Os Confins Dos Primordios

4.

Respirou fundo colocando água no bebedouro do cavalo, e olhou para sua mãe, um tanto brava.

- Como foi sua caminhada matinal? - Tentou imitar o mesmo tom de voz da rainha. - Teria sido melhor, se não tivesse mandado um guarda para minha vigia.

Alice voltara a se enfurecer do acontecimento de mais cedo, e Annie havia notado o clima estranho que estaria ficando.

- Sabes que faço isso para lhe proteger!

- Elizie... Pare de tentar criar desculpas, sabes que Arthuro tem total confiança em deixar-me sozinha por aí, por que não fazes o mesmo? - Esbravejou indignada com tanta falta de consideração.

- Escute-me, você ainda és uma dama, e precisa agir como tal! Achas que um príncipe, feito Joseph, vais querer uma princesa assim... Como você?! - Elizie estaria abismada, com as mãos em sua cintura, tentara manter a pose, mas sabia que a filha mais velha conseguia tira-la do sério facilmente.

- Eu não pedi para que arranjasse um príncipe para mim, pedi? - Disse saindo do estábulo, em passos firmes.

- C-Como ousa?! - A rainha enfurecida seguiu Alice, sendo acompanhada de Annie. - Como ousa dizer isso a sua mãe? A sua Rainha?!

- Mamãe... - Annie tentou acalmar a mãe, mas falha foi a tentativa.

- Não tente defende-la, Annie. Sabes que o seu destino é o mesmo!

- Viver sob custódia de um homem? Passar bem. - Alice dizia num tom debochado, enquanto acenava para alguns camponeses. - Olá.

A rainha enfurecida segurou o braço da princesa mais velha, fazendo a mesma parar bruscamente e a encarar.

- Escute-me bem, senhorita.. Achas que pode ficar vagando por aí, achando que não tem deveres a serem cumpridos? Está muito enganada! Se ponha em seu lugar, antes de eu tomar alguma atitude, e sabes que as minhas são drásticas. - O olhar da rainha perfurava os olhos de Alice.

- Eu sei de minhas responsabilidades, mas acho que não seja só isso. Não acho certo ficar o dia inteiro sem fazer nada, sendo que temos uma vida fora dos muros também! - Puxou o braço para si, dando as costas para a rainha, e antes que a alteza dissesse algo, Alice completou. - Queres causar vexame, vossa majestade?

Annie encarava a situação um tanto boquiaberta, sabendo de que certa forma a irmã estava certa, mas havia um porém. O porém de que talvez Elizie a puniria por tal grosseria e deboche. A rainha odiava ser contrariada, e sabia que Alice fazia de tudo para os seus atos causar algum impacto.

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- Mamãe?

- Sim? - Sorri de forma dócil, acariciando seus cabelos.

- Por que as princesas sempre tem que ficar com príncipes?

- Oh, querida... É uma boa pergunta. Mas a sociedade achava que para a união deles, iriam unir os reinos, e não teriam mais tanta preocupação por posses de terras.

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{Reino White - começo de tarde}

O vento rebatia contra a face da Princesa White, já que a mesma cavalgava rapidamente para o castelo de seus pais. Sentia que estava sendo vigiada, mas talvez fosse apenas o fato de Kazan estar guiando até a saída da floresta.

Não demorou muito para que os muros do grandioso castelo fosse avistado, deixando a Princesa mais aliviada de estar chegando ao destino.

Lotte parou com o cavalo em frente ao grande portão, observando os guardas e deu uma última olhada para trás, certificando que o lobo já havia voltado para seu recanto. Dada a confirmação de que o uivante já saira de seu campo de vista, voltou atenção para os guardas, deixando que o seu belo e encantador sorriso para que os guerreiros abrissem caminho para que ela pudesse passar.

- Sr. Hotfield, como estás? - A morena dizia enquanto entrava no reino, encarando o líder dos guardas.

