N/A:
Arte da capa: The Kiss, por Gustav Klimt;
Naruto e personagens pertencem a Masashi Kishimoto;
Revisão por V. (que me afundou no fandom de Naruto);
Nesta fic os dois são adultos e estão em um relacionamento estabelecido, porém secreto. Espero que gostem!
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"A que horas viajam amanhã?" perguntou Gaara.
"Às sete. No mais tardar, sete e meia," respondeu Lee. "De manhãzinha..."
Era quase meia-noite e ambos estavam deitados na cama do quarto de Gaara, em Suna. Face a face, olho no olho. Não estavam próximos a ponto de dividirem o mesmo travesseiro mas o suficiente pra sentirem a respiração um do outro.
"Manhãzinha pra mim são quatro horas," retrucou Gaara, fazendo Lee soltar uma risada preguiçosa, sonolenta.
"Uhum..."
"Você precisa voltar pro seu quarto e tentar dormir, Lee," disse Gaara, ajustando o cobertor na altura de seu peito, sem desviar o olhar daquele que estava a sua frente. O clima noturno no deserto não poupava ninguém. "A viagem não é curta, é necessário que descanse."
"Sim..." Lee sabia disso. Preferiu não imaginar o que poderia acontecer se fosse visto saindo da casa do Kazekage pela janela, tarde da noite. Não que sair pela porta fizesse alguma diferença, dadas as circunstâncias. "Gaara, você está me expulsando?" brincou, pois gostava de provocá-lo. Permanecia imóvel, apenas esboçando um sorriso e encarando Gaara.
"Você sabe que não."
Lee riu. Riu uma risada gostosa que preencheu aquele quarto. Uma música aos ouvidos de Gaara, que então se apaixonou mais uma vez.
"É, eu sei."
O silêncio entre eles não era desconfortável, muito pelo contrário. Aquela troca de olhares dizia muito mais do que qualquer frase proferida. Apesar de Lee ser mais expansivo, após anos de prática e esforço, sabia como ninguém se comunicar com Gaara sem falar uma palavra sequer. Era quase como se comunicassem... Por telepatia. Lee jurava que mesmo estando em Konoha, sentia o que Gaara sentia. O anseio de um era o anseio do outro, assim como sua felicidade. Nunca entendeu a preocupação das pessoas com o avançar da idade, isso só trouxe a ele benefícios! E mesmo se alguma força maior permitisse, jamais voltaria no tempo para avisar ao Lee adolescente sobre o que deve ou não ser feito.
Lee olhava cada detalhe daquele rosto pálido e sempre voltava aos olhos cansados, mas naquela ocasião serenos, tal qual um imã. Através daquele olhar, Lee pensava sobre o quão dedicado era Gaara e choraria agora por isso, de tanto orgulho que sentia por ele. Onde ele chegou, o que ele conseguiu, onde ele está. Mas não chorou, e continuava a olhar aquele que o olhava de volta. Sabia que se fosse pra perto dele, agora, não sairia tão cedo dali. Mas se aproximou, o envolvendo em seus braços. E Gaara nada pôde fazer senão ceder, se abrigar naquele que sabe que é só seu.
"Vou sentir tanto sua falta," disse Lee, com o rosto entre os cabelos avermelhados, abraçando forte, como se nada pudesse escapar de seus braços.
Também vou sentir a sua, Gaara quis dizer, mas não disse. Ao invés disso, reclinou sobre aquele pescoço. Respirou fundo e soltou o ar, provocando pequenos arrepios na pele marcada de cicatrizes, fazendo com que o outro rapaz entendesse o recado. Ele retribuiu, mergulhando nos fios vermelhos, copiando os movimentos de Gaara. Respondendo uma pergunta que sequer foi perguntada.
A cada toque, Lee soltava pequenas risadas, meigo.
E a cada risada, Gaara se apaixonava outra vez.
Uma de suas mãos percorreu a região da costela, em direção às costas de Lee, acarinhando com as pontas dos dedos. E a outra mão, sem muito espaço, descansava no peito bronzeado, que há muito também estava marcado. A respiração de Gaara batia contra o pescoço, como um convite, fazendo com que Lee se aproximasse de seu rosto. Das bochechas, no canto dos lábios. Procurando um beijo.
