Capítulo 7: bem mais que um amigo

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Abri os olhos devagar enquanto me acostumava com a claridade, não era mais cama gelada da veterinária. Não reconheci o lugar de primeira, as cortinas com jeito de velhas e o quarto significativamente menor que o meu.

Eu ouvia vozes vindas do andar de baixo mas estava fraco demais pra distingui-las.
Ouvi passos mas preferi não encarar a porta, não sabia se estava pronto pra descobrir quem havia me levado para aquele lugar.

— Acordado? Ouvi a voz dele e meu coração imediatamente aqueceu.
Encarei por alguns minutos as marcas da luta ainda presentes no rosto dele.
— Ele acordou! Gritou o Théo enquanto ainda o encarava sem dizer nada.

— Ah, ele tá bem? Era o Scott. Me sentei como em um instinto.
— Scott? Disse surpreso.
Ele se aproximou da cama se sentou e me deu um abraço desajeitado.
—  Não me assusta assim de novo em. Ele disse com um sorriso de lado típico do Scott.
Reparei de canto de olho um olhar estranho do Théo.
— Ei! Não entra nessa. Eu falei encarando ele diretamente.
— Foi mal, ele respondeu sem jeito.
— O que tá pegando? O Scott perguntou.
— É uma longa história... Comecei.
— Eu vou ver se a Melissa precisa de ajuda. Esse era o Théo fugindo de uma conversa constrangedora.

Contei toda a história pro Scott ocultando os detalhes sórdidos é claro; ele não esboçava nenhuma reação, as vezes  balançava a cabeça concordando ou negando mas não dizia nada.
Depois de um tempo em silêncio ele me encarou, segurou minha mão e perguntou:
— Está tudo bem mesmo?
— Está, ele não é tão ruim, ele é casca dura mas no fundo tem um coração enorme.
— Você é forte Liam, se um dia ele mudar não se contenha. Faça o que for preciso pra se defender.

Estava tudo bem eu acreditava, ouvimos alguém subindo e em pouco tempo ele surgiu no quarto, sua feição era de preocupação; olhou desconfiado enquanto o Scott se aproximava dele, em um movimento rápido e inesperado Théo foi atirado contra a parede do corredor no lado de fora do quarto.
— Ei, Scott! Protestei.
— Meninos, minha casa ainda não é sobrenatural, por favor! Gritou Melissa do andar de baixo.
— Está tudo bem mãe! Scott respondeu.

Ele voltou pro quarto com um sorriso triunfante; como se tivesse feito algo que planejava há muito tempo.

— Porque você fez isso? Perguntei chocado
— Só estava dando uma amostra do que acontece com ele se ele te machucar.
— Já tenho noção. Disse Théo entrando no quarto massageando o ombro.
— Isso é só o papai mostrando que aprova. Disse Scott fazendo graça.
— Papai... Bizarro. Protestou Théo e todos caímos no riso.

A noite chegou rápido e estávamos de novo na minha casa, na manhã seguinte estaríamos todos na delegacia em uma espécie de assembleia; o caso Peter era questão de segurança nacional àquela altura.

Quando chegamos a casa estava em silêncio e no escuro, estranhei um pouco até notar a Luz do meu quarto acesa e foi nesse momento que eu senti um frio na barriga; droga, eu não havia avisado nem que sairia ontem e ainda não voltei pra casa, meu pai estava furioso.

— Você quer adiantar minha morte. Ele falou quando notou a minha presença.
— Desculpa, acabei perdendo a hora e ficamos na casa dos McCall.
— Sei. A Melissa me ligou tarde da noite avisando que vocês estavam lá. Eu não estava preocupado com você, nem com a sua segurança, você tem um porte excelente. E o seu namorado é bem atlético.
— Pai.. não é legal ficar falando essas coisas.
— Mas ele não é seu namorado?
— É, mas isso não significa que pode gritar aos quatro ventos.
,— Eu não acabei, não fiquei preocupado mas fiquei triste; você não liga mais pra nós, o que anda fazendo Liam?

Eu já suava frio naquele momento, meu pai era um homem inteligente, não seria facilmente enganado.

— Pai, é complicado. Mas tecnicamente estou na academia de polícia de Beacon Hills.
— O que? Eu não sabia que estavam recrutando.
— Pois é, mas porque essa mudança de humor repentina? Eu ainda não entendi essa  de que ficou triste. Há alguns meses estava praticamente me expulsando pra fora de casa, quase me obrigando a sair.
— É eu sei, acho que a síndrome do ninho vazio
— Mas eu não estou saindo de casa!

