Sobre príncipes encantados e finais felizes

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     Como nos clichês mais água com açúcar, os raios de Sol transpassavam pelas cortinas (estas de tonalidade azul-pastel). Keiji acordou a tempo de presenciar tal fenômeno, mas nem deu-se conta dele.

     Havia outra estrela brilhante que iluminava sua vida e tomava toda a sua atenção: Koutaro.

     Ele dormia tranquilamente ao seu lado, o cabelo ao natural dando-lhe um aspecto mais que adorável. A mão rodeando levemente sua cintura causava uma sensação deliciosa ao moreno. Sua respiração ritmada passava um sentimento de serenidade tão intenso que seu divertidamente do medo não poderia estressar ao dono nem se quisesse.

     O namoro não é um mar de rosas. Seja por desentendimentos entre os dois ou por fatores externos.

     O ex-levantador era um pote de vidro o qual colocaram superbonder na tampa e, antes rosquia-la de volta, soltaram dezenas de milhares de dinamites prontas para explodir dentro.

     Com o tempo, o vidro ia rachando com as explosões. Keiji cortava suas mãos com os cacos, apenas escondendo os ferimentos ao invés de tratá-los. Colocava uma faceta indiferente quando queria chorar ou gritar ou demonstrar dor, porque não queria ser um incômodo.

     Não queria ser um peso. Tinha "evitar dar trabalho a qualquer um" como a maior de suas prioridades. O fato de ler livros para aprender como viver sem pedir conselhos a ninguém era apenas uma das consequências disso.

Bokuto teve uma infância ao mesmo tempo cosmicamente distante e minimamente semelhante à sua.

Seus pais podiam não estar abarrotados de trabalho como os do atual namorado, mas ele nunca recebeu a atenção que deveria.

Quando o bicolor contou-lhe sobre o próprio nascimento, referiu-se a ele como "o erro". (Isso por si só já explica muita coisa).

Suas irmãs tinham, no mínimo, dezessete anos a mais que ele. A do meio preparava-se para o vestibular e a mais velha estava no quarto semestre da faculdade de medicina.

Koutaro não foi uma gravidez planejada. Sua mãe nem sabia que ainda podia engravidar.

     Ele ouviu diversas vezes que, quando seu pai descobriu sobre sua existência, disse "acho que quero ver no que vai dar" e deu um longo gole de cerveja. Hana e Emi dizem até os dias de hoje que, por causa dele, não tiraram notas tão boas quanto poderiam ter tirado por ele chorar toda noite, a noite toda.

     Koutaro não era brilhante na escola como suas irmãs, que formaram-se com honras em medicina e engenharia.

     Koutaro não era quieto como elas, que jamais deram qualquer trabalho aos seus pais.

     Koutaro era os genes errados que suas maravilhosas irmãs não herdaram e acabaram transformados num ser humano por acidente.

     Nenhuma corda vocal vibrou e nenhum lábio moveu-se para pronunciar palavras nem minimamente semelhantes. Mas demonstravam com olhares, atitudes e silêncio.

     Koutaro passou a odiar o silêncio. Talvez seja por isso que passou a estar sempre gritando, espantando o silêncio que tanto tirava sua paz.

     Agora mais crescido, descobriu o motivo de não ter deixado o vôlei logo de cara: as bajulações. Tendo ele um pouquinho da atenção e elogios que nunca recebeu em casa por suas habilidades físicas acima da média, não via motivos para deixar o esporte – apesar de não gostar dele por demais.

     Esse "não gostar" virou um vício principalmente por um fator com nome e sobrenome: Keiji Akaashi.

Naquele dia fatídico, no início de seu segundo ano, ele conheceu quem viria a ser a pessoa mais importante em sua vida.

"Quando rola o tchan" [Bokuaka]Onde histórias criam vida. Descubra agora