E encontrou. Lento e demorado, melancólico e rendido. A cada pausa para recuperar o fôlego, Lee repetia o quanto o amava, às vezes até entre os beijos, fazendo Gaara soltar risadas quase inaudíveis. Ele não se envergonhava de assumir o quão entregue estava, porque não tinha do que se envergonhar. A juventude só vai embora quando perdida e perdê-la, para Lee, estava fora de cogitação.
"Você tem que ir-" disse Gaara. Ou, pelo menos, era o que tentava. Sua voz saia falhada, com algumas sílabas perdidas naquele beijo – assim como ele estava. Desorientado, não fazendo questão de parar. A mão que antes estava nas costas agora encontrava-se no rosto de Lee. Ora em seu pescoço, na nuca, ora em seu rosto novamente.
"Eu sei..." respondeu, teimoso, beijando aos poucos toda superfície possível daquele rosto próximo ao seu antes de voltar à boca, variando entre selinhos e beijos mais longos. As mãos de Lee passeando pelos cabelos, os dedos brincando em sua nuca e depois descansando sobre os ombros. Vez ou outra descendo à cintura e subindo novamente, o fazendo tremer. Ah, sim. Cócegas.
O quinto Kazekage de Sunagakure se perguntava como pararia dessa maneira. Não tinha como.
"É sério." Embora Gaara tentasse convencer Lee que precisava ir, não queria que ele fosse. Talvez não estivesse pronto para vê-lo partir mais uma vez. Nunca esteve.
"Você pode me parar se quiser..." Lee seguia com seus mimos, beijando a cicatriz na testa, descansando seus lábios ali. Amor. Respirou fundo, sentindo Gaara fazer a mesma coisa, relutante em se desfazer daquele abraço.
Como dizer adeus assim?
"Eu posso..."
E assim ficaram. Por minutos, ou quem sabe, horas. Só o tempo poderia dizer.
Até Lee criar coragem, fazendo com que ambos sentissem falta daquele calor. Lee não estava despido, a considerar sua roupa de baixo que pra nenhuma surpresa também era verde. Pegou seu macacão, sandálias e acessórios enquanto Gaara se preparava para levantar da cama. Abotoava a camisa do seu pijama enquanto se aproximava da janela, esperando Lee terminar de se vestir e ajustar os pesos. Estava de costas pra ele, observando a cidade, absorto em seus pensamentos.
Estava tão imerso que não percebeu Lee se aproximando, aproveitando a deixa para abraçá-lo por trás, descansando o rosto em seus cabelos. Ficaram assim por alguns minutos, sem nada a dizer.
Foi, então, que Gaara finalmente se virou. Colocou suas mãos sobre o peito de Lee enquanto ele descansava as suas, desnudas de faixas, nos ombros de Gaara.
"Avisa quando chegar em casa," brincou Gaara, sussurrando no ouvido direito de Lee, o fazendo rir baixinho. "Boa viagem," finalizou, acariciando o seu rosto com uma das mãos e em seguida lhe dando um selinho contido, quase tímido. Suas mãos estavam inquietas, então mexia na gola do macacão e do colete como se tivesse alguma coisa para arrumar. Queria ele que tivesse, pois demoraria todo o tempo do mundo arrumando.
"Claro!" respondeu à brincadeira, segurando o rosto de Gaara com ambas as mãos, despedindo com um não-tão-último beijo.
Porque depois haveriam outros últimos beijos. E mais outros.
Após muitos caprichos e cerimônias, cheias de "agora é sério" ou "estou indo", Lee foi. Gaara o via partir, sabendo que ele olharia para trás. Mas antes mesmo de ir, a saudade já batia no peito. É como se ela nunca saísse, como se estivesse à espreita, esperando uma mínima brecha que fosse.
Doía e lhe apertava o peito, mas isso não importava.
Se havia saudade, havia amor. E se o tamanho do que sentiam um pelo outro fosse proporcional ao tamanho da saudade, transbordaria.
Ah, como transbordaria.
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Dengo • {gaalee}
Fiksi PenggemarAs despedidas sempre eram difíceis de modo que nada podia ser feito para mudar esse fato. Que se despeçam, então. Que um adeus se transforme em um milhão de palavras, fingindo enganar o tempo.