❝𝑶 𝒆𝒔𝒑𝒆𝒓𝒂𝒅𝒐 𝒏𝒐𝒔 𝒎𝒂𝒏𝒕é𝒎 𝒇𝒐𝒓𝒕𝒆𝒔, 𝒇𝒊𝒓𝒎𝒆𝒔 𝒆 𝒆𝒎 𝒑é.
𝑶 𝒊𝒏𝒆𝒔𝒑𝒆𝒓𝒂𝒅𝒐 𝒏𝒐𝒔 𝒕𝒐𝒓𝒏𝒂 𝒇𝒓á𝒈𝒆𝒊𝒔 𝒆 𝒑𝒓𝒐𝒑õ𝒆 𝒓𝒆𝒄𝒐𝒎𝒆ç𝒐𝒔.❞
𝑴𝒂𝒄𝒉𝒂𝒅𝒐 𝒅𝒆 𝑨𝒔𝒔𝒊𝒔 ཻུ⸙
20/09/2024
— Nathália, querida, nós suspeitávamos desde o início — a voz da minha mãe, soa como um martelar constante na minha cabeça. — Ele tinha hábitos estranhos, não tinha? Sempre com aquele jeito... esquisito.
Apenas concordo com a cabeça, fingindo me interessar pelo espaguete à minha frente, enrolando os fios no garfo com uma paciência forçada.
— Ela não merecia nada disso, Marcello, nada! — exasperada, ela continuou seu longo boletim de ocorrência ao ponto de suas bochechas ficarem rosadas de nervosismo.
— É, Paola, sempre falei isso. Ela merecia mais, como pode uma advogada ter um namoro com um frentista! — ergueu seu indicador em um ato de protesto, como se isso fosse a explicação definitiva para o meu fracasso amoroso.
Fecho os olhos e dou mais um gole no vinho. Já perdi a conta de quantas taças bebi. Talvez a dor de cabeça amanhã seja mais fácil de lidar do que essa conversa.
Por que você foi falar para a mamãe e o papai, Nathália? Por que?
Eles não param de falar sobre isso desde que cheguei ao restaurante. E pensar que achei que um jantar com meus pais poderia, de alguma forma, melhorar meu humor.
Não consigo parar de sentir arrependimento, eu de fato não deveria ter saído do meu processo de luto, deveria ter continuado enfiada no meu apartamento com um litro de sorvete e assistindo SUITS.
Mas não, você tinha que contar tudo para eles, não é? Agora eles acham que precisam cuidar de você como se fosse uma adolescente de novo.
— Nathália, eu sempre te avisei, se fosse para se envolver com alguém sem futuro, era melhor ter ficado sozinha. Mas ela sempre teve um coração mole.
Eu quase rio. Coração mole? Talvez. Ou talvez eu só tenha me cansado de esperar pelo homem perfeito que nunca apareceu. Queria que eles entendessem que, às vezes, a gente só precisa de alguém que nos faça sentir qualquer coisa, mesmo que essa coisa acabe sendo um desastre completo.
— Não sei como você foi se meter com um cara como aquele, Nathália. Você tem uma carreira brilhante, uma vida tão organizada, e aí se apaixona por um frentista? Devia ter evitado isso desde o começo.
— Como se fosse fácil, pai — murmuro, num fio de voz, porém, eles parecem não ouvir, perdidos em sua própria análise crítica da minha vida.
Devia ter evitado desde o começo... como se fosse fácil evitar sentimentos, como se houvesse uma fórmula mágica para não se apaixonar por quem não devia. Como se fosse só questão de escolher certo, como um cardápio de restaurante. Será que tem isso no menu? Um "evite idiotas" por favor?
Dou um sorriso amargo enquanto imagino uma versão de mim mesma pedindo isso ao garçom. O pior é saber que se houvesse um prato escrito "O Mais Babaca", eu com toda certeza iria escolher esse. Mais um gole de vinho. O líquido vermelho desce queimando, mas já nem sinto mais o gosto. Se enche a cara, pelo menos, esquece por um momento.