O Théo saiu do banheiro naquele exato momento secando o  cabelo sem notar a presença do meu pai, provavelmente achou que ele já tinha saído do quarto pelo tempo que já havia passado.

— Olha filho, eu acho que deveria. Tô cansado de ver seu namorado de barraca armada.

Fulminei o Theo com o olhar mas nem era preciso ele já estava envergonhado o suficiente.
— Me desculpe senhor Dumbar, não sabia que ainda estava aí. Ele gritou do banheiro onde foi se esconder.
— Tudo bem garoto. Já estou de saída. Pense bem Liam, não quero que saia mas quero que tenha sua liberdade.
— Eu sei. Mas e a mãe? Ela está de boa com isso?
— Sobre você querer ou precisar de liberdade sim, mas não sobre o tarado no banheiro.
— Você não contou pra ela?
— Não, isso é coisa sua
— Aí meu Deus, como eu vou falar isso com ela?
— Você vai encontrar um jeito, e é bom se preparar, ela programou um jantar pra hoje.

Eu não conseguiria descrever em palavras o pavor que sentia naquele dia, sabia que uma hora ou outra essa conversa aconteceria; em algum momento eu teria que enfrentá-la, já não estava  inseguro com relação ao meu relacionamento com o Théo eu queria levar aquilo adiante.

Mais nervoso que eu só o próprio Théo que tremia de medo da minha mãe, ele não queria descer e eu o obriguei porque se estávamos naquela situação ele tinha uma parcela de culpa.

A mesa estava muito bem arrumada e aquilo era estranho porque minha mãe nem gostava de cozinhar, mas eu não iria questionar.

— Que bom que pode ficar pro jantar querido. Ela se referiu ao Théo, não tinha ideia que ele estava morando lá há quase três meses.
— Ah, obrigado. Ele respondeu sem jeito.

Estávamos em um total silêncio, o barulho dos talheres era como um eco que se espalhava por todo cômodo.
Aquilo já estava me incomodando, e eu comecei a achar que o meu pai estava de certa forma tentando me avisar.

— Tá bom mãe, vamos parar com o teatro, pra que tudo isso? Perguntei já sem paciência.
— Liam! Que isso ? Meu pai perguntou aparentemente indignado.
— Eu acho melhor eu ir. Théo tentava fugir.
— Você vai ficar exatamente aí
Eu disse fazendo ele se sentar novamente.
— Tá bom meu filho, eu não queria ser o tipo de mãe que interroga ou constrange; mas pelo que eu venho notando vocês dois não se desgrudam, e pelo que eu me lembre eram inimigos.
— Inimigos? Meu pai parecia confuso.
— Eu não acabei. Minha mãe prosseguiu.
Eu vi a Hayden sair daqui aos prantos há alguns dias, o que está acontecendo?
— Tá ok, eu não queria contar desse jeito mas é isso. Eu odiava o Théo e amava a Hayden, mas as coisas mudaram agora é o contrário.
— Não entendi, você não ama mais a Heyden e agora ele é seu amigo? Ela parecia muito confusa.
— Ah meu Deus! Ele não é meu amigo! É bem mais que isso. Eu amo o Théo mãe.
Ela ficou em silêncio, voltou a comer como se nada tivesse acontecido.

— Acho mesmo que é melhor eu ir. Disse o Théo já se levantando.
— Por favor. Respondeu minha mãe

Fiquei alguns minutos em choque vendo ele partir.
— Espera, eu vou com você. Eu disse fazendo ele parar.
— Liam, o que está fazendo? Minha mãe perguntou em um tom de voz bem elevado.
— Vou com meu namorado mãe.
— Liam o que acontecendo com você? Ela insistiu.
— Não, o que está acontecendo com você! Onde estava toda essa preocupação quando eu estava sofrendo? Quando fui abandonado e todos meus amigos se foram?
— Querido, eu...
— Eu tô indo mãe.
— Leva isso. Meu pai jogou as chaves da casa do lago.

Saímos dali em silêncio, os olhos dele estavam marejados e minhas lágrimas escorriam, eu estava magoado mas estava certo daquela decisão; dirigi até a cabana ainda sem falar nada e quando descemos segurei a mão dele e o puxei.
— Agora somos eu e você.

Foda-se A Razão ( A História De Théo E Liam)Onde histórias criam vida. Descubra agora