Fantasmas

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Às vezes eu penso se sou agressivo demais. Cresci com pessoas à minha volta dizendo o quanto eu era diferente, estranho, o completo oposto do que um ômega deve ser. Apesar de estarmos em pleno século XXI, os valores da tal "família tradicional" continuam tendo bastante influência e, mesmo que a minha família aceite um casal homossexual, se eu aparecer lá com um beta, é capaz deles me trucidarem. Ok, talvez eu esteja exagerando, no máximo seria deserdado, o que não é de todo mal, mas querendo admitir ou não, precisava do dinheiro que me davam. 

Admiro o Tooru por conseguir se manter sozinho (mesmo tendo que deixar o filho com a minha avó), ele é forte. Mas eu não, não acho que conseguiria suportar tudo isso, gostando ou não, eu dependo da minha família, uma família que tenho vergonha de falar que é minha, que tenho medo e me odeio por isso, odeio por ser fraco a esse ponto, odeio-me por depender de pessoas como aquelas. Então por que sempre ouço me chamarem de assustador? De forte? De independente? Arrogante? 

Diferente? Sou, sim. Um diferente ruim? Às vezes me questiono se é isso mesmo. Arrependo-me de escolhas que fiz na minha vida? Claro, mas se tem uma coisa que sempre vou olhar para trás e sorrir, é quando faço algo pelos meus amigos, eles são meus bens mais preciosos, sem eles eu não estaria aqui, não seria nada.

Então, se estão me vendo arrastar Sawamura Daichi pelo pátio da faculdade, é por um bem maior.

- Estamos indo pra onde? - perguntava-me tentando acompanhar meu ritmo.

- Para um lugar longe de ouvidos curiosos.

- Entendi… Eu posso andar sozinho. - Olhei para o seu braço, onde tinha segurado e o arrastava até agora.

- Ah, é claro. - Soltei-o.

Assim que chegamos em um lugar que julguei discreto o suficiente, parei e me virei para ele, olhando-o mal-humorado.

- Olha, eu sei que você não gosta de alfas e tals… 

- Ômegas também - acrescentei.

- É, isso também. Mas eu não vejo o porquê de você estar tão irritado comigo.

- Não estou irritado.

- Sua expressão diz outra coisa… - murmurou. - Enfim, o que houve? - Cruzou os braços e estufou o peito tentando impôr uma posição de superioridade sem exalar muitos feromônios, já que sabia que eu não gostava e foi com esse ar superior (provavelmente uma farsa para disfarçar sua atitude defensiva) que comecei a me incomodar, eu não estava me impondo então por que ele tinha que se mostrar sobre domínio?

- Só quero falar sobre o que você viu sábado - disse sem elevar a voz.

- Sobre o Oikawa?

- Sim.

- Por que não foi ele que veio falar comigo? - perguntou tentando não parecer rude. Arqueei uma sobrancelha.

- Não importa, eu quis vir e você não tem nada a ver com isso.

- Ok, só diz logo. - Deu de ombros aparentando querer terminar aquilo logo, um desejo não muito diferente do meu.

- Indo direto ao ponto, imagino que você não seja burro o suficiente para não ter entendido o que aconteceu. - Permaneci falando num tom de voz ameno, o que certamente era estranho da minha parte.

- É claro que não, o garoto chamou o Oikawa de pai na minha frente.

- Sim, é… - Respirei fundo e desviei o olhar. - O que você quer?

- Hã?

- Você sabe… pra não contar. - Notei de canto de olho Daichi me olhar surpreso e fiquei mais nervoso. - Todo mundo tem um preço, me fala o seu.

Entre a Cruz e a Espada (Daisuga ABO)Onde histórias criam vida. Descubra agora