~ 02 ~
A Paciente Risonha
Um monte de fichas de pacientes me esperam sobre a mesa... E eu nunca gostei da minha sala, ela é pequena. Aciono o meu metrônomo e ouço o TIC TAC que sempre me deixa relaxado, enquanto dou uma olhada nos prontuários.
“Vamos lá, daqui a três horas você vai pra casa e terá dois dias para hibernar no sofá.” – Então chamo o primeiro nome.
— Anna Paranhos!
Espero... Espero... E nada.
— Anna Paranhos! – Tempo... Tempo...
Fecho o metrônomo e grito o nome mais uma vez.
— Anna?!
— Oiii! Sou eu! – Alguém grita.
Então uma garota aparece na porta da sala, suspirando como se tivesse corrido uma maratona. Ela entra e reparo que está com a mão tapando o ouvido direito quando se senta na cadeira em frente à minha mesa.
— Anna?! Quantos anos você tem?
— O que? – Pergunta a garota ainda cobrindo a orelha com a mão.
— Qual sua idade!
— Aah! Tenho 20.
— E qual o problema, Anna? – Indago, olhando seu rosto. Maquiagem carregada nos olhos, cabelos escuros e compridos, pele pálida.
— Esse é o problema! – Ela tira a mão da orelha.
“Mais uma!” – Observo a ponta de um cotonete dentro de seu ouvido.
— Ui! Você fez isso? – Tento não assustar a garota e mantenho uma expressão calma, mas ela não parece muito assustada. Na verdade começa a rir ao se explicar.
— Eu estava bem no meio de uma apresentação quando senti uma coceira no ouvido. Peguei um desses e comecei a coçar. Daí que me assustei com alguma coisa e... Enfiei-o lá dentro. Nossa como doeu! – A garota dá uma gargalhada. – E ainda está doendo!
Ela ri como se dez pessoas estivessem fazendo cócegas em sua barriga. – “Ou ela é bem humorada ou está chapada...”
— Tá legal. Sente-se na maca. – Digo sorrindo. Uma garota gargalhando daquele jeito com um cotonete dentro do ouvido é algo engraçado.
Eu higienizo a orelha e agarro o cotonete com uma pinça.
— Agora vou puxar devagar, pode doer um pouco.
— Já está doendo. – Ela ri, tentando não se mover.
Eu puxo o cotonete dando um leve giro com a pinça e ele vai saindo. Neste momento Anna dá um gemidinho de dor que mais parece um miado de filhote de gato abandonado na chuva.
— Pronto, ele saiu. – Pego meu otoscópio para examinar a parte interna do ouvido e pela posição que estou perante ela, tenho uma boa visão de seus seios. “Que profissionalismo olhar os peitos da paciente em vez de seu ouvido”. Desvio os olhos de seu busto e me concentro em sua orelha.
— E então, cara? Tá muito feia a coisa? – Ela pergunta com uma expressão de dúvida no rosto.
— Não dá pra ver direito, tem muito sangue. Vou te passar um remédio para usar em gotas...