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O dia estava abafado, o céu nublado e uma sensação de calor faziam Ashton transpirar. Passou a mão pela testa, tentando limpar as gotículas de suor que lá haviam se formado.

— Então... — A mulher sentada a sua frente baixou as folhas de papéis que estava lendo e encarou o rapaz de cabelos loiros. — o que exatamente vem te incomodando?

— Sinto que tem alguém me observando. Independente de onde esteja, parece que tem alguém ao longe seguindo meus passos.

— Isso te assusta?

— Um pouco, até mais do que só um pouco.

— E você consegue sentir de onde os olhares vem? Já conseguiu ver quem o observa?

— Não...

A mulher arrumou os óculos no rosto, um movimento automático. Levou a caneta ao papel e escreveu alguma coisa lá, além de marcar alguns dos pequenos quadrados das alternativas.

— Certo. Isso acontece quando está em lugares públicos, mas, já aconteceu quando o ambiente está praticamente vazio?

— Sim. Às vezes, parece que... — O rapaz calou-se, batendo impacientemente os nós dos dedos no braço alcochoado da cadeira. — Eu não sei, ele está lá o tempo todo.

— Quando você está em um ambiente fechado, sozinho, se sente observado?

— Geralmente não.

— Está me dizendo que o problema são os lugares públicos? Mesmo que visivelmente não consiga identificar uma pessoa, ela o observa.

— Não é como se ele pudesse entrar na minha casa, eu acho. Algumas vezes ainda tenho essa sensação, mas quando estou em lugares públicos sempre sinto isso, entende?

— Quanto tempo tem essa sensação?

— Alguns dias, quase uma semana.

— Aconteceu alguma coisa fora do padrão durante um mês desde que essa sensação começou? Algo que tenha te feito pensar mais que o normal?

— Não.

A atenção da mulher mudou para o papel, o encarou antes de preencher mais algumas linhas com suas anotações. Marcou mais dois quadrados.

Ashton parou com os movimentos dos dedos, cruzou as mãos sobre o colo e  com um pigarro limpou a garganta.

— Bom, eu preciso ir agora. Você pode enviar o seu... diagnóstico...?

— Enviarei, como de costume. Deixa só eu marcar o horário de encerramento da consulta e você está liberado.

O rapaz esperou até que a mulher largasse a caneta para poder levantar da cadeira.

— Tenha um bom dia, Fletcher. — Sorriu de forma sincera, juntando as folhas em uma pilha única.

O rapaz saiu da sala com um sussurro de "você também", suspirando alto ao passar pela porta.

— E então, como foi lá? — A garota de cabelo curto perguntou, ansiosa para saber como o amigo estava.

— Não sei por que te deixo me arrastar para essas coisas, sinceramente... Sendo cobaia para seus amigos.

— Não! — A garota colocou uma mecha azulada de cabelo atrás da orelha. — Não é um experimento, você precisa de acompanhamento e ela de experiência prática. Vocês não são conhecidos fora das sessões.
Você sabe que eu quero o melhor pra você.

— Halsey. Calada. Vamos logo para a sua casa, pode ser?

A garota concordou, balançando a cabeça freneticamente e se agarrando ao braço do amigo. Ela colocou os óculos escuros antes da claridade da rua lhe atingir.

Logo ao atravessar a rua, Ashton passou a ter a sensação de estar sendo observado, olhou em todas as direções mas não tinha ninguém com o olhar direcionado a ele. Isso o frustou tanto quanto o fez ficar inquieto e cauteloso.

— Para de ser paranóico, Ash, presta atenção aqui antes que esbarre em um poste. — A amiga alertou, tirando um chiclete da embalagem e o colocando na boca.

— Me erra, garota. — Falou em tom sério mas logo em seguida riu, incapaz de ficar bravo com a garota ao seu lado.

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