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Priscila

Já solto a mão do Renan, que corre até os brinquedos e fica. Me sento em um dos banquinhos, que dá pra ficar de olho nele de boas.

— Gostou de ficar perto de mim agora? — escuto una voz firme, e viro meu rosto em sua direção.

Pri: Sua presença me incomoda, Duzinho - debocho.

Duzinho: Não parece, sentou do meu lado.

Pri: para ficar de olho no meu filho. Aliás, o banco é para a comunidade inteira. Não é isso que vocês bandidos dizem? — o desafio.

Duduzinho: Você me deixa sem argumentos, Priscila — coloca a mão no peito em forma de emoção.

Pri: E a Vitória? — pergunto sem olhar para ele.

Duzinho: O que quer com a minha filha?

Pri: Só o que me faltava — olho para ele — Renan e ela são bastante amiguinhos, acabei pegando um carinho por ela. Nada de mais.

Duzinho: Amiguinhos? Teu filho quer laçar minha princesa, isso vai acontecer não.

Pri: Ele só tem três anos.

Duzinho: Vitória também vai fazer três anos. Eu pego o teu moleque.

Pri: Fica tranquilo ai. Tô educando meu filho pra respeitar as mulheres, agora, se sua filha disser sim pro meu garoto... — provoco.

Duzinho: Eu corto o teu moleque e castro a Vitória.

Pri: Tá achando que a menina é algum bicho?

Antes dele poder me responder, a pequena vêm correndo na minha direção.

Vivi: Tia Pri — estende seus braços, e eu a pego no colo.

Pri: Oi pequena — beijo sua bochecha.

Vivi: Papai — ele nos olha — Renan vai na minha festinha?

Duzinho: Vai princesa.

Olho pra ele com uma sobrancelha arqueada.
Solto a Vitória no chão, que corre pro Renan.

Pri: Renan vai à festinha da Vitória é — debocho.

Duzinho: Vem dar uma de maluca não. Leva o moleque na sexta, às 16h, lá no salão das estrelas.

Pri: No das estrelas? — afirma com a cabeça — No matadouro de vocês?

Duzinho: Nós mata boi por algum acaso? Leva o moleque, po.

Pri: Com tanto salão por aqui.

Duzinho: Tive que colocar por aqui mesmo. O outro lado tá foda. Não quero atrapalhar o aniversário dela . Quero que ela tenha um dia feliz, tá ligada — vejo a maior sinceridade em suas palavras como pai, e só afirmo com a cabeça.

Eu sabia da sua história por bocas. Até mesmo pela do Muralha, o irmão dele. Nossas histórias de amor se parecem, e ninguém mais sabe a dor.

[...]

Eduardo

Eu não sou muito de parar pra conversar com ninguém. Prefiro ficar na minha mesmo, me abro somente com o meu irmão, e muito mal. Mas a Priscila consegue me arrancar palavras, assim como consegue me deixar sem.

Pri: Renan, vem botar o casaco. Já tá esfriando — ela grita o mesmo, que vêm correndo e vira os bracinhos, colocando o casaco.

Vivi: Frio papai — faz biquinho e esfrega os bracinhos.

Duzinho: Obrigado, Priscila — debocho com ela, que rir.

Pri: Vem cá, Vivi — ela vai até ela, que enrola o seu casa nela, que fica enorme.

Vivi: Oh papai — vem pro meu lado, rindo.

Duzinho: Agradece a tia Pri.

Vivi: Bigada — beija a bochecha dela.

Pri: Nada, princesa.

Vivi:  Cheiloso — pego ela no colo — Cheira, papai — coloca no meu nariz, e fungo aquele perfume doce.

E Vitória está certa, é cheiroso pra caralho. Eu poderia cheirar aquela peça o dia inteiro, que me deixa mais zonzo do que coca.

Pri: Gostou bandidão — debocha, me fazendo despertar.

Duzinho: Senti cheiro de nada.

Pri: Velho perde o olfato mesmo.

Duzinho: Te foder, Priscila.

Pri: Dói ouvir a verdade? Bom saber que não gosta de ser chamado de velho.

Duzinho: Tu tem amor a vida não, garota? — me surpreendo por ela sempre me dar respostas, mesmo sabendo que sou bandido.

Pri: Até tenho. Mas, eu sei que não teria coragem de me matar.

Duzinho: Como se garante nisso?

Pri: Eu sou foda, queridinho — se gaba.

Vivi: Soninho — esfrega seus olhos e encosta a cabeça no meu ombro.

Duzinho: Vou indo. Deveria fazer o mesmo — me levanto do banco.

Pri: Vamos, Re — pega na mãozinha dele e vai andando na minha frente.

Vou andando em rumo à minha casa, com ela andando na minha frente. Não pude deixar de reparar na sua bunda. E que porra de bunda. Fico com uma tentação do caralho.

Pri: Tchau — para e vira pra mim, assim que chego em frente ao meu portão.

Duzinho: Eu te levo até o seu portão.

Pri: Se sente bem? — arquea uma sobrancelha.

Duzinho: Tentando ser legal contigo. Pela Vitória, sabe.

Pri: Precisa não. Gosto da sua filha já — continua andando com o Renan.

Moramos na mesma rua, mas nunca prestei atenção nela, nunca tinha visto. Vejo ela abrir o seu portão e entra junto do Renan.

Abro o meu portão e tranco em seguida, assim que entro. Destranco a casa e entro com Vitória.

Vivi: Banho não, papai — reclama, assim que tiro a sua blusa.

Porra, esqueci de devolver o casaco da maluca.

Duzinho: Pra dormir fresquinha com o papai, filha. Toma bem rapidinho.

Ela se dá por vencida, e vai tomar o banho. Fico vigiando ela, pra caso ela escorregue. É engraçado ver ela jogando a cabeça pra trás, tentando não molhar o cabelo.

Coloco um pijaminha nela, e solto seu cabelo. Coloco ela deitada na cama e dou sua mamadeira pronta e quentinha.

Tomo meu banho, coloco um samba canção. Deito com Vitória, que já estava dormindo. Nos cubro, e adormeço.

[...]

Meu Recomeço [REPOSTANDO ]Onde histórias criam vida. Descubra agora