- Minha donzela, estou magnífico. E a vossa alteza? - O senhor de cabelo um pouco grisalho e bigode feito, com a armadura em seu corpo dizia. - Por onde andaste? Vossa rainha estava a sua procura.

- Estava na floresta, Hotfield, pegando um ar puro. - Sorriu gentilmente. - Mas era algo importante?

- Bom.. Não aparentava ser de tanta importância, Alteza. Mas seria de seu agrado ir ver o que ela quer. Está a sua espera no palácio.

Lotte sorriu gentilmente para o guarda, e caminhou em direção ao castelo, mas ainda sim estava com medo de quem ou o que estaria vigiando as duas princesas.

Ao chegar no palácio, desceu de seu cavalo fazendo um carinho na pelugem do animal antes de entrar no castelo. Avistou sua mãe andando de um lado para o outro, o que fez a morena franzir uma de suas sobrancelhas caminhando em direção rainha.

- Mãe? - Lotte disse ao parar próximo da mulher mais velha, ainda um tanto confusa.

- Lotte! Céus! Estavas onde? Procurei por ti a manhã toda! - Indagou a rainha, colocando suas mãos em sua cintura.

- Oras, estava onde sempre estou pela manhã, na floresta. Estavas pegando ar puro. - Sorriu e cruzou os braços olhando a mãe.

A rainha usava um vestido vermelho, cheio de bordado, e todo rodado com algumas pérolas brilhantes, com o cabelo bem feito e cheia de jóias, anéis, pulseiras e colar não faltavam na rainha. Muito diferente de Lotte, que vestia roupas um tanto menos formal. A garota usava uma calça bege de montaria, uma blusa branca de mangas comprida, porém dobrada até a altura dos cotovelos e por cima um colete marrom, combinando com sua bota surrada.

- Não sei o que tanto faz nesta floresta! O que vê de tão interessante nela? - Samantha dizia, um tanto curiosa.

- Ah, mamãe! Acho que deverias sair mais do palácio e ver como é o mundo lá fora. O cantar dos pássaros, o som da cachoeira.. O vento batendo no rosto. Acho eu, que deverias sair um pouco. - A garota entusiasmada contava, enquanto conseguia imaginar perfeitamente como era a sensação de liberdade.

- Penso eu que seja um ótimo lugar para relaxa, mas não todos os dias. Tu tens suas obrigações como princesa também. - Caminhou em direção da filha, colocando a mão em seu ombro, acariciando o mesmo. - Sabes que seu casamento estás a chegar, não sabes? E que o príncipe não gostas de mulheres com... Com tanta atitude, não é?

- Sim, mamãe...

- Então, querida. Saibas que agora, terás de ser mais focada em teus princípios.

Lotte suspirou totalmente desanimada, concordando levemente com a cabeça. Não tinha muito o que fazer, já que infelizmente estava predestinada a fazer tal coisa, mesmo sendo de seu desagrado.

As duas caminharam pelo corredor, ouvira sua mãe dizer sobre muitas coisas, mas não prestava tanta atenção já que havia se desanimado com tais palavras da rainha. Observava atentamente os quadros nas paredes e as armaduras das quais eram enfeites também.

Deixou sua mãe caminhar na frente, enquanto a mesma fala de algumas obrigações das quais Lotte não tinha tanto interesse assim. A garota morena caminhou até uma das janelas, observando a vista da cidade.

Ela não conseguia entender o porquê de tais obrigações serem tão inúteis no seu ponto de vista, até porque ela queria ter mais coisas a se fazer, igualmente o rei tem de batalhar, de ajudar e ser ativo, sair do castelo e ter liberdade de ir a onde quiser. Não entendia qual era a graça de ficar trancafiada num palácio, sendo servida o tempo todo sem poder fazer absolutamente nada. Se sentia tão inútil. Sabia que o mundo fora das muralhas era totalmente diferente, mais difícil, mais cheio de desafios, e queria poder enfrentar todos.