Parte III

291 14 1
                                    

Na pré-adolescência, Magali foi uma menina muito metida, cheia de não me toques. O cabelo tinha que estar sempre escovado, a roupa tinha que ser da loja mais cara da cidade, seu rosto tinha que estar sempre limpo e a pele macia. Contudo, Magali estava entrando na fase da puberdade e, como dizem os mais velhos, se tornaria uma mocinha em breve.

Ela já esperava ansiosamente por esse momento, não aguentava mais as pessoas beliscarem suas bochechas e dizerem coisinhas bobas: Que menininha lindinha! Gracinha de menina. Venha cá deixa eu lhe dar um beijinho nessa bochechinha.

— Agora chega dessas baboseiras — disse Magali a si mesma, confiante em que tudo iria mudar quando atingisse a adolescência.

Porém, o que Magali não sabia era que na fase da puberdade, tudo começa a mudar muito rápido. E a mudança inesperada no seu rosto, corpo e vida, começou a aparecer depois que completara 12 anos.

Era um belo domingo de verão.

Para uma menina de 12 anos, o quarto de Magali era bem discreto e nada exagerado. Pintado de rosa-choque e com pôsteres de ídolos teen colados de cima a baixo.

Magali estava acordando lentamente, como se fosse um felino de raça, espreguiçando-se vagarosamente. Ela ainda não percebera, mas seu rosto estava cheio de pequenas e arrepiantes espinhas.

A primeira coisa que Magali fazia quando levantava pela manhã era ir ao banheiro escovar os dentes e apreciar o seu lindo cabelo e rosto no grande espelho sobre a pia do banheiro. Só que naquela manhã tudo seria diferente.

Ao se aproximar do espelho do banheiro, fixando o olhar no seu reflexo, os olhos castanhos de Magali esbugalharam-se, tão logo, seguido de um grito escandaloso. O incrível procedeu-se, o espelho trincou em duas partes. Até hoje ninguém sabe a causa do incidente com o espelho do banheiro.

— Duas alternativas óbvias —

Se a causa foi o grito escandaloso, Magali se torna uma cantora de ópera russa. Mas se a causa foi a terrificante face da menina, ainda bem que existe cirurgia plástica.

Magali saiu do banheiro às pressas.

Desceu as escadas. Não sabia o que estava acontecendo. 

Vou morrer? O que é isso na minha cara?

— Mãe, meu rosto... Estou me transformando numa criatura pré-histórica... dinossauros — gritou Magali, entrando na sala de estar e pressionando o rosto com as mãos.

— Não seja boba, minha filha. São apenas espinhas... É da idade e logo passa — comunicou sua mãe, Katarina.

— Eu não vou para o colégio desse jeito, estou parecendo uma peneira — gritou a menina.— Não seja exagerada e pare de gritar. Toda menina tem espinhas nessa idade — disse a mãe, passando a mão no cabelo de Magali. — Os garotos também têm espinhas.

— Eu sei... Acredito — comentou Magali, sarcástica. — Eu aqui virando uma pipoca gigante e a senhora aí calma como sempre. Pode ser algo contagioso ou, sei lá, como aquilo no filme, posso ter sido picada por algum inseto.

Katarina mexeu a cabeça, negativamente.

— Já sei — disse Magali, estalando os dedos. — Preciso passar alguma coisa no rosto, igual naqueles comerciais... 'Passou, limpou'.

— Querida, seu rosto não é uma pia de banheiro. Escute-me, filhinha, até a segunda-feira pode diminuir.

— Diminuir? Isso não vai acabar?

— Claro que vai, mas leva um tempo.

— Vou procurar a Bebel. Com certeza ela deve saber alguma magia para tirar essa coisa do meu rosto.

Uma Aposta InsanaOnde histórias criam vida. Descubra agora