Uma investigação, e uma lembrança

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~sim, ela voltou 😊~

Katie P.O.V

Fazem quatro dias desde... O acidente. Não estou tendo tempo nem de respirar: missões de busca pra cá, tranquilizar cidadãos pra lá, além do fato de estar organizando um funeral, que já deveria estar com os preparativos prontos ontem.

- Meu amor, os purrekos estão fazendo várias reclamações... - Leiftan chega na Sala do Cristal, enquanto estou assinando mais papelada.

- Ah! Não venha com mais trabalho, por favor! - bato a minha cara contra as folhas que eu estava escrevendo.

Ouço ele dando uma leve risada.

- Eu sei que você está sobrecarregada, mas não precisa descontar isso no papel. - ele se senta ao meu lado.

- Eu não sei como a Miiko conseguia fazer isso tudo, e ainda ter uma pausa pra almoçar, jantar e dormir.

- Quer que eu lide com algumas coisas por aqui? Aí você pode ter um tempo para descansar, pode até chamar o Kaiot pra uma revanche no truco.

- Leiftan, você sabe muito bem que eu nunca venci dele.

Dessa vez ele não segura a gargalhada.

- Nem eu, nosso filho é realmente inteligente.

- Ou sabe manipular cartas muito bem. - falo.

- Espera, Kaiot sabe manipular cartas?

- Os salafrários do Nevra e do Simon ensinaram a ele quando tinha 8 anos.

- Eu nunca mais vou deixar Kaiot embaralhar as cartas nos jogos...

Finalmente, eu consigo rir. Meu marido sabe muito bem como levantar meu astral.

- Hey, atrapalho? - Simon surge na porta, dando dois toques na mesma.

- Pode me explicar porquê ensinou Kaiot a trapacear num jogo de cartas? - Leiftan pergunta, e prendo o riso.

- Ué, seria injusto ensinar pra todos, e pra ele não.

- Você ensinou pra todo o grupo a manipular um baralho? - pergunto.

- Mas é claro! Achou que eu iria morrer sem passar esse dom pra frente? - ele diz, se vangloriando - E o Kott nem é o melhor nisso, ele sempre é tombado pela Ezydra.

- Tá bom, tá bom, vamos deixar esse assunto pra lá. Tem algum motivo pra ter vindo aqui, Simon?

- Claro, meu cunhadinho querido. - Leiftan faz uma careta - A oitava expedição de busca que vocês mandaram já voltou.

- E?

- A mesma coisa de sempre. Ou seja, não acharam nadica de nada.

- Espera, então tudo o que sobrou da menina, foi um dedo?

- Bem, é o que parece ser.

- Sem nenhum osso? Mais nada? - Leiftan continua.

- Mais absolutamente nada.

- Poderia chamar o resto do pessoal, para debatermos isso melhor?

- Claro Baixinha, seu desejo é uma ordem! - Simon faz uma reverência dramática, antes de deixar a sala.

Mas em menos de cinco minutos, ele já estava de volta, com praticamente toda a Reluzente.

- Prontinho, todos estão aqui, assim como pediu!

- É melhor isso ser importante, que eu estava terminando meu pão de mel quando esse maluco me chamou! - Ezarel reclama.

- Se eu sou maluco, você é o que? - meu irmão recebe um olhar mortal do elfo, que é respondido por um sorriso debochado.

- Bom... Nevra, você que estava responsável por essa patrulha, não é? Poderia fazer um resumo geral de como foi?

- Claro.

Uns dez minutos de explicação depois, para chegar na mesma frase de antes:

- ... Em suma, não achamos nada.

O silêncio dominou a sala.

- Nunca ouve um caso tão brutal de um ataque de BlackDog. - Ezarel diz -Bom, eles já mataram muitas pessoas, mas sempre deixaram restos para trás. Além disso, como que ele devorou todo o corpo dela em tão pouco tempo?

- Mesmo se ela tivesse sobrevivido ao ataque em si, provavelmente ela teria morrido de hemorragia, e com ferimentos graves, ela não podia ter se rastejado para muito longe.

- Vou falar denovo, Miiko. De acordo com os meninos, com o pessoal da patrulha que fizemos hoje de manhã, e comigo próprio, não tinha nenhum corpo. - Nevra repete.

- Mas que história cabeluda... Mais cabeluda que o platinado aqui. - ouço um bufo vindo de Valkyon.

- E se ela conseguiu sobreviver, mas ficou perdida? - pergunto.

- Karol não deve ser tão burra assim, maninha. Ela e Sophie já estão aqui a quase uns três meses, nem sei mais quanto tempo, não é possível que ela tenha se perdido tão fácil assim.

Suspiro.

- Bem, se é tudo o que conseguimos em mais de sete buscas em quatro dias... O melhor a se fazer é suspender as expedições, e focar em fazer um funeral descente para a menina.

Todos assentiram.

- Obrigada por comparecerem. Estão dispensados.

Depois que a Reluzente foi embora, Leiftan insistiu pra mim tirar o dia de folga. Acabei cedendo, e fui brincar com Sky, pra espairecer a cabeça. Eu fico o observando dando razantes no céu, e cortando pequenas nuvens com suas asas.

Eu nem consigo imaginar a dor que Sophie está sentindo. Nem posso imaginar, o quanto está se sentindo culpada, desemparada e desestabilizada. Seu coração deve estar em pedaços.

Sky atravessa mais uma nuvem, e uma memória volta a minha cabeça. Uma memória tão antiga, que quase parece de outra vida.

Dois irmãos, felizes, brincando de bola no quintal, perto de uma rua movimentada.

Eles estão tão inertes na brincadeira, que quase não se tocam quando a bola escapa das mãos deles, parando no meio da rua.

Um dos dois foi buscar a bola, para voltarem a brincadeira, antes da mãe chamá-los para almoçar.

Mas vem um carro, e...

Sinto um aperto no coração.

Ah... Faz tanto tempo que quase me esqueci. Eu consigo imaginar sim. Na verdade, consigo lembrar como é estar assim.

Feather II - The New BreedOnde histórias criam vida. Descubra agora