Perdoe-me, padre, pois eu pequei...
Acho que soou bem, né? Combina com a culpa católica que sinto. Vou chamar isso aqui de confessionário.
Mas assim fica a cara daquele programa de reality show do Brasil.
Boa noite, Thiago! Hoje meu voto é no Bokuto porque eu não consigo tirar ele da cabeça e noite passada — não deve ser novidade pra ninguém o que aconteceu já que o Brasil tá vendo —, comecei a achar que é de propósito. Então como ele é um grande adversário no jogo contra meus calos na mão e minha heterossexualidade frágil, meu voto é nele.
E lá vou eu: eliminado com altíssima rejeição por ser um pervertido e falso. Kuroo com K.
Brincadeiras sem graça à parte. Querem saber o que rolou noite passada? Na real, ainda não consigo falar sobre isso, então vou continuar seguindo os fatos em ordem cronológica. Vocês que lutem com a curiosidade.
Na manhã seguinte daquele banho, acordei com ele me observando.
O quarto tinha camas de solteiro, mas os colchões eram tão molengos que na primeira noite nós dois acordamos com dores a mais. Então dormimos em futons separados, um ao lado do outro, há uma palma de distância, mas separados.
Quando abri os olhos notei as mechas do seu cabelo espalhadas feito um ninho de pássaros; seus olhos inchados de sono refletiam o pedacinho da luz que se espreguiçava pelo quarto. Apoiando o cotovelo no futon e a cabeça na mão, o filho da puta me observava com um sorrisinho.
— Bom dia, Bro — saudei me espreguiçando para o outro lado, contendo o sorriso. — Admirando minha beleza logo cedo, é?
— Bom diaaa, Churoo! — ele riu do próprio trocadilho. Inventou essa de Churoo do nada e nunca mais esqueceu. Já até espero esse Churoo às vezes. — Você parece mesmo um gatinho dormindo, alguém já te falou isso?
Apertei as mãos sobre meu rosto, fingindo esfregar os olhos enquanto escondia o receio de ser flagrado com as bochechas vermelhas. Podia jurar que senti meu corpo esquentando com o comentário.
— E você parece uma coruja chifruda mesmo com esse ninho na cabeça.
Ele se aproximou e esfregou seu cabelo no meu ombro.
— Ah vai, Bro! Você gosta do meu cabelo, admite — disse manhoso, rindo.
Bokuto transitava entre 5, 15 e os 18 anos de idade em um piscar de olhos. Isso era engraçado e previsível. Já me sentei no futon, pois o conhecendo bem, a próxima parada era: cosquinhas.
— Não vou admitir nada, Bro.
— Então arruma ele de um jeito que você gosta!
Senti meus lábios se curvarem sem meu comando. Bokuto estava com aquela cara de cachorro sem dono. Tive a leve impressão de seus olhos estarem mais amarelados naquele dia. Lembro de ter lido algo sobre íris clareando quando expostas ao sol, mas as de Bokuto pareciam brilhar. Olhei mais fundo, uma das minhas mãos foi parar na bochecha dele enquanto me aproximava. E o pior é que só percebi os centímetros de distância quando ele me tirou do transe:
— Bro? Tem alguma coisa na minha cara?
— Ah- não. — Recuei gaguejando. — Seu cabelo tá ótimo assim, fica assim. — Passei a mão pelos cabelos dele, esparramando o ninho com os dedos.
A minha sorte é Bokuto ser inteligente só quando quer, então dessa vez ele riu.
— Você enlouqueceu, Bro. — Se levantou do futon, o cobertor caiu sobre seus pés. — Aposto que chego antes de você no café da manhã!
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Diário de Acampamento | Bokuroo
FanfictionEste era seu último acampamento de vôlei antes da faculdade. Kuroo tinha grandes expectativas para fechar com chave de ouro seu tempo de nekomata, mas uma repentina atração pelo seu melhor amigo mudou todo o rumo. Créditos da fanart: @hasan_2cha...