Imagens refletidas

A tristeza do homem que fazia rir

Nem gosto mais de quando o carteiro deixa a correspondência. Só contas, contas e mais contas. Oh! Essa é nova. Será que ganhei aquela promoç... Carta de despejo. Bem que desconfiei que aquele gordo bigodudo, dono do prédio, não ia tolerar 3 meses de aluguel atrasado.

Devia ter usado melhor o dinheiro do cachê. Mas não, tive que farrear. Bem que minha mãe disse: “Não vai gastar todo seu dinheiro com mulher e bebida!”. Devia ter guardado um pouco, porém aquela ruiva era tão linda! E ficou ainda mais com os diamantes que lhe dei. Pena que roubaram o celular dela. Deve ser por isso que não atende mais minhas ligações.

Cai na real André, você está falido! Deslumbrado, usado e sem dinheiro. Não devia ter saído de Minas. Lá eu tinha um emprego na lavoura, uma namorada que me amava... Deus! Livrai-me dessa tristeza. O que meu pai diria se me visse assim? “Levanta dessa cama, rapaz. Vá atrás do seu sonho. Você tem talento, ficar aqui não te dará oportunidade nenhuma.”

Você está certo pai, eu tenho talento. Cadê o número daquela casa de shows? Alô, eu queria saber se ainda tem um vaga pro show de hoje. Ah, já foi preenchida? Obrigado.

Campainha? Só pode ser o gordo. Sim? “André, onde você se meteu rapaz? Estou tentando falar com você há dias! Mudou o número de telefone? Não importa, o público adorou o show que você fez mês passado e quero que você se apresente por muito tempo lá no Salão.”

Será que, enfim, vou ter meu final feliz? Não acredito que estou num palco novamente. Pela fresta da cortina vejo o público ansioso. Todos gostam de um show de humor. Talvez ele ajude as pessoas a esquecer de seus problemas por um tempo. E eu aqui com os meus. Mas não por muito tempo, logo eles acabarão. Eu estarei fazendo o que gosto, deixando as pessoas alegres, fazendo-as esquecer do que é ruim. Vou retomar minha vida, fazer tudo diferente dessa vez. Com certeza essa é a oportunidade que tanto pedi a Deus.

Tenho que deixar os pensamentos tristes de lado. O show já vai começar. Hora de eu fazer o público dar umas risadas e, pelo menos por algumas horas, ser feliz também.