• Capítulo Um

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       Erguia a garrafa de sua melhor bebida quando passos rápidos foram ouvidos pelo corredor do palácio, e um servo adentrou a sala de estar, fez uma reverência e disse: — Majestade, a Mipraza de Clartom se faz presente no grande salão.

O revirar de olhos acompanhado de um gesto de expulsão fez o servo assentir e se retirar do recinto, mas então, o rei percebeu que não obteve a informação mais importante e o chamou de volta.

— Por que Zildy está aqui? Hoje é dia de celebração em Clartom.

— Ela diz ter novas informações sobre as rebeliões, Majestade.

Ele se levantou arrumando suas vestes e posicionando a coroa sob a cabeça.

 Quase havia se esquecido de como Zildy é bela, a pele morena brilhava sob a luzes tremeluzentes dos candelabros, seu cabelo cinzento estava mais longo do que da última vez que se encontraram, os olhos castanhos cintilantes acompanharam cada passo dado por ele até o altar onde localizava-se seu trono.

— Majestade — Ela fez uma forte reverência e voltou a ficar de pé, em resposta, recebeu um aceno com a cabeça do mesmo, que se sentou no trono.

— Meu servo disse que você possui informações sobre as rebeliões, o que há de novo em seus relatórios?

— Sei quem deu início a elas.

— Então me diga, por que não o prendeu e o sentenciou ainda. — Seu tom de voz frio e calculado fez Zildy dar um pequeno e quase imperceptível para trás, apenas por precaução. Mas o movimento foi notado por ele que engoliu uma risada, como se a distância fosse impedi-lo de algo.

— O influenciador das rebeliões é um exilado, como ele conseguiu tal poder não descobri. Aparentemente, ele se conduz junto a barca de deslocação de algum condenado à Ilha dos exilados.

— E onde ele se estabelece? Em qual cidade-estado? Qual Mipraz eu devo enforcar? — Disse o rei que se pôs apoiado aos joelhos enquanto encarava a mulher.

Um servo entrou no grande salão tomando a atenção dos dois, depois de duas reverências, se aproximou do rei.

— Majestade, tenho uma mensagem da Deusa Ara. — Ao receber um olhar gélido de seu rei, o mensageiro se encolheu e em outra reverência se retirou.

— Continue Zildy.

— Ainda não descobri Majestade. — Zildy disse e abaixou a cabeça.

Ele sentiu seu sangue esquentar como se o próprio fogo circulasse em suas veias, ao breve piscar de olhos sentiu a brasa dizer olá á Zildy que o encarava, ele fechou os olhos por alguns segundos respirando fundo, usando seu poder sobre a água para apagar seu fogo interior.

Por que ela veio apenas para dizer isso?

— Tem quatro dias para mudar isso. Preciso de verdadeiras informações. — Disse com a voz rouca e sentindo a garganta seca, o que fez exigir água a seus servos assim que Zildy saiu.

— Onde está o mensageiro? — Exigiu o rei rugindo.

        Do lado de fora do grande salão, os servos e guardas reverenciavam a grandiosa e lendária Deusa, ela não os olhou, havia se deslocado até ali por um motivo específico e não perderia tempo. Atrás dela, as damas de combate, mulheres altamente treinadas e dispostas dar suas vidas ás causas de sua soberana.

Com um olhar para cada guarda, a Deusa Ara conseguiu acesso ao grande salão, e ao fundo estava o seu soberbo e cego; filho, sentado em seu trono com uma carranca.

— O que a tão temida Deusa do Fogo faz aqui, no meu tão humilde reino? — Como se não bastasse encher suas palavras de ironia, um sorriso maldoso se ergueu no canto de seus lábios.

— Entreguei uma mensagem ao seu mensageiro, você não o ouviu... Tsc,tsc... Sua mãe não o ensinou a ouvir as pessoas? — Ela o encarou esperando uma reação ostil, mas tudo que ganhou foi um balançar de ombros.

