Mudança de pele

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   Yaman acordou com a luz do dia teimando em entrar pela janela, mas a vontade de abandonar as cobertas eram ínfimas. No corpo ainda sentia o calor dos beijos dela e na pele o ardor dos riscos de suas unhas, estava deliciosamente dorido por causa de uma noite intensa, mas sentia-se leve e rejuvenescido como se tivesse bebido o elixir da vida em cada suspiro partilhado de êxtase. Não podia dizer que era inexperiente naqueles assuntos, mas podia confessar que a sintonia estonteante e a entrega total fora uma surpresa, nunca tinha feito amor antes, mas agora sabia o que era pertencer a alguém, o que era ter uma alma gémea!

Seher pensava em sair da casa de banho enrolada na pequena toalha de rosto que encontrou, quando entrou não se lembrou de levar nada pois tinha a cabeça ainda nas nuvens, agora sentia a vergonha de ter de sair completamente molhada, sem roupa interior e de cabelos a pingar. Esperava ainda apanhar seu marido a dormir pois não sabia bem como agir daqui para a frente, tinha sido pega de surpresa pelo cuidado e paciência de Yaman, pelo carinho com que ele a iniciou nos caminhos da intimidade e mesmo agora, depois de ter lavado os indícios de uma noite perfeita ainda se sentia languida e ardente como se o fogo já não pudesse ser apagado, mas assim que colocou os pés no quarto, encontrou seus olhos gulosos e volta ao seu jeito tímido e acanhado.

-Onde foi a minha esposa sem mim?

-Tomar banho, mas não levei roupa. Ela foge para dentro do armário á procura de roupa e faz intensão de voltar para se vestir longe do olhar dele. Num instante ele salta da cama e impede a fuga dela ao prender o seu corpo contra a parede, como tinha feito muitas vezes antes. Encurralada dentro dos braços do arqueiro ela passeia os olhos pelo corpo trabalhado encapsulado em pele branca, aquela visão era totalmente nova para ela, mesmo totalmente nu Yaman era um homem imponente, mas ela mantinha bem segura a toalha debaixo dos braços como se fosse uma barreira de proteção.

- Hayatim, acha que essa toalha a protege de mim?  Brinca ele enquanto raspa a barba dele pelo o ombro desnudo e enche o peito com o cheiro que emana da pele dela. Foi o suficiente para Seher atirar a timidez dela para o chão junto com a toalha, abraçar aquele corpo e oferecer seus lábios como engodo para o trazer para mais perto.

-Sabes quantas vezes te imaginei assim?

-Sabes quantas vezes quis que envés de gritares comigo, me beijasses?! 

   Estava á espera que o seu marido saísse finalmente do quarto, o dia estava quase a meio, já tinham falhado o pequeno almoço, mas ninguém tinha aparecido para os chamar, nem mesmo Yusuf. Estava acordado que dentro daquelas quatro paredes seriam apenas eles, Yaman e Seher, sem qualquer reservas nem segredos, mas para honrar esse compromisso teriam que começar já.

-Yaman (como adorava chamar o seu nome) podemos conversar?

-Evet Hayatim. Ele sai para o escritório vestido no seu melhor tom de azul, que ela tanto adorava.

-Está na altura de me contares sobre o dossier azul.

-Nem sei bem como começar esta conversa, mas espera, como sabes que era azul?

-Tu és meu marido, mas Firat é meu irmão! Ele tinha a certeza que mais tarde ou mais cedo eu iria saber e ele sabe muito bem o que eu sou zangada!

-Eu também sei...

-Mas isso não impediu de mais uma vez me manter longe dos problemas. O que iria acontecer se eu descobrisse depois?

-Provavelmente voltaria para o sofá!

-Sabemos bem que pedir desculpa não é algo que consiga fazer, o teu orgulho é maior do que qualquer coisa.

-Não é mais! Tu e Yusuf são mais importantes do que qualquer orgulho e se tiver que te pedir desculpas todos os dias eu o farei.

