13. Explicação Sobre Tudo Que Aconteceu

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Você deve ter percebido, em certas partes desta minha narrativa, que alguns elementos soam ligeiramente esquisitos, destoantes, ao menos para um observador comum e desavisado

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Você deve ter percebido, em certas partes desta minha narrativa, que alguns elementos soam ligeiramente esquisitos, destoantes, ao menos para um observador comum e desavisado. Por exemplo, no capítulo 8 ("O Que Era O Aracnídeo"), descrevi com naturalidade a mulher de duas cabeças que tinha nos níveis superiores d'O Aracnídeo, feito ela tivesse uma cabeça só; no capítulo 11 ("Sobre a Ameaça do Doutor de Capacete"), falei da universidade dos fuliginosos e o tipo de aulas que eles tinham lá, sem destacar como eram matérias perniciosas; no mesmo capítulo, descrevi Genaro Paisson e como ele usava um capacete espelhado na cabeça, deixando de lado que o fato de ele usar capacete, mesmo num local pouco salubre como O Aracnídeo, não era lá uma coisa comum. Nenhuma dessas informações aparece de maneira gratuita neste texto e eu acredito que você encontrará um esclarecimento bastante satisfatório para todas elas no decorrer deste capítulo 13 ("A Explicação Sobre Tudo Que Aconteceu").

O robô e ovo do robô me levaram até um nível previamente desconhecido do grande aglomerado de cidades, localidade que fuliginoso algum conhecia e eu tampouco. Assim que o invólucro se abriu, pude contemplar uma paisagem que, por falta de um termo mais incisivo, era o cúmulo: de repente, todo aquele emaranhado de tubulações, máquinas e fumaça que poluía o olhar aos níveis acima de minha cabeça deu lugar a uma visão idílica de sonho, quase como fruto de alucinação. A escuridão e o vermelho deram lugar à luz e ao azul, os pretos e os carvões viraram alaranjados, o cinza-chumbo virou verde, o feio virou belo e os meus olhos tiveram de se abrir a quase exaustação para contemplar a totalidade que era toda aquela beleza. Era a primeira vez desde a ressurreição que eu enxergava o que era o borrão indubitável de uma floresta de árvores de verdade, com um céu de verdade, com terra de verdade: seu calor quente e convidativo, o vento que lhe sacudia calmo e refrescante, o som que lhe cantava, pássaros piando. Era inacreditável.

Olhando para cima e para trás, engoli em seco: um único tubo, quanto mais subia, mais diminuto parecia, ia infinitos metros, hectômetros ou quilômetros acima, sumindo no passear das nuvens, como uma escadaria a lugar algum. Seu corpo bronze e estranho àquela paisagem bucólica reluzia à luz radiante do sol (se é que eu podia chamar o que fosse aquela luz de sol), descendo sucinto até onde o ovo metálico do robô tinha ido parar. Era um tubo de transporte, claramente, que conectava o mundo de cima a esse novo lugar onde meus pés desembarcavam.

Como eu já descrevi anteriormente, meus sentimentos eram pouco claros a mim, acontecesse o que fosse; assim sendo, minha reação àquela miríade de maravilhas se descortinando aos meus olhos pouquíssimo acostumados a tamanha sedução foi a mesma que tive quando vi aquela carcaça quase ao pó que era o corpo morto e explodido de papai.

— Eu lhe disse que sabia o seu segredo, garoto — a acachapante voz do misterioso Genaro Paisson veio aos meus ouvidos através dos autofalantes presentes no tórax de ferro do robô. — Agora permita-me que eu lhe apresente o segredo do mundo.

A coisa mecânica andou com suas pernas de toco até onde eu tinha caminhado, tornando a me puxar com seus ganchos pontudos. Tentei desvencilhar-me, porém o robô foi outra vez mais forte e conseguiu fazer sua vontade: prendeu meus pulsos com uma corrente e, puxando com a outra ponta, me obrigou a segui-lo. Só a esse requerimento que fui me atentar de onde estávamos dentro daquele submundo impossível: alguns livros de papai remontavam a localidades como aquela, discorrendo sobre verdes esplendores e caminhos perdidos, coisas que, achava eu, remanesceriam no mundo da imaginação (a mesma imaginação de que Caçula falava); entretanto, lá estava eu, mesmo que confuso e cativo, surgido a uma clareira de floresta, pisando em chão de terra escura, escutando os galhos caídos estalando debaixo dos meus pés.

"Coração" - Uma Epopeia Em Sete BatidasOnde histórias criam vida. Descubra agora