Sobre jantares em família e preguntas complicadas

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     Keiji não estava com medo de apresentar Bokuto ao pai.

     Ele estava apavorado.

Se com sua mãe conversava pouco, com seu progenitor o diálogo era quase inexistente. Não sabia se ele era homofóbico e muito menos se possuía um padrão de nora (ou genro) que queria que a pessoa seguisse. Se o segundo caso fosse real, qual seria o bendito padrão?

Sua mãe já conhecia Koutaro desde o ano anterior. Viu (no máximo) um ou dois filmes com os dois. Gostava do Ace, e ficou mais que contente quando o filho contou-lhe (vermelho dos pés à cabeça de vergonha) sobre o relacionamento que acabaram de formar.

Seu pai era rígido e severo. Nunca o viu sorrindo. Os poucos diálogos que tiveram foram sobre como Keiji deveria ter bons resultados nas provas, ou sobre a faculdade que o mesmo queria fazer, ou sobre como não queria que Keiji engravidasse uma futura namorada antes da maioridade.

     Bokuto passava raspando em todas as provas. Não planejava fazer qualquer tipo de faculdade, e sim ingressar no mundo do vôlei profissional tão logo se formasse. E ... bem ... Keiji não precisava se preocupar com gravidez nenhuma naquele relacionamento.

     Era para isso deixá-lo despreocupado? Ou não significava nada?

— Filho, você ' tremendo que nem bambu. — comentou Nozomi, preocupadíssima, enquanto pegava os pratos das mãos do maior.

— Desculpa. Eu ... eu não sei bem o que esperar ...

— Até onde me consta, o Kenichi não tem nada contra a homossexualidade.

— Noventa por cento das pessoas que afirmam isso são das mais homofóbicas.

— Então o negócio é rezar p'ra ele fazer parte dos dez por cento legal da coisa. Se ele for dos noventa por cento nojento, eu coloco juízo na cabeça dele. Se só der merda, na pior das hipóteses, eu peço divórcio e pego a sua guarda.

— ... Mas ... a Senhora não ama o Pai?

Amo. Mas se ele não aceitar que o filho dele ama alguém incrível e que ele deve ficar junto desse alguém, ele vai merecer a distância entre ele e o alguém dele p'ra aprender como dói. — respondeu com a maior naturalidade, posicionando cada prato em seu devido lugar sobre a mesa.

     Keiji não conseguiu evitar as lágrimas se acumulando em seus olhos. O "eu não valho isso tudo" ficou preso na garganta.

Se sua mãe falou com todas as letras que faria isso, ela não mentiu. Se não era mentira, era porquê Keiji valia isso tudo. Valia a dor de cabeça e esforço.

"Acho melhor reavaliar o que eu valho ou não valho ..."

A campainha soou. O coração do levantador quase conseguiu fugir-lhe pela boca.

— Deve ser o Bokuto. — sorriu-lhe pequeno, dando uma última mexida no curry —Vai lá, Keiji.

Tentou não voar até a porta. Deu uma última analisada nas próprias vestimentas (uma camisa de abotoar azul e uma calça que não fazia ideia de qual o nome do tipo, mas que era preta e tinha um ar elegante) antes de abrir a posta.

Sentiu suas orelhas quentes.

Um milagre aconteceu: Koutaro manteve seu cabelo para baixo – e isso deixava-o, no mínimo, adorável. Usava também uma camisa de abotoar, mas branca, que deixava claro o quanto seu corpo era musculoso. A calça jeans, apesar tudo, combinava. Segurava até um bolo de chocolate, o seu favorito.

"Quando rola o tchan" [Bokuaka]Onde histórias criam vida. Descubra agora