• Capítulo Dois

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Ela olhou para o grupo de pessoas, de maioria homens, em sua frente, magros, fracos e famintos, esperando por comida. No canto estava duas pessoas, com alguns hematomas, jovens de aparência quase completamente oposta aos outros que se encontravam no recinto.

A tenda foi aberta e pelo vão passou dois homens altos e fortes de armadura, ao ficar de pé fez um gesto de cabeça para um deles, o chamando para fora.

Assim que se pôs para fora da cabana sentiu o ar pesado e neblinoso quase a engolindo, estavam em uma parte muito baixa da Ilha e ela não gostava disso, muitos estavam ficando doentes e como sempre, não havia uma forma dela ajudá-los.

- Precisamos subir Ikan, inalar isso é sentença de morte.

- Posso ajudar a levar os mais prejudicados antes de partir.

PARTIR, ela ainda não tinha se acostumado com isso, a ideia de ele estar tão longe em um período de tempo tão longo ainda a deixava nervosa e com medo. Ao analisar seu rosto ele pressentiu o que ela sentia, o que ela pensava, e se aproximou.

- Faço isso por todos nós, você entende, não é? - Parou a centímetros de distância dela, ela assentiu mordendo o lábio inferior.

Ela não deixou de admirar a beleza de Ikan, alto e forte, sua pele negra e suada brilhava, suas maçãs do rosto estavam com um tom avermelhado e quando ele a olhou nos olhos e sorriu sentiu seu coração dançar, sentiu que poderia escrever canções de amor tais como ele cantava para ela nas noites que passava ali.

- Eu sei, só que... - Suspirou forte - Sinto falta de ter ajuda com eles -, olhou para tenda - sinto falta de você.

Ele não hesitou em abraça-la, era difícil ficar longe um do outro, mas era por uma boa causa.

E mesmo ali, distraída com Ikan, sentia seus pulmões protestarem por um ar mais limpo.

- Não quero ser egoísta, todos nós precisamos de você, mas não é aqui que você vai fazer a diferença acontecer. - Ainda em seus braços, ela levantou a cabeça e recebeu um beijo na testa e outro nos lábios, suave e doce, quando se tratava de Ikan com ela tudo era dessa forma.

Era curioso como Ikan poderia ser um homem justiceiro e guerreiro em um ambiente e com ela ser carinhoso e esbanjar calmaria.

- Eu entendo. - Ele queria poder confortá-la e garantir que no fim, estariam juntos. E não ali, naquela maldita Ilha. Mas não podia garantir o que ele apenas tentava acreditar.

Doía, ficar ali e ver de mãos atadas, pessoas, jovens e crianças, morrendo pela precariedade; doía, ver a garota que amava ter crises de tosses ao ponto de vomitar sangue enquanto ajudava os doentes; doía EXISTIR naquele lugar. Aquela era sua realidade e não poderia mudar ela se não tomasse as atitudes necessárias, e uma delas, infelizmente, era partir.

- Asteria! - O grito masculino deu início a fortes tosses, ela se virou e viu ali o seu melhor guerreiro de joelhos tossindo e cuspindo sangue.

- Ikan, temos duas opções. Subimos aquele monte - apontou para a colina média e distante - ou o carregamos até a embarcação que sairá ao anoitecer.

Asteria se pôs ao lado do nobre guerreiro com uma mão nas suas costas e outra no peito o fez seguir seus movimentos de subir e descer para regular sua respiração.

- O levaremos até a embarcação, posso fazer com que o encarregado nos retire. - Ikan se apressou em chamar ajuda na tenda.

- Ikan! - Asteria exclamou e ele se virou - Você sabe que não conseguirão deixar a Ilha agora, ele vai morrer! Eu não quero perder ninguém hoje.

- Não podemos carregá-lo por todo o monte e depois ter que levá-lo à costa.

- Irei morrer de qualquer jeito, Asteria... Leve os outros para o monte, é melhor perder um do que uma dezena de homens que ainda tem chances. - Foi interrompido por uma tosse violenta.

Ela devia estar acostumada a ver essa cena, antes de ser abandonada naquele lugar a mesma sabia o que poderia presenciar, mas ver isso de perto sempre lhe dói não importa quantas vezes aconteça.

Ela devia estar acostumada a ver essa cena, antes de ser abandonada naquele lugar a mesma sabia o que poderia presenciar, mas ver isso de perto sempre lhe dói não importa quantas vezes aconteça.

- Ikan, o leve para embarcação. Levarei os outros pela colina acima.

Os homens que estavam na tenda se puseram para fora, um deles deu ao soldado um pedaço de tecido, com o que limpou o sangue que escorria, o mesmo teimou para que ajudasse Ikan a levar o guerreiro doente.

Enquanto levavam o soldado para costa onde estava a embarcação, Asteria levava o grupo de pessoas para onde estava seu povo, o que era um pouco mais de uma centena. Uma centena de pessoas que ela ajudou a salvar, de pessoas que sobreviveram apesar das dificuldades e desafios que enfrentam para se manterem.

A noite estava caindo e Asteria se sentia frustrada, acreditou que chegariam antes que o breu tomasse conta já que estavam caminhando em um bom ritmo, e além disso, tinham energia de sobra para continuarem. Mas não arriscaria subir em plena escuridão como ficaria em breve, então, montaram com rapidez a tenda e adentraram.

A mulher ficou sentada no interior da tenda, sentada e encolhida se manteve enquanto os outros se acomodavam da melhor forma possível. Entre as pessoas recém-exiladas, se encontrava uma criança, se o mínimo de idade para se exilar alguém é 12 anos, então essa era a idade da menina.

Asteria a observou se afastar dos outros e se encolher no canto da tenda e dormir. Ficou tentada a ir até lá para saber se está bem, mas talvez ela só queira ficar só.

Não deixou de relembrar como foi chegar lá há tanto tempo atrás, o medo que sentiu não poderia ser descrito.

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Espero que tenham gostado🖤

Me desculpem a demora💜

A Herdeira Exilada • Fantasia - Luiza Matos (Malu_Books)Onde histórias criam vida. Descubra agora