capítulo 5 |Silêncio

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Penso noventa e nove vezes e nada descubro; deixo de pensar, mergulho em profundo silêncio - e eis que a verdade se revela.

Autor desconhecido

...

  Caminhavamos na estrada desbloqueada depois do pequeno show de horrores.Admito que poucas vezes na vida eu estive tão desesperado, o que aconteceu foi o seguinte: Eu tive um pesadelo, nesse pesadelo Misty acertava aquela bala na própria cabeça.
  Tudo se repetiu assim como no meu sonho exceto pelo desfecho.Misty contribuiu muito para que esse pesadelo não transformasse em realidade.Você já conheceu uma garota perigosa e pensou que seria uma pessima ideia ser inimigo dela?
Era assim que eu me sentia perto da Misty.
  Eu sabia que ela podia me apunhalar com uma das suas facas enferrujadas se eu lhe desse um bom motivo.Ela podia ter me matado com a mesma facilidade que matou aquele zumbi.Podia ser o meu crânio rachado no lugar do dele.
  Ainda assim ela optou por não acertar aquela bala na minha testa então eu podia dizer que passei a respeita-la depois disso -talvez por medo de que sua próxima bala fosse na minha direção- isso não significava, nem de longe, que eu estava menos chateado com ela.
 

Conversamos sobre quase tudo dutante o trajeto como se já nos conhecessemos a décadas entretanto não falamos sobre algo muito importante: o nosso verdadeiro objetivo.Objetivo esse que Misty já conhecia e além de não me contar sugeriu que era uma tarefa impossível.
  Passei a mão no bolso só para ter certeza de que o livro estava lá.Você já deve saber, caro leitor, que nosso objetivo na bola de hamester era nos apaixonar,corrigir os erros do passado...Se quer saber minha opinião eu achava impossível corrigir o nosso erro pois nós éramos um erro.
  Minhas atitudes sem dúvidas não condiziam com o meu perfil, normalmente eu resolveria meus problemas tendo uma conversa franca com minha companheira entretanto eu simplesmente não tinha ideia de como abordar o assunto.Misty era uma garota legal mas me apaixonar por ela? Nem pensar.
  Eu tinha um bom motivo para isso: eu já havia me apaixonado por ela antes e isso me destruiu.Se tivesse que perde-la de novo não saberia como me recuperar então era melhor não correr o risco.
  Além disso eu tinha acabado de sair de um relacionamento longo e conturbado que acabou de forma desastrosa.Eu não estava pronto para amar de novo, ainda assim o fato de Misty achar impossivel se apaixonar por mim me chateava.
  A ideia de que ela pudesse se apaixonar por mim, por outro lado, era assustadora (causava um medo que denunciava que eu não me recuperei totalmente do que tivemos e me dizia mais do que eu era capaz de ouvir).
  Chegamos a uma encosta ingrime onde deviamos descer Misty foi primeiro e me disse para tomar cuidado isso foi o mais perto que chegamos de uma conversa até o meio-dia quando paramos para almoçar e ela sugeriu que andassemos mais rápido pois já estavamos mais atrasados do que o previsto.
  Assim que descançamos continuamos num trote rápido até o anoitecer quando escolhemos um lugar não muito longe da trilha para acampar, montamos a barraca e acendemos uma fogueira.Meu corpo deixava evidente os sinais de exaustão e cansaço.Não é como se fosse fácil andar naquele ritmo durante uma tarde inteira.
  E apesar de aparentar ter um preparo físico melhor que o meu diversas vezes vi Misty respirando com dificuldade e apertando a mão na região próxima ao coração.Aquilo me preocupou, me via responsavel pelo seu bem-estar por conhecer seu histórico médico melhor do que ela entretanto apenas por esse motivo.
  Sentamos em torno da fogueira em pontos distantes um do outro e nos alimentamos sem conversar.Essas refeições nos deram vantagem em tempo e eu estaria feliz por não perdemos tempo falando sobre coisas sem importância se não sentisse tanta falta da sua voz.

-O primeiro turno é meu -Misty declarou sem me olhar. -Eu te acordo daqui a quatro horas.

  Me dirigi até a barraca e lá dentro fiquei um tempo encarando a dança das chamas que projetava sombras na lona da barraca. Antes que percebesse entrei num mundo de sonhos onde nada fazia sentido.As vezes eu sentia que se pudesse decifrar meus sonhos conseguiria finalmente achar a solução para os meus problemas.
  Despertei desse mundo com um ruído, levantei assustado, imaginando que talvez Misty estivesse com problemas.Tudo lá fora estava silencioso, nenhum perigo aparente e Misty estava com o rosto enfiado no travesseiro quando percebi que o ruído que eu ouvi foi provocado por ela meu corpo relaxou.

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