longe da casa não se atrevendo nem mesmo a por os pés ou patas no pátio ela soltou um suspiro aliviada, mesmo que o dono da casa estivesse ausente o poder de sua energia amaldiçoada marcava o lugar.
Andando pelo labirinto de quartos a jovem procurava a despensa, a casa parecia magicamente trocar a posição dos cômodos o tempo todo, ela já não sabia mais onde estava e se sentia frustrada cada vez que dava um passo e seus músculos reclamavam pela dor.
Quando estava prestes a desistir ela sentiu algo como uma força que a atraia para um lugar, como uma fina corda a puxando em um transe e então ela começou a andar na direção do que a atraia, seus passos estavam tão leves que seus pés quase flutuavam sobre o tatame, então repentinamente a jovem sabia onde tudo se encontrava, como se a casa falasse com ela, a guiando por onde quer que fosse, seus pés continuaram a guia-la, ludibriada de mais para notar onde estava indo até se deparar com um fusuma, diferente dos demais que possuíam desenhos de cerejeiras, pássaros e florestas este possuía um dragão negro sob uma montanha, a garota parou analisando o desenho, a coisa que a chamava estava do outro lado do fusuma, ela levou a mão ao puxador e assim que o tocou uma onda de pequenos arrepios passou por todo o seu corpo, ela cogitou a ideia de se afastar e quando estava prestes a fazer isso a força que a atraia a puxou com mais pressão, tomada pelo transe novamente levou a mão ao puxador, ignorando os avisos dados pelo seus instinto, ao abrir a porta foi recebida pela claridade que penetrava pela ranma* pouco abaixo do teto, a luz a fez fechar os olhos com um pouco de força, aos poucos foi abrindo os olhos para que eles se acostumassem com o ambiente.
A adrenalina corria solta em suas veias, aquele era o quarto de Sukuna, com variadas armas dispostas pela parede, o futon* estava arrumado no centro do quarto, o tecido negro do cobertor e travesseiro se contrastava com o ambiente, dando uma nova olhada em volta do quarto sua visão foi atraída pelo arco e sua aljava pendurados na parede, sem que a mesma percebe-se seus pés a guiaram até a arma, o arco tinha um belo acabamento, sua madeira negra estava bem polida demonstrando o cuidado que o dono tinha, sua empunhadura feita com um cordão vermelho sangue se destacava juntamente com ambas as pontas, se lembrou de seu falecido irmão e o amor que o menino tinha pela arquearia, como gostava de sair em pequenas caçadas com seu arco, seus olhos arderam com a ameaça de lágrimas, seus dedos estavam prestes a tocar nas costas do arco quando sentiu o ar pesar a sua volta com uma presença arrebatadora.
- não é bonito sair bisbilhotando aposentos alheios sabia? – Sukuna possuía o mesmo sorriso sarcástico de sempre ao falar.
Sua voz grave enviando arrepios pelo corpo da jovem que havia sido pega no pulo.
- eu me perdi... num momento eu pensei que estivesse indo a um lugar e então eu acabei aqui. – a garota gesticulava com as mãos como se isso fosse dar algum sentido a sua explicação.
- parece até que a casa é
- mágica? – Sukuna novamente a interrompia, dessa vez rindo da cara espantada da jovem.
- de certo modo eu suponho que sim a casa tem uma certa magia, mas se conseguir se concentrar sempre saberá para onde está indo. – sua voz grave transmitia uma calma que do ponto de vista da garota não pertencia ao homem atrás de si.
Se lembrava bem das histórias contadas por seu pai, de um monstro que parecia possuir forma humana, com dois pares de braços e olhos, que derrotava um exército de humanos sem esforço e por onde passava deixava a desolação e morte, com o choro das viúvas e dos órfãos ecoando como uma canção profana á suas costas, o homem atrás dela tinha uma aura perigosa isso era fato, mas algo dentro dela lhe dizia que ele não a mataria pelo simples prazer de ver seu sangue jorrar, não ainda ao menos.
