Filhas da Deusa

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 A história que vou contar de nenhuma maneira se passa nesse mundo, mas em um universo alternativo, onde a Terra é povoada por seres como híbridos de vaca e humano, lagans e outros tão bizarros quanto. Espero que não fiquem entediados com a história. 

 Nesse mundo, os híbridos comandavam. Todos eles descendiam da Deusa-Vaca, um ser celestial que gerou sozinha seus rebentos para povoar o mundo. Os outros seres? De onde surgiram? Bom, de entidades inferiores. 

 Porém, nesse mundo, os híbridos não se deixaram levar pelo poder. Por mais que fossem idolatrados, jamais escravizaram os inferiores nem os maltratavam. Ao contrário, davam espaço para que cada um pudesse assumir seu lugar sem problema. 

 Os lagans os adoravam como deuses. De alguma maneira são quase isso, mas falo sobre isso depois.

 Certo dia, em algum momento da história dos híbridos, duas entidades se encontram. Uma delas é chamada desde o nascimento de Moh. Moh é esperta, rápida e sagaz. Seu trabalho na sociedade é ajudar outras pessoas a se curarem dos males. Algo como a medicina.

 A outra entidade é chamada de Loh, isso desde... Isso mesmo, o seu nascimento. Vejo que está prestando atenção. Ela mostra a outras pessoas a história do seu povo e como eles chegaram até ali. Algo como um professor de história, só que mais legal.

 Um belo dia, as duas seguiam por caminho opostos e se esbarraram. Aquela velha história: Moh se atrasou para fazer os atendimentos no hospital, e Loh inventou de se atrasar justamente no mesmo dia, acredita? O pessoal que Loh dava aula estava perguntando sobre o paradeiro dela. O hospital numa esquina na mesma rua que a escola.

 Voltando para o que eu dizia, elas se esbarraram. Sim, elas. Mas peço para que não se prendam muito a gêneros ou irão se confundir. Vou explicar isso daqui a pouco.

 Moh deixa cair um aparelho que por intuição você diria ser um celular. Na verdade, aquilo era onde Moh anotava coisas importantes, como arrumar a casa no 5/12 dia (do ciclo de Clabstron vigente). Coisas assim.

 Como aquilo era importante, Loh guardou aquilo no bolso do seu casaco, e correu para a aula. 

 No dia seguinte, Loh encontra Moh e devolve o aparelho para a dona. Normal. Mas sabe aquela sensação estranha que surge quando você olha demais alguém? Uma mistura de desconforto e vontade de rir? Ambas sentiam isso.

 Moh pergunta para Loh, a mais tímida, se ela não queria o endereço de Moh para visitá-la. Vai que dá vontade.

 Loh pega o endereço. E passa a visitar Moh frequentemente depois do trabalho. Naquele momento que você só quer cair na cama e esquecer que tem vida. Loh não é normal. Mas ela é meio vaca, e essa história não era para ser normal.

 Desses encontros, surge aos poucos um novo sentimento. Algo que era uma mistura de desejo de aproximação, de sintonizar-se com a pessoa e de algo mais irracional. Tudo junto.

 Com o tempo e com os encontros, elas se acostumam e gostam daquele sentimento. O provocam, buscam seus limites, o que os amplia. A coisa evolui para o contato, os segredos que não se conta para mais ninguém, as brincadeiras entre as duas, os passeios para ver o pôr-do-sol e tudo mais.

 Em algum momento da história, Moh percebe que já era hora de criar laços mais profundos com Loh, e propõe que as duas se vejam com mais frequência. Em um desses dias, Moh desperta seu lado oculto e... Bom, Moh poderia ir além de seu gênero, por assim dizer. Por isso avisei que apegar-se ao gênero acabaria confundindo o leitor.

 Pois é, Moh tinha o necessário para acasalar e procriar com Loh. Bizarro. Já perceberam que com os humanos acontece algo parecido? Nossa. Você "ama" alguém e se junta com ela. Depois estão fazendo as coisas mais nojentas entre si. Nossa, melhor parar de falar disso.

 Assim como a Deusa-Vaca, Loh gera um novo ser após ser copulada (bizarro) por Moh. Agora entenderam. Espero que sim. Você acenou a cabeça? Vou considerar como um sim.

 Depois de 48 ciclos de Clabstron, Loh dá luz a uma nova entidade, chamada de Qinh. Considerado como algo mais próximo de um garoto, Qinh cresceu saudável e Moh cuidou para prover tudo que Loh precisava para ela e para a criança. Meio que Moh cedia leite para Moh ter nutrientes para alimentar o pequeno(a) Qinh. Eu estou noiando muito agora.

 Ambas venderam suas casas provisórias e partiram atrás de uma moradia maior. Agora elas formavam uma família.

 Qinh cresceu e quando estava na passagem para a adolescência, se encontrou em uma situação curiosa.

 Os lagans idolatram os híbridos como deuses, como eu expliquei antes, e uma família de lagans foi trabalhar na casa de Moh e Loh. Na família, havia uma garota que via o jovem Qinh de uma maneira... Diferente. O via como supremo, como maior que os híbridos. Os seus olhos brilhavam quando falava dele. Ela passou a se dedicar a ele de um jeito especial.

 Qinh respeitava os lagans, mas isso não fazia com que ele a admirasse. A lagan, que chamo de Myari, se dedicava a agradá-lo, mas ele acreditava ser normal. Que ele deveria agradecer por isso. E ele agradecia, mas isso por algum motivo não satisfazia Myari. Ela queria ser o braço direito de Qinh. Moh percebeu a dedicação e, tentando acreditar no que ocorria, conversou a noite toda com sua parceira Loh. Loh pensou em um plano e confiou a Moh para executá-lo. 

 Myari foi expulsa da casa de Qinh, e ele percebeu estar preocupado com ela. Ela não estava mais ali, para admirá-lo e elogiá-lo. Para alegrá-lo nos momentos de tristeza.

 A família de Myari não entendeu o que aconteceu e foi falar com Loh, que chegava da escola naquele momento do dia.

 Loh conta que estava acontecendo algo extraordinário naquela casa. E contou com detalhes o ocorrido, elogiando a dedicação de Myari para Qinh.

 Um belo dia, no caso um dia diferente dos outros (frio, chuvoso e nublado), Qinh pede para ficar junto de Myari. Moh e Loh se espantam com o pedido. Qinh não desiste e parte atrás de Myari, que estava na casa dela, trancada em seus aposentos. Qinh bate a porta e a chama. A porta abre e uma menina chorosa aparece. Qinh a segura antes de cair aos seus pés. E elogia seus olhos, algo que nunca teve coragem de dizer para a lagan. Então a abraça forte.

 Os dois voltam para casa na chuva, mas não é a mesma coisa. Qinh se esforça para compensar o esforço de Myari, mas se decepciona quando vê que ela o ajudou tanto que ele não consegue retribuir. Myari conta que ela fez aquilo porque ele precisava, e ele não precisava retribuir. Afinal, ela já tinha o que queria.

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