-Então iremos presumir que Zuhal e Selim estavam juntos na armadilha?    Aqui estava o momento que Yaman tanto receava, naquele momento ele tinha que decidir se iria continuar a omitir os seus pensamentos e preocupações ou se iria honrar o que tinha jurado horas antes á mulher que amava com todo o seu ser. Sabia que era um passo que não teria volta, depois de abrir a porta a ela, estaria a dar a conhecer todo um mundo de perigos e inimigos e não sabia bem se ela estaria preparada para ser apresentada como a Senhora Kirimli.

-É melhor não presumirmos nada, afinal a fila de inimigos é grande! Tem a certeza que quer saber de tudo? O meu mundo não é branco e rosa e a escuridão nos cerca de todos os lados. Sen iyi bir insansin (Você é boa pessoa) não tem alma para estas guerras!

-Isso era antes, hoje eu sou uma nova mulher...Konuş( Fale)!


-Tem visita para a senhora.

-Minha irmã?

-Não, é um homem.

-Não tenho mais ninguém. Zuhal ficou preocupada, quem poderia saber que estava presa? Tinha saído da mansão no outro dia, mantinha parca conversa com a irmã uma vez que esta pouco tinha feito para a defender muito menos a avisou que tinha sido presa pelo comissário assim que tentou vender as joias. Ela não esperava que Yaman tivesse feito queixa na polícia, mas assim que foi enclausurada soube que a acusação era de falsificação de documentos, fraude, roubo e difamação, ou seja iria passar o resto dos seus dias a pagar pelos planos de Ikbal.

-Quero ver quem é, vou receber!

Estaria Yaman arrependido de ter dado queixa? Teria sua irmã convencido a camponesa a ser benevolente e lhe enviado um advogado de defesa? Em todas as hipóteses que colocou nenhuma a preparou para o homem que entrou.

-Zuhal, está bem?

-O que faz aqui?

-Estou a tentar tirá-la daqui!

-Sen?-

Evet.

-Ne den?

-Tentei protege-la o mais que pude, mas a sua irmã colocou o seu nome em tudo. Ela certificou-se que se as coisas desmoronassem, Yaman iria descobrir um culpado e não procurar mais.

-Está a dizer-me que sabe de tudo?

-Evet, desde que o dossier veio parar ás minha mão, soube que tu serias implicada e por isso não fiz nada. Acabei por trair o único homem que me deu a mão, por ti!

-Mais uma vez pergunto, porquê?

-Porque me apaixonei! Traí meu irmão de armas por uma mulher!

-Por mim?   Nedim estava do outro lado das grades com um aspeto descuidado, de barba por fazer e fato amarrotado. Desde que recebera a missão de descobrir a veracidade do dossier que não conseguia descansar, pois a culpa de manter o silencio era enorme. Como poderia contar a Yaman que tudo era falso sem lhe dar o nome do mandante? Ele conhecia o homem há mais de oito anos, tinham sido colegas de sela na pior altura, foi ele que o ajudou a mudar de rumo e a ele deve a sua vida. Mas é com ela que ele sonha! Ele sabia que no momento que as provas falsas fossem escrutinadas o nome dela viria á tona e nada a poderia salvar da ira de um Kirimli, por isso se fez de incompetente, deixou que a patroa fosse sacrificada, mas salvaria o seu amor.

-Só tens uma hipótese, temos que conseguir implicar Ikbal em tudo o que aconteceu, achas que consegues isso? Essa será a única maneira de aplacar a fúria de Yaman. Zuhal não sabia se podia confiar naquele homem. Sabia que ele era o braço direito de Yaman, vendo bem ele era também o esquerdo e talvez também as pernas, seria realmente um bom aliado e quem sabe a sua tabua de salvação.

-Primeiro tens que me tirar daqui, depois vamos atrás de minha irmã querida que me queimou como erva daninha.






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