Capítulo Cinco

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    Eu não poderia estar mais nervoso. É certeza que o Elliot estaria na festa, e certeza que o Julian ficou tanto no meu pé para ir, só por causa disso – o que até fico um pouco feliz, por ele sacar o que estava acontecendo, tentar fazer que isso desse certo e nem nunca ter feito alguma piada... Talvez tenha até sido ele quem passou o meu endereço para o Elliot.

    Pensar nisso tudo só aumentava a minha ansiedade. Cheguei a trocar de roupa umas dez vezes, sem nunca conseguir me decidir! Eu queria parecer deslocado, mas não muito, queria aparentar que eu estava confortável com a situação, despojado. Demorou um tempo, mas consegui escolher. Acabei usando um vans preto, uma calça preta rasgada no joelho com um suspensório branco solto na minha cintura, e uma camisa moletom vermelha sem mangas, junto com uma correntinha dourada e alguns anéis. Resolvi colocar a camisa moletom apenas para dar um toque de despojado, uma quebrada no visual.

    – Você vai com quem, nego? – perguntou a minha mãe quando desci para a sala esperar a minha carona. Ela costumava me chamar carinhosamente de "nego".

    – O Nicolas e a Daisy vão me levar.

    – Vai voltar com eles?

    – Vou sim, do contrário eu arrumo alguma carona ou ligo para me buscarem.

    – E que horas você volta? – quis saber o meu pai.

    – Acho que não muito tarde não. Espero que antes das 2h, 1h30 da manhã eu esteja aqui. Não estou muito afim de ficar muito tempo.

    Não demorou muito para a o Nicolas chegar em casa com o seu Chevrolet Impala 1970 preto, que apesar de ser um modelo antigo, é o carro mais bem conservado e preservado que eu já vi.

    – Se cuida filho, e vai com Deus! – disse a minha mãe quando eu fui me despedir.

    – Juízo viu, moleque. – Complementou o meu pai.

    Quando entrei no Impala, logo senti o cheiro de aromatizante e couro fresco. Daisy estava no banco do carona, com um sorriso de orelha a orelha, vestindo uma jardineira escura de tecido (o qual eu a ajudei a escolher quando foi comprar). Quando a questionei sobre a animação, ela disse que estava animada para festa e para a viagem até Los Angeles.

    – A gente vai passar buscar a Agatha? – perguntei quando Nicolas começou a dar partida no carro.

    – Ah migo, ela acabou cancelando de última hora. Disse que estava com dor de cabeça e que não estava confortável em ir não. Você sabe como ela não é muito chegada nessas festas.

    No rádio tocava um mixe de Michael Jackson e Billie Eilish, os cantores favoritos do Nicolas e da Daisy respetivamente. Ficamos cantando alto o refrão de algumas músicas, e quando percebemos já tínhamos chegado ao local da festa.

    Era um casarão um pouco mais afastado das outras casas, com três andares e aparentemente uma piscina aos fundos. A rua estava quase toda fechada com carros, na frente da casa tinha vários adolescentes com bebidas em mão conversando e ouvindo música vindo de algum (ou vários) carro. Da casa também dava para ouvir a música alta saindo dela, luzes acesas, luzes apagadas, luzes de diferentes cores piscando.

    Depois que o Nicolas estacionou, saímos do carro e já estávamos perto de entrar na casa, não demorou para o Julian surgir do nada de algum lugar, já com um copo na mão e pondo o braço em volta do meu ombro e do Nicolas.

    – Aah finalmente você chegou! Até que chegou rápido, pensei que demoraria mais.

    Por incrível que pareça o hálito do Julian não estava com cheiro de álcool.

   – Hehe e por acaso você sabia que eu já estava vindo?

    – Sim, tenho os meus jeitos... mandei mensagem para a sua mãe perguntando.

    – O QUE?! Tu tem o número da minha mãe??? – eu estava realmente espantado, por essa eu não estava esperando. E conhecendo o Julian como conheço, juntamente com o jeito sério que ele disse aquilo, era bem provável que fosse verdade.

    – Sim ué. Tenho do seu pai também. Já nos trombamos algumas vezes no mercado.

    – No mercado? Mas vocês nem vão no mesmo mercado!

    O Julian geralmente nem vai ao mercado!

    Julian Lutz apenas deu de ombros com aquele seu sorriso malandro no rosto, e já começou a nos empurrar para dentro da casa.

    – Vão entrando aí e aproveitem bastante. Nico, 'cê pode apresentar eles para os nossos amigos né? Mais tarde a gente se esbarra aí dentro. – Julian falou e foi embora do mesmo jeito que apareceu, do nada e sem fazer baralho.

    Já era por volta de 23h10 da noite, então a casa já estava bem cheia. Pessoas vestidas de todos os jeitos: despojadas; roupas largas; elegantes como se estivessem no Met Gala; como se tivessem ido à praia. Enfim, uma diversidade de visuais. Havia copos de bebidas, garrafas de cerveja e vodca por toda a parte na sala, que no momento estava em meia luz, e tocava alto algo que parecia ser uma música do Jason Derulo. Alguns casais de última hora subiam correndo as escadas para encontrarem algum quarto, outros se beijavam loucamente em algum canto ali mesmo. Também notei alguns adolescentes com roupas de banho e um pouco molhados pegando alguma bebida e já voltando para os fundos da casa.


O Último Pôr do SolOnde histórias criam vida. Descubra agora