— Não, ela estava mais ocupada em testar meus limites com tortura. — Ara deu um pequeno sorriso e caminhou até o altar, ao reparar que o corpo dele ficou rijo devida sua aproximação, sorriu ainda mais.

— Você é como seu pai, ingrato e fraco. — Ela subiu com toda sua graciosidade os degraus para alcançar o trono — Me diga Kaelen, o que seria de você se eu não o tivesse treinado? Acredita ainda assim seria um rei? Que poderia ter total controle sobre seus poderes?

— Querida mãe, já ouvi por diversas vezes o mesmo discurso. Conte o que a motivou vir até aqui — deslocou o olhar de Ara para suas damas de combate —, para levar seus cães raivosos de volta para casa, acho que estou começando a ter coceiras. — Ara pensou seriamente em dar uma bela queimadura ao rosto belo de seu filho quando ele ergueu mais uma vez um sorriso perverso. Ele gosta de jogos, e ela conhecia todos pois ela havia o ensinado.

— Soube dos ataques —, passou as mãos pelos ombros de Kaelen — quero saber como vai lidar com o mandante, o líder.

— Para sua infelicidade, nós ainda não descobrimos quem é. Apenas suspeitas vagas. — Ara deixou que as chamas que cobrem seu corpo, aumentassem em sua mão posta no ombro dele. Quando o mesmo reclamou por dor, ela o apertou o mantendo sentado e à mercê dela.

Os guardas de Kaelen estavam em posição de ataque, a metade das damas de combate estavam viradas para eles, já a outra, encaravam Kaelen prontas para qualquer ato contra Ara.

Quando o soltou, Kaelen se concentrou em usar a água de seu organismo para amenizar a queimadura, mordendo o lábio para não gritar quando sentiu a água lutando contra o Fogo celestial de Ara.

— Preciso de água! — Gritou aos seus servos que não demoraram em trazer.

Ara, de longe o observava.

— Kaelen, o que quis dizer com nós não descobrimos? Quem está investigando o caso além de você?

— Zildy, Mipraza de Clartom. — Rosnou com o olhar e voz baixo.  

— Acha que ela é confiável? Talvez esteja ao lado deles, seja lá quem for o líder dessa rebelião deve ter uma ligação direta com alguém de Reintown.

— Não! Não, confio em meus aliados. Reintown é bem protegida, se essa rebelião aconteceu foi apenas um erro. Um erro a ser corrigido, e o líder desse motim vai ser castigado como exemplo.

       Ele mentiu, ele não confiava em seus aliados, mas para manter todos dentro de seu regimento deveria dar para receber, e aparentemente confiança e poder faz parte das coisas que devem ser concedidas.

Kaelen era apenas um Mipraz como todos os outros até constatar que poderia ir mais longe, em séculos ninguém o derrotou e todos sabiam que ele era o mais forte e astuto de todos os Semi-deuses. Com o passar do tempo, eram poucos que ousavam lutar contra ele, não podia negar que estava entediado. Então, mostrou ao seu povo de Reintown que podia protegê-los e oferece-lhes muito mais se fosse rei. Os boatos se espalharam por outras Cidades-estados e os Mipraz, por medo ou lealdade, ficaram do seu lado e lhes deu apoio. Quando foi oficialmente coroado, Reintown de Cidade-estado foi para a capital e sede do rei Kaelen, o Semi-deus legítimo do Fogo e da Água. E assim, todos os Mipraz respondem a ele.

Ninguém havia tentado um ataque antes, pequenas rebeliões já aconteceram antes nas partes mais pobres de Reintown. Mas nada como o ocorrido há cinco dias atrás.  E no fundo, Kaelen estava amedrontado com os efeitos que essa pequena apresentação dos rebeldes poderia gerar.

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Espero que tenham gostado💖

A Herdeira Exilada • Fantasia - Luiza Matos (Malu_Books)Onde histórias criam vida. Descubra agora