A gente costumava ficar olhando a chuva e conversando sobre qualquer coisa, qualquer bobagem. Ela dizia coisas interessantes, falava muito mais que eu. Eu sempre ficava quieto, olhando a chuva e ouvindo-a, depois, direcionava meu olhar e observava aqueles lábios se movendo. Falávamos sobre a lua, vida fora da terra, felicidade, casamento, planos para o futuro. Às vezes ela dizia que ia me ensinar a cozinhar, e eu dava risada.
Os trovões, às vezes, acabavam assustando-a, e ela se agarrava em meu braço e colocava o rosto em meu pescoço, procurando proteção. A ideia de dar-lhe proteção fazia com que eu me sentisse importante, feliz. Eu sorria e abraçava. Ainda me lembro de cada momento, às vezes ainda posso sentir seu rosto em meu pescoço através dos pensamentos e, em alguns momentos, em sonhos.
Se ela soubesse da tempestade que acontecia dentro da minha cabeça. Ela soube um pouco, mas sorria e dizia que não conseguia entender de onde surgia tanto sofrimento. Sofrimento? Nasci com isso. Como dizem "viver é sofrer", e ela dava risada e dizia "que frases inteligentes", sempre dizia isso de um jeito engraçado.
O sofrimento só chegava quando ela ia embora, dizia que precisava voltar, e quando eu a via sair por aquela porta, o sentimento de solidão ganhava espaço. Mas, eu sempre tinha um jeito de me confortar - não fazia com que eu me sentisse cem por cento estável, mas ajudava - eu ficava me lembrando dos nossos momentos, e sei que você olhava através da janela do quarto e via a lua, e também pensava em nossos momentos.
Nossos momentos de paz, de silêncio, de amor, de desabafo, de compreensão, de brincadeiras, de quietude completa, onde nos afagavamos apenas com o olhar. Se lembra? Eram momentos tão bons.
Bukowski escreveu algo que se encaixa com isso. É um poema que eu gosto bastante. Em um trecho ele diz:
Quero
no entanto
que ela saiba
que todas as noites
dormindo
ao seu lado
Que mesmo as discussões
inúteis
sempre foram
esplêndidas
E que as palavras
difíceis
que sempre temi
dizer
podem agora ser ditas:
Eu te
amo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A saga das estações - Verão - Livro um ✔
PoetryAmar e ser amado (Castro Alves) Amar e ser amado! Com que anelo Com quanto ardor este adorado sonho Acalentei em meu delírio ardente Por essas doces noites de desvelo! Ser amado por ti, o teu alento A bafejar-me a abrasadora frente! Em teus olhos mi...
