Desejo mortífero

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Capítulo 3

   Ele nunca pensara que iria morrer dessa maneira, ainda assim, saber como seria deleitar-se com um ser de outro mundo não lhe parecia ser algo desagradável.

O suspiro que soou dos lábios de Joseph quando a criatura envolvera a sua cintura foi de longe o mais regurgitante, escandaloso e intimamente reconfortante.

Era de se esperar que sentisse o mais aterrorizante pavor pelo seu toque, mas ao contrário de tudo isso, os sentimentos que estavam a invadi-lo a cada carícia sobre a sua pele gelada, o atormentava, aquecendo a sua pele igualmente às chamas do tártaro, de uma febre muito familiar para ele.

Ele não se arrependia dos seus atos, e muito menos se arrependeria da luxúria decorrente dos seus pecados carnais, em nenhum momento, mesmo que desconfiasse que sua enfermidade fosse sem sombra de dúvidas a forma que Deus subscreveu para puni-lo.

Já em sua tenra infância, Joseph soubera que era diferente de todos os outros petizes da sua idade. E ao longo dos outros anos, o desinteresse pelas damas e seus gracejos cheios de uma falsa pureza tornaram-se cada vez mais claros para ele.

A delicadeza pouco o atraía, e o perfume enjoativo provocava-lhe náuseas.

De modo muito diferente da virilidade arraigada no corpo da criatura sedutora, onde seus poros se dilatavam e onde o desejo reprimido ganhava cada vez mais ímpeto de se mostrar diante do corpo sedutor de um homem da mesma forma que ele, tão duro e firme quanto o mais denso tronco de um sabugueiro.

— Consegue sentir? — Sebastian, esse era o nome da feiticeira criatura. Ele sussurrou apaixonadamente no pé do ouvido de Joseph. Soprando o hálito morno dos seus lábios contra a pele do seu mancebo enquanto friccionava seus quadris contra o dele. — Todo esse desejo reprimido por uma falsa moralidade cristã.

— Blasfemar também é um dos seus propósitos? — Joseph devolveu empertigado de uma coragem já não mais sentida por ele há muito tempo.

Ele temeu que a gargalhada seguida da sua pergunta pudesse ser ouvida por todos da morada, mas algo em seu íntimo lhe dizia que somente ele era capaz de ouvir um som tão sedutor quanto aquele. Melodia essa que lhe envolvia em uma brisa morna de desejo, capaz até mesmo de subjugar a friagem vinda do seu corpo doente.

— Eu gosto muito de você — confessou Sebastian o observando com seus olhos de um vermelho sanguíneo. — De uma forma nada casta eu gosto da ousadia em seus olhos, mesmo que embaraçados pela enfermidade. E também gosto da chama que cresce em seu corpo a cada toque meu.

Naquele momento Joseph podia jurar nunca ter aprendido a falar, era como se as palavras tivessem fugido da sua boca. E nem mesmo um chiado mudo podia ser ouvido sair dos seus lábios, o que fazia ele se sentir meramente como uma criança tola e indefesa frente a tanto poder.

O problema é que não era mais uma criança há muito tempo, e sabia melhor do que ninguém o que dois homens eram capazes de fazer juntos ao compartilharem um leito em comunhão. A primeira vez em que se deitara com um homem há três anos em seus completos dezesseis anos, fora algo esplêndido e muito assustador para ele, entretanto todo o conhecimento que obteve com isso o trouxera as mais saborosas lembranças.

Não obstante, agora que ele se encontrava imobilizado no centro do seu quarto, tudo o que ele pensara saber tinha vindo abaixo. Primeiramente por não se tratar exclusivamente de um simples homem à sua frente, e seguidamente por estar à beira da morte. Como alguém poderia lhe ter desejo com sua repugnável aparência? Mesmo esse alguém sendo um ser das trevas.

— Como você pode sentir algum tipo de desejo por mim? — perguntou de certa forma magoado. — Eu deveria provocar-lhe nojo.

O que se ouviu em seguida seria facilmente confundido com um rosnado de um animal enfurecido. Joseph sentira todo seu corpo tremer de medo, e enfim pode ouvir um gemido esganiçado sair da sua boca. 

Anjo Noturno [Conto Gay]Onde histórias criam vida. Descubra agora