A música do vizinho

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"De onde vem essa música?" Diana não parava de se perguntar. No começo, ela pensou que vinha do apartamento ao lado. "Aquele pirralho e suas aulas de piano". O pequeno filho dos Soares havia começado a fazer aulas particulares após herdar o velho piano de cauda de seu avô. Para os pais do garoto, Diana falava que ele tinha jeito, que com treino ele seria um ótimo músico. Porém, ela sabia que não. Apenas um milagre faria o garoto tocar o instrumento como se deve.

Depois de um tempo ouvindo aquela música, Diana sabia que não era o vizinho. Estava divinamente perfeita, nunca poderia ser o garoto. Além do mais, os vizinhos saíram de viagem naquela manhã.

Na perfeição daquela melodia, Diana percebeu algo estranho. Um tom lúgubre embalava aquelas notas que ainda pareciam vir do apartamento ao lado. De repente, uma curiosidade insana tomou conta da jovem, que se viu à porta dos Soares para saber quem estava tocando. Chegando, viu que o apartamento estava aberto. “Será que eles não foram viajar?”. O mais sensato seria falar com o porteiro, averiguar se ele havia percebido alguma movimentação estranha. No entanto, a música sinistra chamava-a para dentro do apartamento dos vizinhos.

Ao entrar, viu as malas arrumadas num canto. O som da música ficara mais alto. “Ela vem mesmo daqui”, concluiu Diana. À medida que entrava no apartamento, notou que a louça de família estava toda em cacos pelo chão. As notas tocavam no fundo da alma de Diana. “O que estou fazendo aqui?”

Na sala onde estava o piano, viu toda a família sentada e amarrada. Suas faces estavam sem cor. A única cor do ambiente se espalhava pelo chão: vermelho. Ao piano, uma figura dedilhava a tão misteriosa música. Uma faca ensanguentada repousava sobre o instrumento. Enquanto Diana observava a cena, a música parou. O pianista olhou em seus olhos, pegou a faca e disse: “Quer tocar?”.

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