Culpado

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Como ganhei a aposta, Bokuto me levou de bike até o pico para chupar sorvete.

— Bro, por que tá pegando esse caminho? — perguntei. Minhas mãos tremiam ansiosas, queria tocar sua cintura com mais pressão, mas me controlava segurando só o suficiente para não cair da bike. O chão não era asfaltado, isso dificultava. Mais tempo ali e não sei se aguentaria. — É mais próximo pelo outro lado.

— Você não gosta de andar de bike comigo, Bro? — devolveu manhoso.

— Não é isso, é que — mais um pouco e eu vou te agarrar e vamos os dois pro chão — esse banquinho faz minha bunda doer.

Seus ombros pulavam enquanto ria.

— Faço uma massagem pra você depois, Bro. Aguenta só mais um pouquinho aí.

Engoli em seco. Uma. Massagem. Na. Bunda. Essa veio da série: os privilégios da brotheragem.

Hm! Pera aí! Realmente, tenho privilégios nessa relação, né? Não é como qualquer amizade, é uma amizade super íntima. Com direito a massagem na bunda, beijar outra pessoa trocando olhares, bater uma pensando... (será que ele já bateu uma pensando em mim?). Enfim, vocês entenderam! O ponto é: posso me aproveitar disso.

Seria horrível?

Não, né? Tem até uma citação famosa sobre isso. Como é aquele rolê lá mesmo? Com grandes amizades vem grandes responsabilidades, tô certo!

Não sei, eu só to desesperado, preciso entender isso antes que...

— Chegamos! — ele anunciou, parando a bike.

— Minha bunda agradece. — Desci da bike massageando a dor. Sei que usei aquilo como desculpa, mas, no fundo, é verdade. Uma massagem não seria ruim.

Sua camisa sempre deslizava pelas costas quando ele inclinava o tronco, dessa vez, enquanto arrumava o pezinho emperrado da bike, não foi diferente.

— Qual sabor você vai querer, Bro? — Ele se levantou olhando pra mim, determinado.

Céu da sua boca. Mas eu disse:

— Céu azul?

Ele anuiu procurando pela moça da barraquinha:

— Volto já.

O pico perto do ginásio do acampamento é demais. Estamos bem afastados da cidade, então copas e mais copas verdes de árvores se agitavam com o vento embaixo do pico, as folhas farfalhavam. Levantei a cabeça e deixei a brisa bagunçar meu cabelo.

Leves momentos de calmaria.

Atrás de mim, se erguia uma árvore imensa com o tronco assinado pelos jogadores. Pensei em gravar K.T. + B.K. Só pensei mesmo, não tinha um canivete.

Vendo melhor agora, ainda bem que eu não tinha um canivete, ficaria parecendo coisa de casal!

— Aqui, Bro — Apareceu atrás de mim. — Céu azul.

Ele deve ter enxergado algo diferente no meu rosto, já que sugeriu como se fosse um consolo:

— Vamos apostar quem termina primeiro sem morder o picolé?

— Você não cansa de perder pra mim? — Sorri sacana.

O que quer que ele tenha tentado consolar em mim, conseguiu: vitória estampava seu rosto. Isso me fez pensar se alguma vez já ganhei dessa cara.

Ele interpretou meu sorriso como um sim: enterrou o picolé na boca contornando toda a parte seca.

O picolé estava inteiro molhado, ameaçando pingar quando fora da sua boca e eu estava começando a suar.

Diário de Acampamento | BokurooOnde histórias criam vida. Descubra agora