POV Sue.

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3 ANOS ATRÁS      

A chuva estava incessante batendo contra a janela do carro, não sei onde o barulho estava mais alto, fora com todos aqueles trovões, ou dentro, com meus pais discutindo mais uma vez. Ultimamente isso tem acontecido com  muita frequência. Era noite, então estava tudo tão escuro, e a chuva estava piorando ainda mais a visão. 

- Se continuarmos desse jeito acho muito melhor a gente parar por aqui! - Meu pai falava tentando não tirar os olhos da estrada.

- Sim, seria muito melhor ficar sozinha do que com alguém como você. - Minha mãe me olha tentando manter a calma. - Tá tudo bem minha filha.

Então ficam em silêncio por alguns minutos, nisso, acreditei que finalmente iriam parar de discutir, mas logo voltaram a discussão por meu pai ter errado o caminho para casa, ele estava levemente embriagado. A discussão foi ficando cada vez mais séria e alta, até que meu pai não enxergou uma curva na estrada e o nosso carro tombou. A última coisa que me lembro dessa noite é de estar fora do carro, com a chuva gelada caindo em meu rosto e molhando toda minha roupa, mas o que é mais claro para mim, foi o calor do meu sangue escorrendo pelo meu rosto, e a visão do carro dos meus pais esmagado e então... Simplesmente apago.

Acordo em uma cama de hospital, totalmente confusa e com a cabeça latejando. Tento me levantar, mas todo meu corpo dói, não encontro forças. Uma enfermeira abre a porta do quarto e ao me ver acordada ela corre para fora, tento chamá-la para entender o que está acontecendo, mas as palavras não saem, minha boca estava seca. Uma médica entra, se senta na cadeira ao meu lado e me olha ternamente. 

- Olá querida, como está se sentindo?. 

- Onde estão meus pais? - Junto todas minhas forças para perguntar. - Eles estão bem, certo? Os chame aqui por favor doutora.

Ela me olha por um tempo, depois abaixa a cabeça para encarar o chão.

- Querida... Eu sinto muito. - Meus olhos se enchem de lágrimas. Isso não pode estar acontecendo. - Os seus pais não conseguiram resistir aos ferimentos.

Quando a médica disse isso fiquei completamente sem chão, não é possível, isso não poderia estar acontecendo comigo, com a gente. O que seria de mim sem meus pais? Por Deus eu só tenho 14 anos! As lágrimas não param de sair, a doutora me abraça e encosta minha cabeça próximo ao seu peito.

- Vai ficar tudo bem, eu sei que dói... - Ela me abraça mais forte. - Eu sei, querida. 

Tento responde-la, mas não consigo dizer nenhuma palavra, meu corpo que já estava dolorido foi tomado por uma dor diferente, e céus... Essa dor era infinitamente pior.

- Tem mais uma coisa que precisa saber... - Ela me olha com uma expressão preocupada. - Nós fizemos raio x em você para conferirmos se havia alguma fratura interna - Ela faz uma pausa. - Eu sinto muito ter que te dar mais essa notícia, mas...

ATUALMENTE

- Sue, querida? Está me acompanhando? - Doutora Dickinson me desperta das minhas lembranças.

- Me desculpe, é só que... Hoje completa 3 anos desde aquele dia. - Desvio o olhar dela.

- Eu sei, eu sinto muito. - Ela me dá um dos pirulitos do seu escritório. - Aqui, tome, você sempre se animava com um desses, não é?

Sorrio sem graça e aceito.

- Obrigada senhora Dickinson. - Pego minha mochila e me levanto. - Acho que agora infelizmente terei que deixar a senhora sem minha adorável companhia.

- Ah nem me lembre disso. - Ela ri. - Mas você sabe bem que semana que vêm tem que estar de volta.

- Eu sei, eu sei. Só deixei de vir uma única vez.

- É, mas estou de olho em você. - Ela se levanta para abrir a porta do escritório para mim. - E ainda assim você é mais obediente do que minha filha. A propósito depois de amanhã é aniversário dela, você sabe que está convidada não é? Você precisa se enturmar mais, conhecer pessoas da sua idade, só te vejo falando com as velhinhas daqui, todo ano te convido e todo ano a senhorita não vai. - Ela cruza os braços. - Por favor vê se dessa vez aparece por lá, tenho certeza que as meninas iriam te adorar, seriam ótimas amigas.

A doutora Dickinson fez muito por mim desde o acidente, tive que continuar fazer acompanhamentos com ela, então basicamente toda semana a gente se vê, ela me viu crescer e dessa forma criamos um certo laço entre a gente. Ela sempre tenta me enturmar com suas filhas porque temos a mesma idade, mas não consigo, sempre acabo ficando sozinha ou achando mais interessante alimentar os pássaros com as senhorinhas do hospital enquanto elas me contam diversas fofocas sobre a vida de seus netos. 

- Olha, eu não prometo nada, ta? Mas vou tentar dessa vez. Você sabe né? Que tenho esse bloqueio que me atrapalha.

- Sei sei, bloqueio né, pode superar esse tal bloqueio e estar lá às oito. - Ela me leva pra fora do escritório. - Agora vamos que você tem aula. 

- Não preciso me apressar, eu estudo em casa.

- Susan, não deixe seu professor esperando de novo. - Ela coloca as mãos na cintura. - Você sabe que é importante.

- Eu sei, só é chato, quem quer ficar em casa estudando matemática? - Respiro fundo. - Mas ok, vou pra casa correndo, prometo. 

A abraço e me despeço. Eu adoro essa mulher, sei que ela só quer o melhor pra mim e que acha que o melhor é me enturmar com pessoas da minha idade, mas não é tão fácil assim, eu nunca nem falei com nenhuma das filhas dela, ela só me mostra fotos e fica por isso mesmo porque sempre que ela tenta nos juntar eu dou um jeito de furar. Eu sei que vou ficar nervosa demais para falar com elas, vou me embananar toda e passar vergonha, principalmente porque essa Emily por alguma razão me deixa sem graça só de olhar as fotos dela, e quando vejo ela na rua então... Eu corto caminho, a evito ao máximo, preciso parar com isso. 

Assim que saio do hospital, um carro preto para na rua da frente e uma garota desce e me encara, nesse momento parece que o mundo ficou em câmera lenta. Era ela, era a Emily. Parada ali, simplesmente me olhando sem desviar o olhar por não sei dizer quanto tempo. Mas um rapaz também sai do carro e a abraça, cortando nosso contato visual. Então desvio o olhar, coloco meus fones de ouvido e como de costume, sigo meu caminho para casa. Sinto que seu olhar volta para mim enquanto ela entra no escritório de sua mãe, mas não ouso olhar para trás para conferir.

What a Volcano Feels LikeOnde histórias criam vida. Descubra agora