Ícaro

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Em Ícaro, o recado era bem claro: o céu é dos deuses; a terra, dos humanos. Não tente perverter essa ordem!

Não adianta criar asas. A sua tecnologia é inútil. A sua ciência não basta. O céu é dos deuses; a terra, dos homens: não ouse perverter essa ordem.

Mas, e na Torre de Babel? A mensagem também não seria clara? O céu, também, não seria exclusividade divina; e a terra, condenação humana?

Talvez sim. Afinal, por que este homem que mata, rouba, discrimina; que engana, cobiça, vive de mentiras; porque este homem, na sua audácia, acha que merece o céu?

Mas, se há um deus e se há um céu (calma, é uma suposição), certamente homem nenhum haveria de merece-lo. Não seria uma torre ou um par de asas postiças mérito suficiente.

Sejamos sinceros: se há mesmo um céu e se há mesmo um deus, se há mesmo alguma verdade nessa centena de mitos, então esse homem, na condição que o vemos hoje, só poderia chegar à esse céu se o próprio deus o viesse buscar.

Então não seria uma história sobre o homem que tocou os céus, mas sobre o deus que tocou os homens.

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