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Eduardo

Quando bate 16: 30 eu vejo que já está na hora de buscar a Vitória.

Duduzinho: Eu já vou, Muralha.

Muralha: Vai lá paizão. Manda beijo pra coroa.

Duzinho: Valeu rapaziada - me despeço de geral e vou até o meu carro.

Assim que escuto um tiro, já pego meu fuzil e miro no viado que não tinha me visto, e atiro na cabeça perfurando bonito. O maluco cai no chão que nem merda.

Duzinho: Todo mundo bem aí?

Eles afirmam, mas fico um pouco para descobrir o que realmente aconteceu ali. Até chegar me a conclusão de que era um X9 e devia ter outro escondido como nos passaram a visão de lá de cima.
Revirando até que achamos o otário.

Levamos o vacilão para o nosso salão em que o matamos. Torturamos ele até tirar todas as respostas que queríamos e mandei cortar o pescoço do filho da puta. Fiquei só de longe vendo, ainda tinha que buscar minha filha.

Sai do salão e fui andando mesmo até a creche. É na mesma rua. Caminhei até a creche e escutei aquele chorinho e já me apressei.

Vi uma mulher agachada segurando em sei bracinho. Essa porra tá segurando minha filha por quê!?

Duzinho: Tá segurando minha filha por que caralho!? — grito com ela e pego Vitória no coloco, que para de chorar — Tá ficando maluca?

— Cuide melhor da sua filha. Tem uma hora que já está atrasado — a do cabelo enrolado me desafia.

Duzinho: Você sabe quem eu sou, pra tá tirando marra.

— Ah, como eu me esqueceria — coloca a mão na testa — O idiota do irmão do dono da Coreia. Engraçado que eu não ligo.

Duzinho: Só não te meto a bala por...

Muralha: Deixa a mina, Duzinho — me interrompe.

— Olha quem apareceu hein — ela debocha.

Muralha: Caça o teu, Pri.

Pri: Você é um saco, garoto.

Muralha: Só o Damião que te aguentava mesmo — ela bufa.

Duzinho: Pera aí — me meto — Tu que era a mina do Damião?

Pri: Sim — pega a criança no colo, que eu não tinha reparado até agora.

Muralha: Se cuida por aí, hein.

Pri: Se tivesse esse cuidado antes, não teriam matado o Damião.

Muralha: Eu já não matei os vacilões? Para com isso, porra. Toca a fita.

Pri: Nada justifica a covardia que fizeram com o meu marido.

Muralha: Supera, Priscila. Já se passaram quase dois anos.

Pri: Tô ralando, Muralha — ela se aproxima de mim — Tchau pequena — beija a bochecha da Vitoria, que sorrir pra ela.

Pri rala dali, nos deixando a sós.

Muralha: Ela não supera.

Duzinho: Eu entendo a dor dela. Foi escroto de mais dos caras.

Muralha: Vocês não param com esse assunto do passado. Vem com o titio, Vi — ele pega ela que vai sem reclamar.

Essa porra troca todo mundo por qualquer um que vier pegar ela. Sequestrar essa é fácil, vai de braços abertos.

[...]

Priscila

Ninguém sabe compreender a minha dor.
A dor de ter o seu marido morto por uns idiotas que só queriam te comer.

Eu fiquei quase a minha adolescência inteirinha com o Danilo, conhecido como Damião.

Eu nunca dei confiança pra nenhum desses idiotas de Camará.
Nascida e criada, já conhecia as peças.

Quando Danilo me assumiu então, a inveja bateu firme.
Ele montou a nossa casinha toda nos trinque, da forma que eu queria.
Nunca tive o que eu queria, meus pais nunca ligaram pra mim.

Mataram meu marido na judaria mesmo.
O Renan tinha um aninho quando mataram ele.
Falaram que ele iria matar um X9, e quando chegou lá, quem iria morrer mesmo era ele.

Motivo da morte?
Porque queriam me pegar.
Como se isso fosse adiantar alguma coisa.

Mesmo com ele morto, eu não iria pegar esses moleques.
E agora que estão debaixo da terra então, ainda sem seus membros algum, ai mesmo que não pego.

Muralha sempre me ajudou sem alguma segunda intenção.
Deve se sentir culpado por não ter descoberto isso antes.

Damião me deixou a coisa mais preciosa, Renan.
Renan puxou bastante o pai.
Brincalhão toda vida, mas também bastante carinhoso. Mesmo com ele aprontando todas e tirando o dele da reta com toda lábia do mundo.

Renan: Mamãe — me chama, fazendo biquinho.

Pri: Mamas já vai te dar o seu papa.

Ele senta na sua mesinha no canto da sala.

Coloco sua comida em seu pratinho e esquento no micro-ondas.
São 17h e a criança já quer comer.
Come de mais, me dá prejuízo o Renan.

Coloco seu prato na mesinha e me sento no chão.
Ele come tudo e vai até pra lamber o prato.

Pri: Meu Deus, menino — tiro o prato da sua mão, rindo.

Renan: A fome mamãe — esfrega a barriguinha.

Pri: Puta que pariu. Vou pegar o Danone, senta no tapete.

Ele corre pro tapete e senta, vendo desenho.
Lavo o prato e pego dois potes de danone. Claro que um pra ele e o outro pra mim. Não resisto.

Abro e dou na mão dele, que toma tudo e se lambuza todo. Por isso não chego dando banho nele.
Primeiro alimento com tudo possível, pra depois dar banho.

Pri: Corre pro banheiro.

Renan: Água! -— se anima já erguendo os braços pra eu tirar sua roupa.

Já viu criança que gosta mais de água do que ele?

Tiro sua roupa e ele corre pela casa até o banheiro do seu quarto.
Vou atrás dele e ligo o chuveiro. Ele toma seu banho sozinho e fica brincando com a água.

Enrolo ele na toalha e o coloco em cima da cama.

Renan: Pracinha, mamãe — pula na cama e rir sapeca.

Pri: Hoje mamãe tá cansada, filho.

Renan: Renan promete que é só um poquinho, mamãe.

Pri: Só um pouquinho — me dou por derrotada.

Visto uma roupa nele e pego nossos casacos.
Prendo sua jubinha com uma chucha.
Tranco a casa e vou a caminho da pracinha.

[...]

Meu Recomeço [REPOSTANDO ]Onde histórias criam vida. Descubra agora