- vamos estabelecer pequenas regras de convivência, o que me diz? – ele agora circundava a garota como um tigre circundava sua presa fazendo-a olhá-lo nos olhos, notando então que os dois menores estavam fechados fazendo com que se assemelhassem apenas a uma cicatriz abaixo de seus olhos.
Com um aceno de cabeça ele prosseguiu.
- veja bem eu não dou a mínima para o que quer que você faça, apenas seja diligente em suas tarefas e nunca em hipótese alguma entre novamente neste cômodo sem ser chamada entendeu? – ao falar a última parte sua voz se tornou mais grave e o ar novamente pesou a sua volta, isso parecia ser uma ameaça velada.
A jovem assentiu em resposta e logo a pressão a sua volta desapareceu, inspirou o ar com força, não havia notado que desde o momento em que ele passou a circunda-la sua respiração tinha ficado presa em sua garganta, endireitando a coluna o encarou com um olhar firme esperando alguma ordem da parte dele.
Vendo a postura rígida da garota a sua frente Sukuna teve vontade de rir, dando as costas para ela, ele passou a voltar pelo corredor mas parou ao ver que ela não o seguia, com um suspiro irritadiço acenou com a mão sinalizando para que ela o acompanhasse, esperou mais um pouco até ouvir os passos dela atrás de si para então continuar, ao contrário dela Sukuna andava com fluidez pela casa seguindo o ritmo da magia que o direcionava para onde desejava ir, era tão natural quanto respirar, a garota atrás dele observava maravilhada quando um corredor que antes fazia curvas se tornava um pequeno beco sem saída enquanto eles passavam, seus olhos brilhavam com a curiosidade fervendo, sua língua chegava a coçar de perguntas mas manteve o porte altivo enquanto acompanhava o homem para onde quer que fosse. Conforme andavam o cheiro de comida invadiu suas narinas e sua barriga protestou com força pela fome, não se lembrava quando foi a última vez que havia comido, antes mesmo de fugir a jovem tinha sido punida com a ordem de que ninguém a desse de comer nem beber, cada vez que se aproximava mais do cheiro mais sua barriga protestava com barulhos altos, naquele momento ela estava tão envergonhada que pensou que talvez estar uma cova não fosse tão ruim afinal.
Chegaram a um cômodo com um grande chabudai* no centro, acima dele estavam dispostas louças para duas pessoas e alguns potes cheios de gyoza* e nikuman*, sua boca começou a salivar instantaneamente com a visão dos pastéis e bolinhos, observou atenta enquanto Sukuna se sentava na pequena almofada ao chão, ele a observava divertido com um projeto de sorriso no canto dos lábios.
- suponho que esteja com fome. – proferia a sentença com uma sobrancelha levantada, o tom levemente sarcástico, ao que a jovem respondeu se encolhendo.
- sente-se. – deu a ordem gesticulando com a mão para que a garota ocupasse a almofadinha do outro lado da mesa, ficando de frente para ele.
Assim que se sentou o homem serviu-se de alguns pastéis e gesticulou com os hashis* para que ela fizesse o mesmo.
Naquela noite após a refeição tranquila a jovem pensou consigo mesma que talvez não fosse tão ruim servir ao rei das maldições.
Notas:
Ranma* = pequena janelinha que costuma ficar acima das portas na casa tradicional.
Futon* = cama tradicional que pode ser enrolada e guardada, na época apenas a nobreza e pessoas com alto poder aquisitivo podiam tê-la.
Chabudai* = mesa tradicional com pernas curtas, é preciso sentar no chão para usá-la.
Gyoza* = pastel cozido.
Nikuman* = bolinho cozido.
Hashi* = palitinho que eles usam pra comer.
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O campo das rosas vermelhas || Ryomen Sukuna
RomanceA história nunca foi parcial, sempre contada pelo lado vencedor e o lado vencedor sempre será o herói nela, a história de Ryomen Sukuna não é diferente, um homem, um deus, um demônio ou maldição, o lado vencedor o retratou como a besta que assassina...