Era uma tarde como a maioria das outras. Akaashi chegava a estranhar quando tinha que passar por tal período do dia de outra forma.
Duas canecas de chocolate quente sobre a mesa de cabeceira. Dois ou mais cobertores felpudos para se enrolarem. Um notebook ligado num filme infantil sobre a cama. Comentários eventuais, desde os mais aleatórios até os mais pertinentes.
Era um ritual. Algo especial por demais. Algo só seu e de Bokuto.
Como tamanha tradição nasceu? Simples e complicado, curta e longa história. Tudo ao mesmo tempo.
No ano anterior, Akaashi entrou na Fukurodani e em seu respectivo time de vôlei. O motivo? Assistiu ao jogo onde pôde ver Bokuto pela primeira vez.
A última coisa que esperava era que a estrela que viu jogar tão bem fosse notar sua existência.
Mas Bokuto o fez. Bokuto deu importância a Akaashi e a tudo que tinha ligação a ele. Bokuto colocou o calouro num pedestal. Bokuto procurou e ainda procura por aprovação em Keiji, como se apenas sua palavra importasse e fosse o suficiente.
No meio tempo em que conversaram (sendo o mais velho o mais falante), o moreno revelou que assistiu a pouquíssimos desenhos animados durante a infância.
Os pais de Keiji eram por demais ocupados. Ele podia contar nos dedos (de apenas uma mão) quantos jantares à mesa teve com ambos os seus progenitores. Ficara na casa da avó quase a infância toda, onde não havia televisão. Isso reduziu seu leque de desenhos animados a quase inexistente.
Akaashi lembrava com exatidão da reação que seu senpai teve.
Num primeiro momento, congelou, encarando seu kouhai fixamente. Se fosse um computador, ele estaria com a tela azul. Aqueles três segundos de silêncio pareceram três séculos. Sentiu-se até desidratado pela intensidade daquelas orbes âmbar que lhe roubavam o ar dos pulmões.
Logo, pulou do banco, bradando:
— ISSO NÃO PODE FICAR ASSIM! — tornou a olhar para o menor — Relaxa, Agaashie! O seu Senpai vai assistir todos os desenhos que você perdeu com você!
— Bokuto-san, isso não é necessário- ...
— Bobagem! — gesticulou como se tentasse dispersar a nuvem daquele pensamento de Keiji — Eu adoro desenho! Vamos começar por "Barbie, Moda e Magia"! Na minha casa ou na sua?
Foi na residência dos Akaashi daquela vez. E, bem, das outras inúmeras vezes que assistiram a desenhos juntos – o moreno parou de contar quando chegaram a setenta e nove tardes recheadas de desenho.
Primeiro, viram todos os quase trinta filmes da Barbie – e Akaashi decidiu que seu favorito era "Castelo de Diamante". Depois, todos os filmes clássicos da Disney. Em seguida, assistiram aos da DreamWorks – teve de suportar o mais velho cantarolando horrivelmente músicas dos anos 90 depois dos dois filmes sobre bolinhas de glitter que amavam abraços durante um mês inteiro.
Naquela tarde em específico, assistiram "Hotel Transilvânia".
— 'Kaash, você me lembra um pouco a Mavis.
— Por que, Bokuto-san?
— Meio que te prendiam. Agora 'cê pode fazer mais coisas que gosta. E ver quadras legais. Isso conta como lugares diferentes, eu acho. Quem sabe a gente até possa ir pro Havaí juntos.
Sorriu pequeno com a lógica simples.
— Você tem um ponto.
— Eu te ajudo a descobrir coisas novas, né? Tipo os desenhos ...
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"Quando rola o tchan" [Bokuaka]
FanfictionOnde a vida de Keiji Akaashi mudou completamente por causa de chocolate quente, cobertores felpudos, um notebook sobre a cama reproduzindo desenhos infantis e Sua Estrela fazendo comentários diversos. [+12]