𝙽𝚊𝚟𝚎𝚐𝚊𝚗𝚍𝚘 𝚗𝚊𝚜 𝚎𝚖𝚘𝚌̧𝚘̃𝚎𝚜

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❝𝑶 𝒂𝒎𝒐𝒓 𝒏𝒂̃𝒐 𝒔𝒆 𝒅𝒆𝒇𝒊𝒏𝒆;
𝒔𝒆𝒏𝒕𝒆-𝒔𝒆.❞

𝑆𝑒̂𝑛𝑒𝑐𝑎  ཻུ⸙

𝟷𝟶/𝟶𝟹

  Aquele aroma do mar invadindo minhas narinas seria completamente magnifico se não fosse presente aquele cheiro forte de bebida que vinha de dentro do barco, era uma combinação “perfeita”: cheiro de bebida com o balançar das ondas se chocando contra o barco, causava-me muito enjôo, mas não vai ser um mal-estar que vai me fazer desistir de meus objetivos de ter saído de São Paulo e parar aqui, na Bahia.

  Em meu ser, estava um conflito interno de sentimentos: alegria de estar ali, de vê-lo novamente; e a insegurança de ser rejeitada, motivo não falta “né”, Ca, pensei, alimentando ainda mais aquela ansiedade e o medo. Fiquei me perguntando: será que estou sentindo meu estômago se revirar por conta do balançar do barco ou meus sentimentos estão balançando meu mundo ao redor? Era difícil de responder com certeza.

  Quem olhasse para mim, não conseguiria desvendar meus pensamentos e sentimentos, mas ele sim, você o perdeu, então ninguém mais entende você, nem mesmo a própria Camilla. Não pude segurar aquele pesar na respiração, fazendo-me soltar aquele suspiro pesado e melancólico, com um certo peso em meu peito, dando a sensação de que minha tristeza estava apertando meu coração aos poucos.

  Voltando à realidade, observei a estrutura do barco, era praticamente uma pequena casa, não caberia uma família ali, porém, caberia um casal, esse barco era pra ter sido nosso, se eu não tivesse feito aquilo. Na tentativa de fugir do pensamento que me machucava, dirigi-me à grade que limitava o barco, foram necessários alguns passos, sem muita pressa.

  Então percebi, o céu de São Paulo não chegava nem perto deste céu, sem poluição e sem aquelas “estrelas” artificiais da cidade, com certeza, era única essa vista, sendo possível ver todos os sóis e as manchas do universo, aquela sensação que existia em mim desde a adolescência, de fazer parte daquele vasto universo, voltou, acalmando o meu ser. Coloquei meus palmos sobre aquele ferro frio, mas não era incômodo, para ser sincera, mais nada era incômodo.

  Não adianta nada eu ficar ansiosa e insegura em relação a ele, Lucas é firme em sua decisão e opinião, não serão palavras que convencerá que, mesmo depois da merda que EU fiz, depois de tudo, que eu ainda o...

  — O que você faz aqui? — indagou aquela voz firme e grossa, um tanto rude e confusa, que invadira meus tímpanos e partindo para meu coração, que resultaria num aceleramento nos batimentos cardíacos e em minha respiração.

  Sem pensar duas vezes, virei-me com a maior pressa de onde vinha aquela voz que tanto procurei, que por tanto tempo ouvi, sim, tinha certeza de quem era, afinal, reconheceria mesmo estando em meio à multidão.

  Pude ver Lucas saindo do interior do barco, sendo pouco visível seu rosto por conta da iluminação que vinha atrás do mesmo, a brisa não era nenhum pouco gentil: era gélida e fazia meus longos cabelos se bagunçarem, e consigo trazia aquele cheiro que eu tanto enojava, a que ponto ele chegou? Perguntei a mim mesma enquanto observava a garrafa de bebida alcóolica presente em sua mão direita. Por um tempo, permaneci em silêncio, sem saber o que responder e como cumprimentá-lo.

  Era quase mágico o modo que ele me entendia com perfeita precisão, entendendo o motivo do meu silêncio, apesar de bêbado, compreendia muito bem e mantinha sua postura ereta, caminhou um pouco a sua frente, e logo parou, pois ali havia uma mesa de metal e três cadeiras, elas refletiam vagamente a luz que vinha daquela morada. E com sua mão esquerda, estendeu o palmo em direção a cadeira em seu lado, e mais uma vez, brandou em alto e bom som:

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