A Cilada

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   Ikbal desliga o telefone e começa logo a tremer de raiva, como é que a sua irmã se atrevia a fazer chantagem, depois de tudo o que tinha feito por ela. Se ela hoje era uma mulher preparada para a vida, com uma boa educação, boas roupas era porque ela se tinha sacrificado num casamento sem amor para poder proporcionar-lhe tudo o que não teve. Agora exigia dinheiro em troca do seu silencio, queria voltar para a Inglaterra e deixá-la sozinha na sua luta para arrancar tudo daquela família. Sempre soube que ela de fraca casta, era medíocre, mas tinha a esperança de que ao seu lado ela se tornasse feroz e uma aliada de valor, mas a cada erro de percurso ela percebeu que sua irmã era fraca para aqueles jogos.

-AH Zuhal, nem imaginas o que te espera. A cabeça dela já estava em engrenagem e a cada virada de olhos era uma peça a cair no plano que se fazia numa velocidade relâmpago.

-Alló, Aksak, mais uma vez preciso da tua ajuda, preciso de despachar mais uma peça. Não, desta vez não quero nada tão radical, estamos a falar da minha irmã, apesar de não a conseguir controlar agora, ainda tenho a esperança de que com o tempo ela volte para o meu lado afinal os laços de sangue ainda são os mais fortes! Quero coloca-la num hospício, ela sempre foi uma mulher instável e funciona á base de comprimidos, por isso não será difícil de a internar, mas preciso de um juiz que a declare mentalmente incapaz sem passar pelos tramites legais, demoraria uma eternidade e eu quero que me entreguem a guarda dela o mais rápido possível. Consegue isso para mim? Dois dias? Acho que consigo empatar por dois dias, ligue-me quando tudo estiver pronto. Pobre Zuhal que não sabe o que a espera, a pensar que consegue jogar na grande liga. Agora só tinha que marcar um encontro para entregar um pouco de dinheiro para a manter calada até estar tudo pronto, iria alegar que precisava de uns dias para preparar tudo e depois...-Ah Zuhal, ah...

Estava tudo preparado para a cilada, Firat era a nova arma secreta pois os conhecimentos que tinha como agente acabavam por deixar os de Nedim num chinelo e poucos perceberam o vínculo que vinha a ser construído entre cunhados, aproximando os dois mundos. Munido de microfones, amplificadores de som e um laptop os três homens faziam roda em volta da pequena mesa de apoio montada ás pressas no andar de cima de um barracão na marina, enquanto que Seher esperava calmamente sentada na única cadeira existente. Não queria ficar de fora da armadilha, queria estar ali para ouvir fosse o que fosse em primeira mão. Sempre confiou na cunhada, tinha-a em consideração como uma irmã mais velha a quem confidenciar, a ela contava os seus medos em relação a Yaman e ao seu modo de vida, era ela que a advertia dos rompantes dele e que sempre a encorajava a fazer sua própria vida. Vendo agora as coisas por outro prisma, ela sempre lhe dissera para não esperar dele nada além da escuridão porque ele não mudaria por ninguém, mas hoje ela consegue ver o verdadeiro homem, que se escondia na penumbra a fim de proteger o seu enorme coração. Até que ponto é que tinham sido manipulados?

-Ela está a chegar. Podemos confiar em Zuhal? – Pergunta Firat.

-Agora que está lucida sabe bem o que é real e o que não é, estará á altura, pode confiar. Nedim tinha a convicção que ela não iria falhar, estava nas mãos dela o desmantelar de toda uma trama e quem sabe o começo de uma nova história. No andar de baixo a chegada de Ikbal deixou a rapariga apreensiva.

-Selam Abla, espero que traga o dinheiro que pedi.

-Zuhal, eu preciso de alguns dias para conseguir o que me pediste. Além disso ainda tenho a esperança de que volte a aliar-se a mim, somos o que resta uma á outra, não nos podemos separar.

-Tu queimaste-me! Deixaste o meu nome em tudo o que fizeste, caso este plano desse errado, haveria sempre quem pagasse a conta por ti, ou eu ou o Selim.

-Esse era um tonto manipulável, tu és minha irmã amada, eu nunca te vou abandonar!

-E o que mais podemos fazer? O casamento de Yaman e Seher está mais que cimentado em pedra e cal, desta vez não será um plano de calunias nem mentiras que consiga destruir o elo que eles têm. O que mais haverá a fazer?

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