– Chegou a ficar com bastante gente aqui?
– Não muito. Umas duas meninas, e uns três meninos. E tu?
– Não... não tem nenhum menino aqui que me deu interesse, até então.
Eu fiquei um pouco congelado por um tempo. Até aquele momento para mim ele era hétero. Mesmo com tudo o que vinha acontecendo, minha dúvida e confusão eram exorbitantes.
– Achava que tu fosse hétero. Lembro que estava namorando uma menina até um tempo atrás...
Não que isso significasse muita coisa.
– Hahah eu estava mesmo. Na verdade, eu sou bi. E também não gosto de ficar me rotulando... além de eu não ser tão abertamente assumido.
Bem, isso foi esclarecedor.
– Podemos dizer que isso foi... esclarecedor.
– E por que diz isso? Haha.
Dessa vez foi a minha hora de ficar em silêncio e dar um sorriso de canto de boca. Do nada algumas pessoas passaram correndo pela sala e foram até a sacada. Apareceu então o Julian segurando um copo e com alguns amigos.
– Ei, Julian! O que é essa correria toda? – perguntei parando-o.
– Está rolando briga na piscina cara! – Julian respondeu com um sorriso de orelha a orelha. Eu não consigo dizer se ele estava bêbado ou não. – Não vão lá ver não?
– Depois vamos. Hein, tu sabe do Nicolas e da Daisy?
– Aaah, eles acabaram tendo algum tipo de discussão e foram embora mais cedo. O Nicolas pediu desculpas para você, ele não estava conseguindo te achar.
Assim que ele terminou de dizer, foi direto para a varanda ver a briga na qual tinha mencionado. E o que eu faria agora?!
– Cara... fiquei sem carona para voltar para casa.
– Bem, eu 'tô de carro, se quiser, posso te levar.
Acabei aceitando o convite, porque era isso ou ficar lá, no meio de um monte de desconhecidos, largado às traças. Continuamos conversando por um tempo e no fim além de não termos ido ver a briga na piscina, eu acabei perdendo a noção de tempo, que quando vi já era três da manhã. Elliot se prontificou em me levar para casa, dizendo também que já tinha enjoado da festa.
Quando fomos para fora da casa já não havia tantos carros estacionados, os que sobraram diferenciavam no modelo e estavam bem distantes um dos outros. O grupinho encostado em um carro, ouvindo música e conversando enquanto bebiam se mantinha, mas agora tinha aparecido um narguilé. Não andamos muito e chegamos ao carro do Elliot.
Era um Chrysler 300 1970 preto com alguns vieses vermelhos. Apesar da pintura estar fosca, desgastada, o carro estava bem preservado. Eu nunca tinha pensado sobre qual carro Elliot teria, mas ao ver ele ali, abrindo aquele Chrysler, notei que carros vintages são totalmente o estilo dele, mesmo que os esportivos combinem e muito com ele. Dentro do carro o couro dos bancos também estava um pouco desgastado, porém ainda assim bem conservado. O cheiro era... diferente, não era algo ruim, dava ainda mais um ar de aconchegante, mas era algo que eu nunca tinha sentido. Não tinha cheiro de maconha ou cigarro, como por um momento eu pensei que teria.
– Quando você disse que tinha um carro, não imaginei que seria um Chrysler 1970.
– Muitos não imaginam mesmo haha. Ele era do meu pai, quando tinha por volta da minha idade. Bem, na verdade ele foi primeiro do meu tio, depois ele passou o carro para o meu pai, que quando eu fiz 17 anos passou para mim.
Entramos no carro, colocamos os cintos e abri a janela para sentir o vento no rosto. Quando já estávamos a uma quadra de distância, Elliot ligou o rádio e começou a tocar Freddie Mercury e Montserrat Caballé.
– Olha só, eu não sabia que curtia Freddie Mercury! – disse surpreso.
– Sim, sou muito fã dele. Principalmente esse seu feat com a Montserrat.
– Um hino incompreendido esse feat deles.
Quanto mais eu o conhecia, mais eu queria conhecer. E parecia que essa noite estava reservada para isso. Quando Elliot parou no sinal vermelho, notei que a sua licença de motorista estava ao lado do painel, resolvi pegar ela para olhar a foto, já que sempre ficamos feios e estranhos em fotos de documento. Entretanto, o que me surpreendeu não foi a foto – a qual ele se saíra incrivelmente bem – mas sim o seu nome. Elliot Louis Michael Lestatth. Eu imaginava que o nome dele não seria só Elliot Lestatth, mas nunca me veio na cabeça que "Louis Michael" fariam parte.
– Cara, é sério que o seu nome é Elliot Louis Michael?!
– Ei! Não acredito que esqueci que tinha deixado minha licença aí, exposta. – respondeu Elliot tentando pegá-la de mim.
– Hahah, 'tá tudo bem. Gostei da combinação, mesmo não sendo muito comum nome composto por aqui. Tenho um amigo que é do Brasil e ele disse que é bastante comum por lá. Elliot Louis Michael – repedi para mim mesmo, saboreando cada sílaba. – Achei diferente, gostei.
– Hahaha que bom então. Mas e você, só tem Matthew no seu nome?
– Sim, sim. Matthew O'Downey. Mas meus pais pensaram em me dar o nome "Natan" Eu particularmente gosto do nome, é um palíndromo que significa "presente divino".
– E trocaria o seu nome?
– Ah não, definitivamente não! E você?
– Hm, talvez.
Depois disso ficamos em silêncio durante todo o trajeto. Não demorou nem três minutos e eu já tinha chego em casa. Eu tinha em mente simplesmente agradecer pela carona e já sair do carro, mas percebi que Elliot estava a fim de conversar quando assim que ele terminou de esterçar o carro para estacionar, desligou o motor. Eu estava nervoso e cansado demais para ficar tão próximo assim dele por mais do que alguns segundos.
– Bem, no final das contas a festa não foi tão ruim quanto eu imaginava. – disse Elliot.
– Mas também não foi tão bom quanto o Julian ficou falando que seria hahah.
– Isso é verdade haha. E então, já tem planos para as férias?
– Mais ou menos. Sair mais vezes, por algumas séries e livros em dia, seria mais isso mesmo. E você?
– Não sei ao certo, mas acho que descansar de tudo.
Voltamos para o silêncio. Olhei para a minha casa pela janela do carro, nenhuma luz acessa, apenas a da entrada e da garagem. Eu não sabia se era agora que eu me despedia e saia do carro, para voltar a ver ele, provavelmente, só depois das férias, ou o que. Até que do nada ele tira o celular do bolso dele e me entrega. "Salva o teu número aí", disse ele. Ainda sem reação, peguei o celular e salvei o meu número como O'Downey.
– Bem, eu te mando mensagem e daí vamos nos falando. – Ao terminar de falar ele deu uma piscadela só com um olho.
– Certo. Obrigado pela carona viu.
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O Último Pôr do Sol
Roman d'amourFalta uma semana para as férias de verão, o colégio começa a ficar entediante e Matthew O'Downey não vê a hora de poder aproveitar os seus dias com suas séries, livros e amigos... até conhecer Elliot Lestatth, um dos "famosinhos" do colégio. Rom...