Diário de Acampamento | Bokuroo

Deliberado

Tá, tá, hoje conto o porquê comecei a acreditar serem propositais as provocações do Bokuto.

O jogo começou com Oikawa girando a garrafa. O bico apontou ele próprio.

— Sorte a minha: eu decido o jogo — ele anunciou. — Vai ser verdade ou desafio.

— Não estamos crescidos demais pra isso, Shittykawa?

— Claro que não! Antes é que éramos muito novos pra isso, Iwa-chan.

Iwaizumi o encarou como quem já esperava a resposta, mas não deixou de dar um tapinha no cotovelo de Toru. Vendo de fora essas trocas de farpas parecia até outro tipo de comunicação. Observei Bokuto com o canto do olho — ele estava do meu lado — e pensei se as pessoas de fora achavam o mesmo da gente; se tínhamos algum tipo de comunicação específica, tão específica a ponto de ninguém mais falar a mesma língua.

A garrafa girou e apontou para mim.

— Verdade ou desafio, Kuroo? — Oikawa sorria como se prometesse causar caos.

Mas eu não ia dar esse gostinho. Afinal, o que ele tem para expor sobre mim? Todos ali já conheciam meus podres.

— Verdade.

Ele cantarolou e disse:

— É verdade que você marcava encontros atrás do banheiro do ginásio da Nekoma depois das partidas?

Bokuto cobriu a boca abafando o riso.

Esse não era bem um podre, o que mais os adolescentes fazem senão uns amassos? O problema era quem encontrei lá, e pelo jeito Oikawa sabia. Esse era um assunto proibido na presença de corvos. E ele sabia disso também.

Saco.

— Verdade. — E antes que ele pudesse comentar mais alguma coisa, emendei: — Minha vez! — Puxei a garrafa e girei.

Oikawa só engoliu as palavras ao ver quem seria o próximo.

— Verdade ou desafio, Iwa?

Hmm, será que eu deveria? Sorri.

— Desafio — ele disse engolindo em seco.

— Te desafio a contar algum podre do Oikawa.

— Ei! — Toru tentou se defender. — Não é assim que se joga, Kuroo!

— Ah, vamos, Oiks, é um desafio — Bokuto interviu. — Tá com medo é?

Esse é o meu Bro. Toquei nossos ombros demonstrando meu orgulho e ri com ele.

Então algo inédito aconteceu: Iwaizumi olhou de relance para Oikawa, foi uma olhada rápida, mas eu estava atento o suficiente para perceber o "não fica bravo comigo" escrito nas íris. Sim, o querido Iwa-chan raivoso pedindo desculpas com os olhos. O que posso dizer? Sou muito bom lendo pessoas. Principalmente as que estão distantes de mim. Eu deveria fazer psicologia em vez de química.

— Oikawa peida sempre que come feijão. E não é um simples peido, é tipo gás lacrimogêneo! Não dá pra ficar perto sem chorar de fedor.

Risadas explodiram pelo quarto. Daichi tirou sarro de Oikawa em alguns comentários. Isso não era bem o que eu esperava como podre, mas foi o suficiente pra provar minha teoria: Iwa tinha sentimentos além da broderagem por Oikawa. Aquela olhadinha não se dá pra qualquer um. Será que Oikawa sabia disso? Será que eles estavam apaixonados reciprocamente?

Não sou nenhum fofoqueiro! É só que esse assunto tem me chamado bastante a atenção ultimamente... Sei lá!

Iwaizumi girou a garrafa e o jogo continuou. Um por um foram escolhendo verdade e quando parava em alguém menos "maldoso" como Asahi, escolhiam desafio.