Parte III

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O psicoterapeuta olhava para Magali sentada no divã e meditou sobre o que acabara de escutar ou, mais acertadamente, vislumbrar. — Uma imaginação muito fértil, senhorita Magali. Realmente acreditou que fosse morrer por causa das espinhas?

— Por um momento, pensei que sim.

O psicoterapeuta assentiu. — Bom, nosso tempo está acabando e, então, novamente, o que tenho a dizer é o seguinte, até agora, depois de tudo que você me disse, nesta sessão e nas outras, não vejo loucura em lugar nenhum. O que realmente vejo, e você deve ver todos os dias diante do espelho, são a excentricidade e a euforia compulsiva de uma mulher inteligente e corajosa... e um desejo, por parte dela, em viver "loucamente" a vida.

Magali sorriu. — É nisso que eu acredito.

— Já tinha noção disso?

— Absolutamente, doutor.

O psicoterapeuta sobressaltou-se. — Agora você me deixou encabulado. És uma figura e tanto... Por que gasta seu dinheiro nestas sessões? Qual o verdadeiro motivo que a trás a este consultório, senhorita Magali? 

 Magali sorriu, novamente. — O motivo é você.

— Como disse?

— Desde que vi sua foto numa matéria no jornal, quis lhe conhecer na mesma hora. Fiquei fascinada por você, então procurei o endereço de sua clínica no catálogo e marquei um horário com a recepcionista por telefone. Na primeira sessão, tive que me controlar para não beijá-lo, você é um gato, um psicoterapeuta tão jovem e robusto... Oh, por favor, não pense que o que lhe contava sobre mim nas sessões era mentira, tudo é a mais pura verdade. Talvez tenha omitido algumas coisas para proteger as identidades, não quero ser processada pelos meus familiares. 

— Claro, sem processos. 

— Enfim... O que leva nossa conversa ao ápice. Posso tirar uma foto contigo, doutor Alan Brent? Sou sua fã.

O psicoterapeuta piscou, aturdido.

— E agradeceria se o senhor fizer uma dedicatória muito legal sobre mim — disse Magali.

— Eu estou realmente transtornado.

— Todos os homens ficam assim, deve ser algo biológico. Para resolver esse problema é só dizer sim, doutor Alan Brent.

O psicoterapeuta levantou-se.

— Compreendo. Realmente é uma mulher extraordinária... Uma fã, não é mesmo? Mente divertida, a sua. Tenho quase 40 anos e já li muitos livros, recebi alguns prêmios, dei entrevistas, participei de debates e de algumas pesquisas na área, e não vi nada parecido com o que vejo na minha frente hoje. É a primeira vez, pelo menos.

Magali assentiu. Talvez fosse uma mulher especial, única. Ela riu da situação.

— E então, doutor?

O psicoterapeuta analisou mais uma vez a mulher no divã. 

— Eu realizarei o seu pedido.

Magali puxou uma máquina digital da bolsa.

— Mas antes uma pergunta.

— À vontade. Ah, mas nada de perguntar se eu sou louca, entendeu?

O psicoterapeuta sorriu. — Não, nada disso. Na verdade minha pergunta é algo bem simples: com que frequência você apronta essas excentricidades? 

 — As loucuras?

— Sim.

Ela deu risada. — Todo o tempo, doutor.

Uma Aposta InsanaOnde histórias criam vida. Descubra agora