A Torre

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Nem as cartas de tarot serviram para ajudar Wanda Eisenhardt a encontrar seu broche. De novo, a exata combinação:

O diabo.

A Torre.

A Morte.

E nada de seu amuleto, a única joia de sua mãe. Procurou no carro de John, na floricultura, no apartamento inteiro de Agatha, entre as dobras do casaco vermelho que tinha usado durante aquela maldita madrugada e até mesmo ficou encarando o chão perto do cassino, na busca de um brilho característico e muito caro ao seu coração. Nada. Então decidiu que não havia mais nada para si no mundo externo e preferiu ficar em casa nos seus poucos dias de folga, chorando pelo objeto perdido com o gato preto no colo.

Agatha bem tentou consolá-la, Pietro também; mas a única coisa que lhe traria paz era ter o broche em suas mãos de novo. A joia era o que lhe protegia, Wanda acreditava nisso. Levar em consideração demais conselhos sobre a vida não evitara perigos e catástrofes, pois nada adiantava ser uma mulher cauta se no fim dependia da sorte no último segundo para sair de apuros. Não sabia se odiava mais o destino, o acaso, si mesma ou Declan Dane.

A todo instante ela revivia aquela madrugada, a briga com Albie e Carlo e como tinha usado a piteira com força para cegar um deles, tateando cada memória para encontrar o ponto onde poderia ter feito tudo diferente. Deveria ter sido mais suave com aqueles dois canalhas? Ou aceitado ter seu rosto mutilado? As cenas se repetiam de novo e de novo, e Wanda ardia por mudar a realidade com as pontas de suas próprias mãos. Então ela foi atingida por uma epifania tal como se tivesse sido eletrocutada por um relâmpago: o broche estava no carro de Bucky Barnes. O casaco vermelho estava péssimo de tirar enquanto ela estava dentro do automóvel e talvez... Talvez tivesse caído naquele momento, estacionados na frente do apartamento.

Era estupidez. Declan Dane podia ainda estar vigiando-a através de seus vários olhos na cidade, mas Wanda não suportava mais segurar a ideia de de recuperar seu tesouro. Prometeu a si mesma apenas conversar com o mecânico e partir, levando consigo a arma na bolsa caso entrasse em apuros no caminho. Aproveitou quando Pietro partiu e Agatha caiu no sono para ir até o Brooklyn, no Wolf's Garage.

Pegou carona com John até parte do caminho, uma vez que não era nada agradável atravessar a ponte à pé; mas não iria pedir para que fosse levada até o ponto exato porque não queria acarretar mais problemas para o marido de Emilija ou próprio Bucky caso algo saísse do planejado. Sem o restinho de proteção presa ao seu vestido por um alfinete, ela não queria dar chance a mais azar.

É claro que o azar também não iria dar uma chance a ela.

Wanda deu de cara com as portas fechadas do galpão. Com peso sob seus ombros, ela circulou pelo local — uma esquina — para conferir se encontrava algum movimento, alguma voz. Céus, ainda era terça-feira à tarde! Impossível que não houvesse alguém lá, não com tantos carros circulando pela cidade e sempre precisando de manutenção.

Enfim, uma porta lateral de ferro se abriu, revelando uma mulher de cabelos ruivos na altura do queixo. Suas vestes eram simples, apenas um modelo diurno preto de mangas curtas e detalhes vermelhos, mas a moça vestia-o com tamanha graça que Wanda achou que ela poderia ir no mais requintado baile e ainda estaria muito elegante. Ela piscou seus longos cílios e questionou:

— Atrás de James Barnes?

— Sim, — Deu um passo para frente, embora um tanto intimidada pelo par de olhos vibrantes fixos nela própria. Apesar da figura adorável, a expressão da mulher era muito séria e seu sotaque denunciava que vinha de um lugar distante. Talvez fosse a esposa, pois certamente não parecia uma irmã. Aquele pensamento estranhamente a desapontou um pouco. — Ele está?

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