Capítulo 5

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1866 – 1867


No final do mês de setembro, dois soldados apareceram na fazenda do Marquês de Resende, avisando que queriam transmitir um fato importante para Maria Luísa. Lady Christine a chamou em seus aposentos, avisando-a de que os soldados traziam notícias do front, o que a deixou bastante alarmada e apreensiva.

Quando ela ficou frente a frente com os militares na sala de visitas, sentiu um súbito mal-estar ao perceber que eles assumiram uma expressão solene no rosto.

— O que aconteceu com o tenente Martim Afonso Almeida? ― indagou, hesitante.

— Foi ele mesmo quem nos mandou vir até aqui para entregar a sua última carta... ― um deles explicou, lentamente.

— Como assim a sua última carta? O que vocês querem dizer com isso? ― indagou num fio de voz.

— Exatamente, Milady ― o outro homem confirmou. — Ele me entregou esta carta no campo de batalha... ― continuou, entregando para ela um envelope pardo. — Sinto muito informar, mas o tenente Martim Afonso Almeida foi mortalmente ferido em Curupaiti ― completou, de forma solene.

Ela tomou lentamente a carta das mãos dele, sentindo que respirava com dificuldades, como se o ar estivesse preso nos pulmões. A sala de estar passou a girar em torno de si no mesmo instante, e esteve prestes a perder os sentidos, mas a mãe a segurou pelos ombros, apertando-os com firmeza, enquanto lhe dizia palavras de conforto. Maria Luísa fez um grande esforço para se controlar e não deixar transparecer o seu sofrimento para os dois desconhecidos à sua frente.

Quando eles finalmente foram embora, Maria Luísa saiu correndo da sala de estar em direção aos fundos do casarão.

— Maria Luísa! ― Lady Christine gritou alarmada, enquanto corria o mais rápido que podia para tentar alcançar a filha, mas foi dominada pela vertigem e teve que se apoiar na parede para não cair. Respirou profundamente e fechou os olhos, fazendo uma prece em silêncio para que nada de mal acontecesse à filha.

Maria Luísa se dirigiu até a estrebaria, situada nos fundos do casarão, com o intuito de cavalgar sem destino, ainda sem conseguir acreditar no que acabara de ouvir dos lábios daquele soldado.

Um dos escravos a viu sair correndo, puxando as rédeas do cavalo mais bravio da fazenda e decidiu avisar ao marquês imediatamente, antes que ela fizesse uma loucura que lhe custasse a própria vida.

Ela montou no cavalo e rapidamente cavalgou veloz pela propriedade, passando pelo caminho de ipês amarelos e roxos, quando se deu conta de que já havia ultrapassado os limites da plantação de café. Poucos metros à frente, vislumbrou o lago que delimitava o território do marquês, tão amplo e majestoso naquela manhã.

Maria Luísa não sentira nenhum temor lhe atravessar a alma, mas chorou copiosamente diante da possibilidade de se juntar ao amado. Contudo, o cavalo parou bruscamente, empinou duas vezes e a jogou na água com violência, antes de se afastar do lago. Ela estava toda encharcada, mas decidiu se levantar lentamente, ainda confusa com o que acabara de acontecer.

Relanceou o olhar em torno e viu o Duque de Westminster se aproximar a cavalo, acompanhado por outro homem. O duque havia pedido para o escravo pegar o cavalo bravio, e retornar à fazenda para avisar aos pais dela que nada de grave havia acontecido. Depois de apear do cavalo, ele se aproximou dela para tirá-la da margem e cuidadosamente a ajudou a montar no animal.

— Como você se sente, Milady? ― indagou cortês, demonstrando que já conseguia se comunicar em português, apesar de a fala ser arrastada com o seu inconfundível sotaque britânico.

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⏰ Última atualização: Apr 15, 2021 ⏰

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