CAPÍTULO 02

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        Era primavera, eu senti falta da chuva

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        Era primavera, eu senti falta da chuva. Saudades dos dias de cobertor, pipoca e televisão, de quando você me chamava para ir na sua casa jogar Vídeo Game e brincar de Lego.

Nós crescemos.

Agora tínhamos de 13 pra 14 anos. Chegamos naquela fase: Falar sobre meninas.

E eu odiava aquela fase.

       Porque não queria falar sobre meninas com você e fiquei feliz quando você também não quis. Será que isso me tornava egoísta?

        Minha mãe andava muito triste. Triste demais para sair. Triste demais para fazer qualquer coisa. Eu diria que até mesmo triste demais para ser mãe.

Meu pai tinha ido embora com a nova namorada fazia uns meses, a única notícia que tivemos dele foi através dos papéis de divórcio enviados pelo correio.

         Você chamou meu pai de "Bundão", e eu ri porque era verdade. Você era o único que conseguia me fazer rir na cara da tragédia e da melancolia.

         Lembro do meu aniversário, o melhor que eu já tive, sua mãe nos levou ao parque de diversões e enchemos a barriga de algodão doce e cachorro quente. Você comeu igual um porquinho esfomeado e eu fiquei feliz porque era a primeira vez que eu o via com apetite depois das doses de remédio.

Você estava doente.

Eu sabia disso há muito tempo.

        Você tinha olheiras demais para um garoto da sua idade, se cansava facilmente e tinha uma grande maleta de comprimidos no canto da cozinha de casa. Garotos de 14 anos não deveriam ir ao médico com tanta frequência.

        Um dia, eu perguntei o que eram os papeizinhos que viviam grudados na parede do seu quarto, você me disse que eram números e horários.

Não entrou em detalhes, parecia frustrado então eu não insisti. Mas eu sabia o que eram. Sempre soube.

         Eu vomitei depois daquele dia na montanha russa, você não pôde ir porque já estava enjoado antes mesmo de entrar. Eu prometi te recompensar por ter me divertido no brinquedo sozinho, então minutos depois fomos no tiro ao alvo.

       Eu fiquei de olho no sapo roxo de pelúcia de aparência tosca, você parecia ter gostado e eu fiz de tudo para consegui-lo.

Era a sua cara querer coisas incomuns que ninguém mais queria.

Óbvio que eu não consegui.

Minha mira era péssima.

          Mas consegui um chaveiro do Bob esponja que você prendeu no zíper da sua mochila favorita. Significou muito para mim e — creio eu — que para você também. Era o que os amigos faziam, não é? Dar presentes um ao outro.

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